quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

"Alegria. A Felicidade Interior", de Osho


"Alegria. A Felicidade Interior" de Osho
11x19, 2018
220 Páginas


 "(...) Estar só é um estado mental no qual se está sempre com saudades de alguém. Ser solitário é um estado mental no qual se está sempre encantado consigo próprio. Estar só é um estado de infelicidade, ser solitário é um estado de êxtase. Quem está só está sempre preocupado, com saudades de qualquer coisa, a sentir falta de qualquer coisa, a desejar qualquer coisa. (...)" [p.154]

"(....) Estar só é ser dependente, ser solitário é a pura independência. O solitário sente que é o seu próprio mundo, a sua própria existência. (...)" [p.155]

"(...) Quem for completamente solitário só se pode sentir atraído por alguém que também seja um solitário. (....)" [pp.155 e 156]

"(...) dois amantes verdadeiros não ficarão face a face. Podem estar de mãos dadas, mas estarão a olhar para a Lua. Não estarão face a face, mas a contemplar algo juntos. (...) duas pessoas que estejam satisfeitas consigo próprias não se tentam usar uma à outra. Em vez disso, tornam-se companheiras de viagem; partem juntas em peregrinação. O objectivo é elevado e está longe. É um interesse comum que os junta. (...)"[p.157]

Estas foram algumas das passagens mais bonitas que encontrei neste livro, mais um dos de Osho que estará entre os meus preferidos, até porque defende algo tão fundamental como o facto da alegria ser algo interno, que vem directamente e só de nós, e não de nada exterior. 

Ao mesmo tempo, "Alegria - A Felicidade Interior" valoriza o ser solitário, sem criticar, o que nem sempre é compreendido da melhor forma pela sociedade. Ainda que o homem seja um animal social, o homem (e uns mais do que outros) precisa de estar sozinho e isso não significa que se seja anti-social nem bicho do mato. É uma necessidade de se estar em diálogo interno, a trocar ideias consigo próprio, sem interferência externa... Diria que isso faz falta a todos nós, individualmente, para que possamos ser inteiros e melhores quando estamos na companhia dos outros. 

Não menos importante, Osho apresenta, de igual modo, uma distinção entre prazer (fisiológico), felicidade (psicológica), alegria (espiritual) e êxtase (indivisível). Estes dois últimos são essenciais e totais quando se encontram/descobrem. 

Creio que estas são as ideias fundamentais deste livro, mas para quem estiver interessado, o melhor é ler mesmo e pensar por si. Vale a pena!

https://www.goodreads.com/review/show/3554627431

sábado, 17 de outubro de 2020

"Consciência. A Chave para Viver em Equilibrio", de Osho


"Consciência. A Chave para viver em equilibrio" de Osho
11x19, 2014
232 Páginas


Para aqueles que questionam muitas vezes se devem ler "O poder do agora" de Eckhart Tolle e/ou para aqueles que querem ler sobre a importância de viver no presente em consciência, escapando a Tolle, diria que "Consciência" de OSHO é sobejamente melhor... Se eu soubesse disto antes, não teria lido Tolle que, à medida que o tempo passa, vou percebendo que não faz de todo o meu género. 

"Consciência" está estruturado em quatro grande partes: Compreensão; Muitas doenças, uma receita; Consciência em acção; e Experiências na observação. Ainda que este não esteja entre os livros que mais gostei de OSHO, o que pode bem dever-se ao facto de ter lido Tolle pouco antes, foi uma leitura interessante e recomendável.  

https://www.goodreads.com/review/show/3462698882

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

O Poder do Agora, de Eckhart Tolle

"O Poder do Agora" de Eckhart Tolle
11x17
267 Páginas


É um 3,5 *

Porquê? 

