domingo, 28 de agosto de 2016

A Última Valsa de Chopin, de José Jorge Letria

"A Última Valsa de Chopin" de José Jorge Letria
Oficina do Livro, 2010
167 Páginas



Sem se tratar de uma biografia no sentido habitual, "A Última Valsa de Chopin" foca-se na vida do compositor polaco Frédéric Chopin (que viveu praticamente toda a sua vida em Paris, onde também viria a morrer, sempre com Varsóvia no coração) recorrendo a uma abordagem lírica, quase musical, capaz de colocar o leitor a lê-la como se estivesse a ouvir música. 

José Jorge Letria, pelo que se percebe um grande fã deste polaco, escreve como que em jeito de conversa com ele. Denunciando as suas mágoas, as suas paixões, as suas fragilidades, as suas qualidades e a enormidade do seu talento, o autor apresenta-nos uma obra que facilmente agradará aos fãs de Chopin, mas também àqueles que ainda se tenham cruzado pouco com a obra e vida deste.

É um livro bonito, embora com alguma carga dramática, própria das circunstâncias em que costumam viver os grandes génios. Lê-se depressa, ainda que sem pressas...!

*
"Diziam os que mais te admiravam que em ti nunca a técnica foi mais poderosa e insinuante que a essência da arte. A arte era o fim e a técnica apenas o meio. Eis a razão pela qual detestavas o virtuosismo quase circense de quem só te satisfazia quando deixava o público boquiaberto com o incontinente galope das notas no branco-negro das teclas. E que ninguém se atrevesse a convidar-te para tocar se não assegurasse a presença na sala de um piano Pleyel, o único capaz de vestir a tua música com todos os timbres e nuances que para ela imaginaras. Se não houvesse um disponível, então que alguém instalasse o teu na sala." (p.82)

https://www.goodreads.com/review/show/1738386857

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Eu Malala, de Malala Yousafzai e Christina Lamb


"Eu, Malala" de Malala Yousafzai e Christina Lamb
Editorial Presença, 2015
351 Páginas


"Eu, Malala. A minha luta pela liberdade e pelo direito à educação" conta na primeira pessoa a história de Malala (e da sua familia), a jovem paquistanesa que venceu o Prémio Nobel da Paz em 2014 ao defender o direito de todos (mulheres incluídas) à educação. Ter acesso à educação é ter acesso à liberdade. 

Malala não se opõe ao Islamismo, mas sim à falsa interpretação que é feita do Alcorão e da sua religião, em particular pelos Talibãs (embora não só). Gosta do seu país (ainda que seja muito crítica quanto aos seus governantes), o Paquistão, contando-nos vários aspectos da sua História e Cultura e dos pastós

O episódio em que é alvejada pelos Talibãs, quando regressava da escola, e tudo o que sucedeu seguidamente é também abordado na obra de Malala que aspira a ser política, uma nova Benazir Bhutto... 

Gostei da obra. Pude rever e revisitar alguns aspectos da História do Paquistão que já conhecia e aprender outros. Fiquei a conhecer Malala um pouco melhor, que tem efectivamente uma história muito interessante, (muito) influenciada e apoiada pelo pai. Continuo, contudo, a repudiar o tratamento e a forma como as mulheres são tratadas e encaradas em países como o Paquistão. Para mim, é humanamente incompreensível o "desprezo" que lhes é conferido, a dependência em relação a uma figura masculina (sempre), entre outras coisas... 

Se recomendo a sua leitura? Sim, claro. É fundamental conhecer outras realidades, mesmo que nem sempre concordemos com elas. 

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"- Peguemos nos nossos livros e nas nossas canetas. São as nossas armas mais poderosas. Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo." (p.333)

https://www.goodreads.com/review/show/1708582001?book_show_action=false

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O Inocente, de Ian Mc Ewan



"O Inocente" de Ian Mc Ewan
Gradiva, 2005
296 Páginas


A história de "O Inocente" passa-se em Berlim dos anos 50, sobretudo em torno de Leonard, um jovem inglês inexperiente, e Maria, uma alemã divorciada, metendo pelo meio muito suspense e alguma (pouca) espionagem, alguma História decorrente da ocupação da Alemanha e de Berlim pelos ingleses, franceses, americanos e russos. 

Se gostei? Gostei, mas ainda continuo a gostar mais de "Expiação". "O Inocente" só me conseguiu prender mais às suas páginas a partir do momento em que a personagem de Maria entra na história e, depois mais adiante, já depois de ter lido mais de metade da obra, quando o passado desta e o regresso do seu ex-marido irá "mexer" com a vida de Leonard e o próprio desfecho. 

Para além de não ter apreciado o modo como a história termina, senti que lhe faltou qualquer coisa... Qualquer coisa que mexa de tal maneira com as emoções do leitor, que torne a obra inesquecível. Isso não se verificou. Aliás, o mais próximo que estive disso foi quando Leonard e Maria decidem pôr termo, a sério, às aparições do ex-marido desta. À parte disso, senti que tudo me passou um pouco ao lado...! Sem grandes emoções, sem grandes sensações...

https://www.goodreads.com/review/show/1701766801?book_show_action=false

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Não te deixarei morrer, David Crockett, de Miguel Sousa Tavares


"Não te deixarei morrer, David Crockett" de Miguel Sousa Tavares
Clube do Autor, 2016
218 Páginas


Para quem aprecia tanto como eu o som do mar, do rio e do vento, os momentos solitários de introspecção, as pequenas-grandes coisas desta vida e tem em Sophia de Mello Breyner Andresen (sua mãe) uma das suas escritoras favoritas vinda das memórias de infância, é impossível não gostar do estilo de escrita adoptado por Miguel Sousa Tavares quando decide escrever um livro de crónicas e contos. 

Este é o segundo que leio do estilo, quarto que leio do autor e posso dizer que adorei. Valeu a pena ter desejado tanto que fosse feita uma nova edição do "Não te Deixarei Morrer, David Crockett" e cruzar-me físicamente com ela há dias. Valeu mesmo muito. 

Na verdade, acho que tudo o que eu escrever sobre a obra ficará aquém da imensa paz de espírito e sensação de plenitude com que fiquei quando a li...! Recomendo, recomendo e recomendo. 
*
"E foi assim que descobri que todas as coisas continuam para sempre, como um rio que corre ininterruptamente para o mar, por mais que façam para o deter. 
Sabes, quem não acredita em Deus, acredita na eternidade das pedras e não na dos sentimentos; acredita na integridade da água, do vento, das estrelas. Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que para sempre ouviremos o som da água no rio onde tantas vezes mergulhámos a cara, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas que tantas vezes olhámos o céu e interrogámos o seu sentido. Nisto eu acredito: na veemência destas coisas sem princípio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos. (...)"
[Miguel Sousa Tavares, "Não te Deixarei Morrer, David Crockett", pp.32 e 33]

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