terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

A Terra de Ana, de Jostein Gaarder


"A Terra de Ana" de Jostein Gaarder
Editorial Presença, 2017
182 Páginas


Na linha da tradição norte-europeia, Jostein Gaarder serve-se do tema do clima e em particular das alterações climáticas para escrever este seu livro, cruzando o presente e o futuro como passado e como presente respectivamente. 

A grande mensagem que penso que Gaarder aqui pretende transmitir relaciona-se com o facto de todos sermos responsáveis por aquilo que está a acontecer no nosso planeta e com as espécies animais e vegetais. E seremos tão responsáveis por aquilo que deixaremos às gerações vindouras quanto o são as gerações passadas por aquilo que nos deixaram a nós. Vale a pena pensar nisto!

Gostei de "A Terra de Ana", mas estava à espera de qualquer coisa menos leve... Qualquer coisa ao estilo de "A Rapariga das Laranjas", "O Enigma e Espelho", só para dar alguns exemplos. A verdade, porém, é que, tanto quanto percebi, este livro enquadra-se na colecção juvenil e, portanto, isso justifica o facto de ser muito mais leve do que é habitual neste autor, caracterizado por ter como temáticas a relação entre a vida e a morte e recorrer ao pensamento dos filósofos com frequência nos seus livros. 

https://www.goodreads.com/review/show/1912482287

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Um Arbusto no Olhar, de Álvaro Giesta



"Um Arbusto no Olhar" de Álvaro Giesta
Calçada das Letras, 2015
85 Páginas


"Um Arbusto no Olhar" foi uma feliz incursão ao mundo da poesia. Ainda não tinha lido nada de Álvaro Giesta antes desta obra e posso dizer que gostei muito do que li. É exactamente deste tipo de poesia que eu gosto...

E que poesia é esta? 

O autor escreve sobre a natureza. São frequentes as referências ao rio, ao sol, às pedras, à paisagem verdejante; aos quatro elementos (terra, ar, fogo e água). Álvaro Giesta escreve sobre fazer poesia, sobre a vida. Recorre ao corpo da mulher (e em alguns casos ao do homem) para falar do nascimento do rio que corre. 

O resultado é uma leitura que transmite paz, tranquilidade e que nos transporta para fora das quatro paredes sem mais demoras, recordando-nos o porquê de gostarmos de poesia. É a beleza da simplicidade, o prazer da intensidade... que as palavras nos permitem experimentar quando usadas na exacta medida e no momento certo...!

*

"Parai/
e dizei-me o que há de mais puro/
no coração ávido que anseia a água da vida/
e o ser; /
senão a poesia" (p.81)


https://www.goodreads.com/review/show/1912486799

O Jogador, de Fiódor Dostoiévski



"O Jogador" de Fiódor Dostoiévski
Editorial Presença, 2016
165 Páginas


Como o próprio título da obra indica,  a história de "O Jogador" centra-se em torno do jogo e do desejo, por vezes, quase cego de obter dinheiro, muito dinheiro, sem grande esforço. Enriquecer por apostas na roleta, viciados na possibilidade de ganhar tudo e mais alguma coisa e/ou ficar sem nada porque se apostou tudo e a sorte foi-se. 

A obra é pequena, mas a mensagem passa. Sente-se a ganância, a paixão, o interesse e a sua ausência, o amor e o desamor entre as personagens a olho nu. É interessante ver desfilar ao longo desta breve e não menos intensa história (ao contrário do que sucede muitas vezes com os livros mais pequenos) algumas caracteristicas bem feias da nossa sociedade...!

Gostei da escrita e do estilo de Dostoiévski, sendo que fiquei com interesse de ler mais obras deste autor russo. 

https://www.goodreads.com/review/show/1902333717

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

O Almirante Português, de Jorge Moreira Silva

"O Almirante Português" de Jorge Moreira Silva
Marcador, 2015
286 Páginas

Ler "O Almirante Português" foi uma lufada de ar fresco não só por causa do período histórico em que esta história se passa (no tempo de Napoleão) como também por toda a terminologia e contexto navais da época (ainda que alguns se utilizem ainda hoje). 