Eckhart Tolle escreve ao longo de 267 páginas sobre a importância de nos focarmos no presente, no aqui e no agora, aceitando-o sem resistir, ouvindo mais o nosso corpo e menos a nossa mente (poluída e negativa, como refere várias vezes). Concordo, sim. E este é efectivamente um propósito nobre, bastante útil para uma sociedade que corre, corre sem parar (apesar da tua atual situação pandémica estar a transformar/alterar o significado de tempo e espaço) e, ainda para mais, para ansiosos. Foi isto que motivou a minha leitura de "O Poder do Agora".

O livro é composto por dez capítulos: 1- Você não é a sua mente, 2- Consciência: o caminho para sair da dor, 3-Entrar profundamente no Agora, 4-Estratégias da Mente para evitar o Agora, 5- O Estado de Presença, 6- O Corpo Interior, 7-Portais para o Não-Manifesto, 8 - Relacionamentos não iluminados, 9 - Para além da felicidade e da infelicidade há a paz, 10-O significado da Rendição. De todos o capítulo 7 foi o que mais nervos - literalmente - me causou porque me pareceu meio "pseudo-qualquer coisa", sendo que os quatro primeiros capítulos foram os mais proveitosos (e muito úteis) para mim (4/5*). Os seguintes repetiram muito do que já havia sido avançado anteriormente e isso aborreceu-me, tendo-me feito ansiar pelo fim rápido do livro. 

Também me aborreceu e aborrece o facto do autor ter escrito em formato pergunta-resposta. Creio que o leitor passava bem sem isso e a leitura tornava-se mais fluída. Daí que optei por ignorar as perguntas, lidas as páginas iniciais, e focar-me unicamente no que o Tolle escrevia como resposta.

Não gostei, de igual modo, da presença daquele sinal para parar onde o autor considerava que o leitor deveria reflectir mais. Ler é, para mim, um acto de liberdade e cada leitor tem a sua velocidade/o seu ritmo de leitura, devendo parar onde e como entender. Foi o que fiz. Nunca respeitei o sinal em causa. Não me fazia sentido.

Finalmente, tenho algumas reservas em relação ao facto de alguém se auto-intitular como "mestre espiritual"...

Em virtude de tudo isto, gostei, mas não consegui adorar. É, todavia, um livro útil - nos termos que referi - para reduzir o peso da ansiedade nos nossos dias e potenciar o nosso foco no presente.

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Die Muse von Wien, de Caroline Bernard

"Die Muse von Wien" de Caroline Bernard
ATB, 2018
479 Páginas


"Die Muse von Wien" ["A musa de Viena"] é um romance histórico centrado em Alma Schindler ou, talvez seja melhor dizer, em Alma Mahler-Werfel. Alma, a mesma mulher que levou o pintor expressionista Oskar Kokoschka a encomendar uma boneca à imagem e semelhança desta como forma de contornar o término da relação (https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-boneca-de-kokoschka.phtml). Foi, aliás, o livro de Afonso Cruz, "A Boneca de Kokoschka" que eu adorei (aqui: http://outraformadeviajar.blogspot.com/2019/02/a-boneca-de-kokoschka-de-afonso-cruz.html) o responsável por ter chegado a este livro de Caroline Bernard. 

Esta mulher austríaca parecia ter qualquer coisa de único e especial, inebriante, atraindo os homens da época (1879-1964) como se fosse "quase um feitiço", contando com três casamentos, todos eles com artistas: um compositor Gustav Mahler, um arquitecto Walter Gropius e um escritor Franz Werfel. Teve quatro filhos, mas só uma viveu muitos e longos anos, Anna Mahler, que se viria a tornar escultora. Viveu as duas grandes guerras mundiais. Sonhava ser compositora: tocava piano e escrevia composições musicais, embora tivesse abdicado disso aquando do casamento com Mahler, vinte anos mais velho e de quem seria musa inspiradora. 

Caroline Bernard foca-se nesta mesma relação de Alma com Gustav. E diria que foi uma interessante aposta, ao contrário do que poderia parecer à primeira vista. Sobretudo porque a personagem de Alma evolui de um romantismo meio que doentio e perdido (que me chegou a fazer questionar a minha escolha deste livro) para escolher amar alguém que a parece amar, diria mesmo que venerar desde o primeiro momento, Gustav. Homem distante e dedicado ao trabalho, o compositor nem sempre teve consciência de como essa forma de amar à distância magoava Alma... até o dia em que ela se começa a distanciar igualmente. 

