sábado, 27 de outubro de 2018

Pátria, de Fernando Aramburu


"Pátria" de Fernando Aramburu
 Publicações Dom Quixote, 2018
719 Páginas

Duas familias que se afastam porque uma é a da vítima e a outra a do terrorista da ETA. Uma familia que não aceita a perda e não quer desculpar. A outra que lida no seu interior de forma diferente e não consensual com o facto de ter um terrorista/defensor da independência do País Basco. 

O autor acompanha a evolução de cada um dos membros destas familias durante um período de tempo considerável o bastante para tirarmos as nossas próprias conclusões acerca do poder transformador (às vezes até destruidor) que a violência ("contra o poder instalado") tem na vida diária do comum dos mortais... Ao mesmo tempo, leva-nos a reflectir acerca da vulnerabilidade que a rotina pode acarretar para o ser humano, sobretudo quando se vive num ambiente facilmente "inflamável" de fervoroso nacionalismo. 

No meu entender, o facto do autor viver há vários anos fora de Espanha e do País Basco pode conferir-lhe maior liberdade na forma como aborda a questão independentista basca e a actuação da própria ETA. Por outro lado, isso não impede a eventual existência de uma posição que ele tenha sobre este mesmo problema e que aqui se encontre, de algum modo, reflectida; diria que isso acaba por ser inevitável, mas não entendo que tal domine a obra; antes pelo contrário... Até porque aqui encontramos os dois lados: o da vítima e o do "agressor".

Gostaria também de destacar que esta obra, tão amplamente publicitada no inicio do ano em Portugal, constitui um interessante e excelente retrato de uma realidade muito próxima de nós e, diria que, em alguns casos muito familiar..! Não será certamente à toa que a obra foi premiada com o Prémio Nacional de Narrativa, o Prémio Nacional da Crítica e o Prémio Euskadi de Literatura.

https://www.goodreads.com/review/show/2447685529