Gostei também da exploração que aqui é feita da relação entre portugueses e italianos, entre portugueses e franceses (uma relação complicada, sendo que o apoio aos ideais de Liberdade levava à morte), e entre portugueses e ingleses (o papel da aliança com Inglaterra, apesar da mesma nem sempre ser consensual). Igualmente interessante foi a apresentação da figura do Almirante inglês Nelson, mais conhecido pela sua participação contra as Guerras Napoleónicas, de uma forma mais humana (o que permite conhecer alguns dos seus defeitos, no meu entender), como o próprio autor observa em "Explicação aos leitores", contrastando com a idolatria que habitualmente se faz ao mesmo. 

Quanto à escrita nada a apontar. Este romance histórico além de estar muito bem escrito, permite-nos uma leitura fluída e, por isso mesmo, conseguiu prender-me a atenção desde o início. Há, todavia, um aspecto que poderia ser tido em maior atenção num próximo romance e que se relaciona com as transições que faz de umas partes para as outras na história: talvez estas possam ser escritas de uma forma "menos acelerada", sem que com isso se a quebre a dinâmica da narrativa, que, a meu ver, é excelente e não é nada maçadora!

Assim sendo, aqui ficam os meus parabéns a Jorge Moreira Silva por este seu primeiro romance (histórico). Venha daí o próximo!

https://www.goodreads.com/review/show/1902335689

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Lolita, de Vladimir Nabokov


"Lolita" de Vladimir Nabokov
Relógio D'Água, 2013
335 Páginas


"Lolita" é um caso que eu não consigo resolver. Não consigo perceber se gosto ou se não gosto. Desperta em mim sentimentos contraditórios, dos quais não consigo sair... 

Como é que eu hei de explicar isto?! 

Bom, quando leio ficção, e se a ficção for de qualidade, eu vivo-a com intensidade e, portanto, consigo sentir todo o tipo de sentimentos e ainda exteriorizar algumas lágrimas, algumas gargalhadas... Mas também consigo sentir repulsa... Repulsa a sério!

Há pelo menos dois tipos de situações que me incomodam particularmente: uma relaciona-se com a violação; outra com a pedofilia. Quando li "Uma Mulher em Berlim", uma biografia verídica de uma alemã que sofreu repetidas violações, pelos russos, já no fim da Segunda Guerra Mundial cheguei ao ponto de não conseguir largar o livro até terminar a leitura o mais rapidamente possível. Apesar de ter adorado este livro (é impressionante), admito que a realidade daquela mulher (e de tantas outras como ela ) me estava a incomodar, a corroer tanto, e a causar um mal estar tão grande que eu queria terminar depressa o livro. Já não aguentava mais. Psicológica e emocionalmente, eu senti o seu sofrimento e isso estava a dar cabo de mim. 

Em "Lolita", a história tem como pano de fundo uma relação pedófila e, mesmo sabendo tratar-se de pura ficção neste caso, sei que há realidades assim e pensar nisso incomoda-me profundamente. As crianças têm direito a ser crianças. Os adolescentes a ser adolescentes. E cada pessoa tem direito a explorar a sua sexualidade quando se sentir preparada para isso, no seu tempo, não devendo ser forçada ou impelida a nada sem o seu consentimento ou vontade. Isto não me sai da cabeça. Não me saiu da cabeça durante praticamente todo o tempo que li este livro. Volto a repetir: sei que é ficção. 

Porém, nos breves momentos em que consegui ler e "voar", consegui notar a genialidade da escrita de Nabokov e da própria forma como construiu o argumento desta história (este pedófilo, além de ser pedófilo a sério, era interesseiro e vingativo, possessivo ao limite e isso levou-o a cometer assassinio(s)). É que se o argumento não fosse efectivamente bom, ler "Lolita" não me teria causado qualquer espécie de repulsa, ter-me-ia sido apenas indiferente e não foi. Jamais me esquecerei da sua história. 