Creio que esse distanciamento foi mesmo um "clique" na vida de ambos. Gropius (arquitecto fundador do Bauhaus) entra em cena, Freud (pai da psicanálise) também. E isto não é ficção, ainda que a partir desse mesmo momento o livro tenha ficado muito melhor, levando-me a mudar de opinião. 

De facto, uma das coisas que me fascina nos romances históricos é a possibilidade de aprender e reaprender História por um lado, e, pelo outro, aprender com a vida já vivida de facto dos outros. Aqui não só nos cruzamos com nomes imponentes do meio artístico austríaco, como também com o mundo complexo das relações e diferentes formas de amar: uma forma de amar à distância compreendida com mais comunicação e alguma compaixão.

Neste sentido, o grande trunfo de Bernard é mesmo a riqueza emocional deste livro e das vidas vividas que lhe dão vida e intensidade. Não dá para ficar indiferente a esta relação tão especial ao ponto de Alma nunca mais ter abandonado o apelido de Gustav, mesmo depois da morte deste. 

Gostei... E principalmente porque como diz João Tordo (não exactamente por estas palavras), este livro põe-nos o dedo na ferida... Emoções, emoções.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Atreve-te a mudar, de Diana Gaspar


"Atreve-te a mudar" de Diana Gaspar
Manuscrito, 2019
172 Páginas

"Atreve-te a mudar" pode muito bem figurar entre aqueles livros que se mantêm na nossa cabeceira e a razão é simples: a mudança é parte essencial da vida. E querendo ou não, mais tarde ou mais cedo, somos impelidos à mudança, qualquer que ela seja. Mudar significa transformar. Significa agir e escapar ao "simples" modo de sobrevivência. 

Dividido em nove capítulos (1- Necessidade de mudar; 2-Sabes o que queres mudar?; 3-Cria a tua realidade; 4 - Abdica da opinião dos outros; 5- Frustrações e fracassos - aceitar e aprender; 6 - Paciência - a chave da mudança; 7 - Cuida de ti; 8 - Age com determinação e coragem; 9 - Um dia de cada vez), Diana Gaspar leva-nos a reflectir sobre a importância da mudança e de que forma a mesma pode ser potenciada e gerida.

A meu ver o livro está bem estruturado e organizado. Gostei bastante do que li. Contudo, penso que a autora poderia incluir as referências bibliográficas no fim do livro, sobretudo para aqueles que como eu ficam com interesse em explorar e aprofundar determinado tópico e/ou conhecer este e aquele autor directamente. 

domingo, 26 de julho de 2020

Liberdade - A Coragem de ser Genuíno, de OSHO


"Liberdade. A Coragem de ser Genuíno" de Osho
11x19, 2017
209 Páginas



A verdadeira Liberdade não é "de", é "para". É a Liberdade para sermos nós próprios e isso significa responsabilidade. 

Nesta linha, Osho distingue um rebelde de um revolucionário, sendo que o rebelde, quando comparado com o revolucionário, é livre de facto. "Um rebelde é alguém que não reage contra a sociedade, que compreende todo o seu jogo e simplesmente desliza para fora dela. Ela torna-se irrelevante para ele. Ele não é contra a sociedade. E essa é a beleza da rebelião: é a liberdade. O revolucionário não é livre. Ele está constantemente a lutar contra alguma coisa (...)" (p.71)

Outra distinção igualmente importante é que é feita entre reacção e acção. Acção é Liberdade. Reacção não. Acção está para o rebelde, assim como a reacção está para o revolucionário. E está tudo dito. 

