sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Já então a raposa era o caçador, de Herta Müller


"Já então a raposa era o caçador" de Herta Müller
Publicações Dom Quixote, 2012
239 Páginas



Herta Müller escreve num estilo muito próprio... Joga com as palavras numa espécie de prosa poética enigmática que chega a deixar-nos em suspenso, meio surpreendidos com o modo como arquitecta o texto e apresenta a história e critica a polícia secreta romena nos últimos dias do regime de Ceausescu. 

Porém, e ao mesmo tempo, as suas páginas deixam-nos, muitas vezes, um travo amargo na boca, que prende a língua e quase nos sufoca... E magoa. Nos dias menos soalheiros, a sua escrita pode deixar-nos ainda mais cinzentos e melancólicos, mais metidos coma tristeza e menos crentes na esperança e no sonho.

Se me perguntarem se gosto de Müller, direi que gosto da sua forma original de escrever (vi um documentário em que ela explicava que cortava palavras de revistas e jornais e depois sentava-se a compor frases e daí uma história enquanto colava essas mesmas palavras em folhas brancas), mas deve ser lida com moderação... Porque deixa sempre uma sensação de dor e perplexidade que estão longe de ser agradáveis, talvez culpa do contexto e da realidade a partir de onde ela escreve e que certamente lhe terão moldado a forma de ver e sentir o mundo e as pessoas.

https://www.goodreads.com/review/show/2598372507

domingo, 18 de novembro de 2018

Narciso e Goldmund, de Hermann Hesse

"Narciso e Goldmund" de Hermann Hesse
Publicações Dom Quixote, 2016
356 Páginas


Este livro foi construido em torno de uma temática que muito me fascina e que se relaciona com a oposição passível de existir entre o pensamento e a acção, a teoria e a prática, as ideias e as emoções. Narciso é o pensamento, a teoria e as ideias, sendo que Goldmund [à letra, a boca de ouro] é a acção, a prática, as emoções. Sem querer revelar grandes detalhes acerca da história, Goldmund é desafiado por Narciso a partir em busca da concretização dessa sua natureza especial... Dessa sua natureza que é muito mais vida do que aquela que se mantém fechado e enclausurado num mundo à parte!

"Narciso e Goldmund" é filosófico que baste, sem ser maçudo. E a dada altura é uma viagem de descoberta de Goldmund que, deixando para trás o mundo da abstracção, decide abraçar a montanha russa que pode ser o mundo das emoções... e a própria arte, vivida depois de experimentada a realidade sentida. 

Confusos? Pois... É que a verdade é que a realidade, sendo nós seres pensantes e seres com emoções em simultâneo, nunca pode ser algo puramente objectivo. Ainda que, de certa forma, Hesse tente separar, em certa medida, o mundo das ideias do mundo das emoções. Quem me dera a mim que fosse "tão simples", tão preto no branco separar uma coisa da outra... Porque vivo com frequência num conflito entre os dois mundos no meu próprio mundo e certamente não serei a única...!

Mas... Adorei o livro não só quanto à escrita, bastante agradável e com passagens muito bonitas, como também quanto à própria temática. Continuo fã da obra de Hesse! Está definitivamente entre os meus autores alemães preferidos!

https://www.goodreads.com/review/show/2578339084