No entanto, e como referi no início não consigo resolver estes sentimentos contraditórios... !

https://www.goodreads.com/review/show/1902329932

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Sobre o Amor e a Morte, de Patrick Süskind


"Sobre o Amor e a Morte" de Patrick Süskind
Editorial Presença, 2006
61 Páginas

Patrick Süskind oferece aos seus leitores na obra "Sobre o Amor e a Morte" um interessante e conciso ensaio sobre o que é o amor, sobre a morte e o modo como o amor e a morte se relacionam. 

A sua escrita segue na linha do que o autor nos tem vindo a habituar... Directo, sem demasiados rondeios, por vezes um pouco crítico e mordaz. Lê-se fluentemente, sem grande vontade de fazer pausa.

E no decorrer da exposição das suas ideias vai buscar inúmeras vezes J. W.Goethe, que eu tanto gosto, e Heinrich von Kleist, que eu vou querer conhecer um pouco melhor. Traz-nos Platão, Santo Agostinho, Orfeu e a sua Eurídice e ainda recorre, de forma muito subtil e na medida certa, para justificar o seu argumento a uma ou outra passagem dos Evangelhos. 

Gostei deste "apanhado"/"revisão"/"lufada de ar fresco" cultural! 

*
"estar apaixonado é uma embriaguez, uma doença, um delírio. Não é uma embriaguez má, acrescenta ele, é precisamente a melhor das embriaguezes; não é uma doença nociva nem uma loucura humana no sentido patológico; é antes uma mania inspirada pelo divino, uma loucura sagrada que dá asas à alma confinada ao que é terrestre." (p.12)

https://www.goodreads.com/review/show/1902335505

Amor, Ponto e Vírgula, de Andrew Nicoll



"Amor, Ponto e Vírgula" de Andrew Nicoll
Editorial Presença, 2011
401 Páginas

"Amor, Ponto e Vírgula" é um romance incomum e original, carregado de exotismo. A narradora é a Santa Walpurnia, uma virgem barbuda, padroeira da cidade de Ponto localizada algures no Báltico. E a história passa-se essencialmente entre o Presidente da Câmara, Tibo Krovic, e a sua Secretária, Agathe Stopak, por quem está secretamente apaixonado há já algum tempo. Ela é casada, mas vive infeliz porque apesar dos seus vários esforços o marido só quer a companhia do álcool quando chega a casa... 

A verdade é que apesar destas premissas aparentemente simples e comuns, a história ganha contornos especiais do início ao fim. Walpurnia está sempre a ser chamada, há bruxas e feitiços e personagens que evoluem da sua forma humana para dálmatas...! E a história de amor que se desenvolve entre Tibo e Agathe é muito bonita, mas está longe de ser linear... De um momento para o outro, Agathe passa a ser objecto de desejo de mais outro homem na história. Porém, enquanto um nutre por ela um bonito amor, ou outro só sente desejo e não tem amor!

A escrita é bela, leva-nos a sonhá-la até por causa da própria forma como é contada e também nos deixa a pensar sobre as implicações de se: gostar de alguém e mantê-lo em segredo sem avançar no dito momento, porque nunca o encontramos e estamos sempre à espera de uma altura melhor, e com isso perder a oportunidade; escolher alguém por quem temos atracção física, mas não verdadeiro sentimento, porque a pessoa por quem temos algum sentimento "não se mexe", ficamos a achar que o sentimento não é correspondido, o tempo passa e não temos a vida toda; e de se permanecer numa relação em que não só não nos sentimos realizados, como nem somos felizes... Questões com que, certamente, nos iremos cruzar pelo menos uma vez na vida (mesmo que isso não se passe connosco é muito possível que possamos conhecer alguém que já esteve ou virá a estar em circunstâncias semelhantes). 
*
"É assim que o amor é: dá a tudo um sabor novo, pinta tudo com cores diferentes, acaricia os nervos com uma sensação aguda que faz lembrar picadas de agulha, torna o entediantemente mundano novamente suportável."(p.158)

https://www.goodreads.com/review/show/1897793076