Diria que um dos pontos altos de "Liberdade. A Coragem de ser Genuíno" é, para mim, a abordagem que o autor faz da evolução espiritual, recorrendo a Friedrich Nietzsche e a "Assim Falava Zaratustra". Deste modo, numa primeira fase, o homem será camelo (assimiliação), depois leão (independência) e numa terceira fase, criança (criatividade). Nem todos chegam à fase da criança. Osho aprofunda e detalha muito mais cada uma das fases e, em certa medida, faz uma interpretação  e análise muito própria, extremamente interessante. 

Gostei bastante. Talvez ainda mais do que de "Criatividade. Libertar Forças Interiores". "Liberdade. A Coragem de ser Genuíno" trouxe-me mais novidade, análise e interrogações. E deixou-me um sem número de vezes a pensar no que tinha acabado de ler...

domingo, 12 de julho de 2020

Criatividade - Libertar as Forças Interiores, de OSHO

"Criatividade - Libertar as Forças Interiores" de OSHO
11X17, 2020
207 Páginas


Na contracapa diz "Este livro é um verdadeiro manual para aqueles que querem aprender a ser mais criativos, lúdicos e flexíveis em todos os aspetos das suas vidas". E eu tenho alguma dificuldade em encarar o livro "Criatividade - Libertar as forças interiores" de Osho dessa forma, pois o autor não gosta habitualmente de oferecer verdades eternas aos seus leitores, preferindo ao invés deixar-nos a pensar pela nossa própria cabeça e, além disso, entendo que por essa mesma razão tenhamos aqui mais um ensaio, uma espécie de hino à criatividade se preferirmos, do que propriamente um manual. 

Adorei ler este livro. Gostei até muito mais do que estava inicialmente a prever. Revi-me em muito do que li. Duas das passagens mais bonitas que li acerca do criador (no sentido daquele que tem criatividade) e que me dizem tanto são as seguintes: 
1."(...)Um criador diverte-se. Não sabe qual o caminho correto para fazer uma coisa, por isso continua a procurar e a buscar vezes sem conta em direções diferentes. Muitas vezes movimenta-se na direção errada, mas, para onde quer que ele se mova, aprende. Fica cada vez mais rico. Faz algo que nunca ninguém fez antes. Se ele tivesse seguido o caminho correto, não teria sido capaz de o fazer. (...)"

2."(...) O criador não pode ser eficiente, tem de continuar em experimentações. O criador não pode assentar em lado nenhum. O criador é um vagabundo que leva a tenda sobre os ombros. Sim, pode fazer uma visita para pernoitar, mas de manhã parte de novo. É por este motivo que lhe chamo vagabundo. Ele nunca é um chefe de familia. Não consegue assentar, pois isso para ele é como a morte. Está sempre pronto a correr um risco. O risco é o seu caso de amor. (...)".

E teria muitas mais partes para destacar neste livro. Porém, para quem se interessar pelo estilo e pelo tema, o melhor é mesmo lê-lo. É muito bonito e entra para a categoria dos meus preferidos de Osho. 



segunda-feira, 29 de junho de 2020

Die Zukunft nach Corona, de Matthias Horx

"Die Zukunft nach Corona" de Matthias Horx
Econ, 2020
139 Páginas


Escrito pelo fundador do Zukunftsinstitut (instituto do futuro - é um think thank privado destinado a realizar estudos e a avaliar tendências de evolução futura), sediado em Frankfurt am Main, o livro propõe-se a abordar em que medida é que o Coronavírus poderá mudar a nossa sociedade, os nossos pensamentos e as nossas relações comerciais. Trata-se de uma crise profunda, uma crise de várias camadas, capaz de afectar todos os níveis da nossa existência e acabar com o mundo, como nós o conhecemos. 

Composto de 12 capítulos, diria que Horx cumpre bem com o objectivo inicial a que se propõe. Porém, um estudo mais aprofundado a vários dos documentos produzidos pelo respectivo instituto a propósito do futuro pós Covid, e estou a recordar-me, por exemplo, de dois documentos em particular (a cenarização evolutiva da sociedade pós Covid e a economia pós Covid), levam-me a achar que, ainda assim, o livro ficou aquém do que eu esperava. 

Diria também que tem partes muitissimo inteligentes sobre o modo como se pode ver o problema e outras cuja lógica e relação com estas não se compreende assim tão bem. E isso aborreceu-me um pouco. Daí que tenha ficado com a sensação de que ler os tais documentos, "white papers", como o Zukunftsinstitut a eles se lhes refere, revelou-se sobejamente mais enriquecedor e proveitoso para mim. Até porque terminei a leitura com a sensação de "superficialidade" e isso não é nada bom, ainda para mais, tratando-se do assunto em causa... 

domingo, 31 de maio de 2020

Coragem. A alegria de viver perigosamente, de OSHO


"Coragem. A alegria de viver perigosamente" de OSHO
11x17, 2018
206 Páginas

"(...)A via do coração é a via da coragem. É viver em insegurança; é viver em amor e confiança; é movimentar-se no desconhecido. É deixar o passado e permitir que o futuro seja. Coragem é movimentar-se por caminhos perigosos. A vida é perigosa, e só os cobardes evitam o perigo - mas é porque eles já estão mortos. Uma pessoa que está viva, viva de verdade, viva com vitalidade, estará sempre a mover-se no desconhecido. Existe aí um perigo, mas essa pessoa correrá o risco. O coração está sempre pronto a correr riscos, o coração é um jogador. A cabeça é um negociante. (...) está sempre a calcular - é astuta. (...)" [p. 18]

Esta é uma das passagens que, para mim, melhor espelham o que podemos ler neste livro de OSHO, intitulado "Coragem: A Alegria de Viver Perigosamente".  Mais um livro destinado a agitar ideias e a questionar aquilo que temos como verdade, cómodo e confortável. 

Não é objectivamente sobre o medo (o autor tem um especificamente sobre o tema, porém a edição traduzida para língua portuguesa encontra-se esgotada) que OSHO aqui escreve, mas é sobre enfrentar o medo, ter coragem... Coragem essa que mais não é do que seguir o coração. 

Gostei muito mais uma vez, ainda que tenha aqui encontrado uma parte ou outra que me tenha agradado menos. Porém, isso não impediu que tivesse acabado a leitura de mais este livro com satisfação, que tivesse ficado a pensar no tema depois e que queira ler mais livros do autor. 

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Frente ao Contágio, de Paolo Giordano


"Frente ao Contágio" de Paolo Giordano
Relógio D' Água, 2020
65 Páginas



"Frente ao Contágio" de Paolo Giordano é daqueles livros que, daqui a vários anos (provavelmente quando nenhum de nós existir mais), constituirá um importante testemunho do que foi viver uma pandemia (com as dimensões desastrosas que esta já leva...) em 2020, no século XXI. 

Abdicando de parte dos direitos de autor (que serão entregues para a gestão da emergência sanitária e para a investigação científica), o autor italiano - de Turim, no norte de Itália - aborda muitos dos comportamentos/sentimentos que muitos de nós já testemunharam directa ou indirectamente ao longo desta crise. E ainda que, sob esse ponto de vista, "Frente ao Contágio" não apresente nada de novo, dá voz escrita e eterna aos tempos estranhos que correm. 

Giordano, vencedor de dois importantes prémios com a obra "A Solidão dos Números Primos" (Prémio Strega e o Prémio Campiello Opera Prima, ambos em 2008), tem em "Frente ao Contágio" uma escrita que é um misto de estilo literário com estilo científico, sem abusar de nenhuma delas e muito menos da última. Diria que tem um jeito muito próprio de escrever que, em certa medida, deixa transparecer a sua formação de base (é Doutor em Física).

Gostei, porém, muito mais da primeira metade do livro do que da segunda (que me pareceu algo superficial) e, no que respeita à primeira um dos textos que mais me impressionou, por me recordar um video que vi quando a pandemia chegou a Portugal em força (pouco antes de ser declarado o primeiro Estado de Emergência) foi o do R0, a propósito da forma como o contágio se processa, recorrendo aos berlindes como exemplo. Aliás, impressionou-me tanto que o deixei quase todo sublinhado!

Aqui fica uma pequena passagem: (...)" Imaginemos que somos sete mil milhões e meio de berlindes. Estamos suscetíveis e parados, quando de súbito um berlinde infetado avança sobre nós a toda a velocidade. Este berlinde infetado é o paciente zero e tem tempo para atingir dois outros berlindes antes de parar. Estes últimos ressaltam e atingem outros dois na cabeça. Uma e outra vez. Uma e outra vez. Uma e outra vez. (...)" (p.17)

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Assim falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche

"Assim falou Zaratustra" de Friedrich Nietzsche
Publicações Europa-América, 2008
324 Páginas


"Assim falou Zaratustra" é, segundo consta, a "Magnum Opus" de Friedrich Nietzsche, tendo sido publicada pela primeira vez em 1883. 

Escrito em forma de poema (filosófico como figura e bem na capa da edução que li da Europa-América), este é o primeiro livro que leio de Nietzsche, embora já me tenha cruzado com o seu pensamento e episódios relativos à sua vida por diversas vezes. 

É preciso gostar de pensar. É preciso gostar de filosofia para ler este livro até ao fim e apreciar. E claro ter algum interesse em Nietzsche. 

No que me respeita, devo dizer que adorei não só a forma como está escrito, como também o conteúdo apresentado... com ideias muito pertinentes... e realistas! É soberbo! Li-o agora com muito mais bagagem (em todos os níveis) do que quando o quis ler anteriormente numa primeira tentativa há vários anos atrás. 

Um dos aspectos que me chamou particularmente à atenção foi o facto de Zaratustra descer da montanha, e regressar várias vezes à montanha, após uma temporada de dez anos desfrutando aí da solidão. Fez-me lembrar "A Montanha Mágica" de Thomas Mann. Pareceu-me, aliás, quanto a este aspecto um eco. Em ambos os casos, a montanha surge como um simbolo de transcendência, de encontro do céu e da terra (alma e corpo?) e um elemento importante da cultura germânica. 



quarta-feira, 6 de maio de 2020

Marlene und die Suche nach Liebe, de C. W. Gortner

"Marlene und die Suche nach Liebe" de C. W. Gortner
Aufbau Verlag, 2019
544 Páginas



Existente também em língua inglesa, este é um romance histórico acerca da actriz e cantora alemã Marlene Dietrich. Não é uma biografia. 

Ao contrário do que se poderia eventualmente esperar, as suas 500 e tal páginas não fazem deste livro um calhamaço aborrecido, monótono e indigesto. Aliás, embora tenha sido forçada a fazer muitas paragens na sua leitura (por razões que são, na verdade, alheias à qualidade e dimensão de ,,Marlene und die Suche nach Liebe" [Marlene e a procura de amor]), nunca perdi "o fio à meada", o interesse na evolução da história e nos altos e baixos pelos quais Dietrich passa ao longo da sua intensa e agitada vida. 

Dietrich vive as duas Guerras Mundiais. Perde o pai cedo. Tem uma vida amorosa atribulada. Não quer ser violinista como a mãe tanto desejava e tem com ela uma relação algo dificil. Experimenta o fracasso, depois o sucesso. Deixa a Alemanha e vai para os EUA, onde atinge o auge da sua carreira...

A escrita é bastante agradável e o tempo em que decorre é-me especial. O autor descreve e aborda as mudanças ocorridas na sociedade e na vida política da Alemanha com bastante detalhe, sem ser exaustivo. O resultado é um romance histórico interessante que me ficará certamente na memória, como aliás ficou, reparei agora, um outro livro que já li anteriormente do mesmo "Mademoiselle Chanel" (aqui: https://outraformadeviajar.blogspot.com/2017/04/mademoiselle-chanel-de-cw-gortner.html). 

Gostei muito.

domingo, 3 de maio de 2020

Encontros com Pessoas Extraordinárias, de OSHO


"Encontros com Pessoas Extraordinárias" de OSHO
11X17, 2018
331 Páginas

"Encontros com Pessoas Extraordinárias" é um livro sobre as ideias centrais de um conjunto de pessoas que Osho considerou como "mais notáveis do mundo" e que, na sua perspectiva, passam habitualmente ao lado dos historiadores. São-nos igualmente dados a conhecer alguns aspectos da vida destas pessoas e, neste sentido, este pode ser um livro interessante para quem, como eu, gosta de ler biografias e romances históricos. 

Também acredito ser uma boa opção para os amantes de filosofia como eu, até porque entre essas pessoas que o autor considerou como extraordionárias encontram-se vários filósofos como Sócrates, Heraclito e Friedrich Nietzsche. Para aqueles que não forem amantes de filosofia, mas tenham curiosidade acerca destas figuras e outras, vale a pena na mesma ler este livro. 

Gostei bastante do que aqui li, tendo tido oportunidade de rever alguns conhecimentos e adquirir outros... novos. Uma das figuras que continua a despertar a minha curiosidade há já vários anos, e Osho conseguiu acicatar ainda mais essa curiosidade, é Nietzsche. Parece-me que é desta que agarro e leio mesmo sem largar "Assim falou Zaratustra"!



segunda-feira, 27 de abril de 2020

Die missbrauchten Liebesbriefe, de Gottfried Keller


"Die missbrauchten Liebesbriefe" de Gottfried Keller
Holzinger, 2018
68 Páginas

Gostei, mas não consegui adorar...
Gosto da escrita de Gottfried Keller e da forma como costuma criticar a sociedade. Porém, o argumento desta história não é daqueles que me façam ler um livro, a menos que seja mesmo "obrigada a", como era aqui o caso.

A ideia é interessante, sim. Um negociante quer ser escritor à força e lembra-se de obrigar a mulher a escrever-lhe cartas de amor enquanto ele se ausenta por determinado tempo em viagem. Não lhe pergunta se ela o quer fazer, sequer se gosta... Ela sente-se desconfortável com a situação sem lhe dizer e decide "pedir ajuda" ao vizinho que é professor. Não lhe conta, todavia, que as cartas que lhe está a mostrar são escritas pelo marido dela e ele pensa, portanto, que é ela que as está a escrever para ele... E são cartas de amor. Presumo que não seja necessário avançar muito mais porque já se está mesmo a ver que esta omissão vai "complicar" a vida destas três pessoas envolvidas...

O desenvolvimento da história seguidamente é, a meu ver, um tanto ao quanto superficial. A dada altura entram mais personagens na história e o casal inicial toma uma posição a modos que secundária. O desfecho é feliz, pois é. Contudo, terminado o livro fiquei com aquela sensação de "sim, está bem". É um livro morno, diria. Daqueles que não aquece nem arrefece. E isso é coisa que me chateia... Um bocadinho. Não queria um melodrama porque odeio isso. Aliás, nunca gostei desse género de livros. Queria isso, sim, algo que me deixasse a pensar, que me agitasse as ideias e que me fizesse sentir algo com a leitura. E lamento porque isso não foi conseguido desta vez. 

Portanto, é um gostei, mas... sim, está bem.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

1984, de George Orwell


"1984" de George Orwell
Antígona, 2015
327 Páginas




Costuma dizer-se que à terceira é de vez e parece ter sido o caso. Foi a terceira vez que peguei em "1984" para o ler e desta li-o mesmo todo. Parece que estava na hora...

É um livro extremamente interessante. Porém, devo dizer que muito do que ali está escrito não é nem foi novo para mim... Houve um grande sentimento de "já vi isto", "isto é-me familiar", porventura motivado pelo facto de me terem falado vários vezes nele e/ou pelo facto de estar directamente relacionado com a minha área de formação. 

Num certo sentido, e mesmo que com outros contornos, "1984" é agora (no tempo), sim (e esta ideia não é minha, mas eu concordo com ela). Basta pensarmos por instantes em todo o controlo, e em certa medida falta de privacidade, que o uso das tecnologias de informação/comunicação de forma massiva nos pode proporcionar...

Discordo, todavia, da perspectiva que a dada altura Orwell parece sugerir quando, de alguma forma, defende a ideia de que nem o pensamento é livre. O pensamento é, no meu entender, composto por uma parte relativa àquilo que eu penso (na minha cabeça e que pode incluir aquilo que os outros pensam e aquilo que eu penso efectivamente) e aquilo que eu exprimo, sendo que aquilo que eu exprimo pode incluir ou não aquilo que penso. E havendo um auto-bloqueio em exprimir aquilo que se pensa, não há nem pode haver controlo total sobre o pensamento. Será que nessa circunstância se pode considerar que o pensamento é livre? Uma parte sim, outra não. Posso pensar o que quiser, mas não posso exprimir o que quiser. ["Nada nos pertencia, excepto os poucos centímetros cúbicos no interior do nosso crânio" (p.30).]

Sem me querer alongar mais, até porque considero que o melhor mesmo é lerem "1984" e tirarem as vossas próprias conclusões (vale a pena), saliento a repetição sucessiva desta ideia com a qual não poderei estar mais de acordo:
"Guerra é Paz. 
Liberdade é Escravidão.
Ignorância é Força."

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Compaixão, de OSHO




"Compaixão" de OSHO
11 x 17, 2019
223 Páginas 



"Compaixão" é o quinto livro que leio de OSHO e é também mais um que posso afirmar, sem margem para dúvidas, ter adorado!

Tenho-o cheio de anotações laterais nas páginas, sublinhados a lápis e sinais mais quando encontro algo inquietante que me tira do sério, desorienta durante uns momentos para depois me fazer recuperar/encontrar o (meu) norte. E isto é daquelas coisas maravilhosas que os livros de OSHO têm: deixa-nos a pensar pela nossa própria cabeça não sem antes nos fazer atravessar uma espécie de "tempestade". 

Deixo-vos apenas algumas partes para inspirar: 
"(...)A compaixão significa basicamente aceitar as fraquezas e as debilidades das outras pessoas, sem esperar que elas sem comportem como deuses". (p.15)

"(...) A compaixão é muito compreensiva. É a compreensão mais refinada que o ser humano pode ter." (p.20)

(...)"a compaixão não é amor no seu sentido corrente e, contudo, é amor no seu verdadeiro sentido. A compaixão só dá, não pensa em receber nada em troca. (...) Quando damos sem pensar em receber algo em troca, recebemos mil vezes mais. (...) E quando  queremos receber demasiado, na verdade apenas nos desiludimos e não recebemos nada. No final, só recebemos desilusão. (...)" (p.61)


https://www.goodreads.com/review/show/3113774611

domingo, 5 de janeiro de 2020

The Assertiveness Workbook, de Randy J. Paterson


"The Assertiveness Workbook" de Randy J. Paterson
New Harbinger Publications, 2000
216 Páginas


Contrariamente a "The Assertiveness Guide for Women" de Julie de Azevedo Hanks, este livro baseia a sua argumentação na existência de quatro grandes estilos de comunicação: o passivo, o agressivo, o passivo-agressivo e o assertivo. Segundo o autor, uma mesma pessoa pode usar qualquer um destes quatros estilos, dependendo da circunstância, embora, por norma, possa existir maior tendência e/ou predisposição a usar mais um dos quatro. 

"The Assertiveness Workbook" divide-se em duas grandes partes: uma primeira dedicada à compreensão da assertividade e uma segunda dedicada a tornar-se assertivo(a). 

Um aspecto transversal a todo o livro é o questionamento e a avaliação constantes que o autor nos propõe. Daí ser um "workbook", cujo objectivo é colocar/fazer o leitor exercitar e praticar constantemente até porque a comunicação e o comportamento assertivos para se tornarem hábitos carecem de prática!

O autor é muito objectivo, directo e neutro, o que considero essencial num livro que se pretende científico.