sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago

"O Ano da Morte de Ricardo Reis" de José Saramago
Porto Editora, 2016
494 Páginas


Antes de dar a minha perspectiva sobre este livro, gostava de fazer notar que a mesma respeita apenas Saramago enquanto escritor e enquanto autor de "O Ano da Morte de Ricardo Reis". 

Comecei a ler este livro depois do Natal e devo dizer que foi uma excelente companhia nestes dias. Ele esperou cerca de três anos na estante que chegasse a sua vez... Sem perder a paciência e mantendo-se sempre de pé com a capa bem visivel. 

Dos três heterónimos de Pessoa de que habitualmente se fala, Ricardo Reis costuma ser aquele que gosto menos. Por causa da visão pessimista e seca que tem da vida. Mas consegui adorar lê-lo nestas páginas (ou melhor relê-lo) até porque aqui a Lídia tem um papel efectivo, não se senta só com Reis à beira rio. E eu gostei genuinamente disso até porque ainda que Reis continue com a sua visão pessimista e seca ainda vai desfrutando, nos intervalos, daquilo que de melhor a vida terrena tem. Obrigada por isso, Saramago!

Gostei das visitas de Pessoa a Reis e da mistura entre estes dois com o estilo de Saramago. Profundo, por vezes cortante, e com frequência capaz de deixar a nu, e de forma bem mais estruturada, estados de espiritos perdidos num turbilhão de emoções incontrolável. Senti-me como se alguém me conseguisse ler e compreender. 

Em relação ao estilo de escrita de Saramago, primeiro estranha-se, depois entranha-se. O que quero com isto dizer? Bem... Quando comecei esta leitura, ao fim de poucas páginas, senti-me cansada, quase sem fôlego. Os pontos finais são poucos quando comparados com a quantidade imensa e predominante de vírgulas. As pausas nos textos e os supostos diálogos são controlados por vírgulas apenas. Porém, a verdade é que me habituei ao estilo e quando terminei de ler o livro pensei: já está? Não há mais?! 

Talvez não seja o tipo de leitura que se adeque a todos os tipos de leitores. É um livro pesado e a escrita é complexa. Mas eu gostei... Bastante até! Da mesma maneira que gostei quando li o seu livro de contos aos 14/15 anos. Gosto acima de tudo da profundidade sem rondeios que Saramago usa em muitas circunstâncias... sobre questões básicas da nossa existência. E isto nada tem a ver com política, tal como como sublinhei no inicio, e também não tem a ver com religião. 

https://www.goodreads.com/review/show/2646004411

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Militärmusik, de Wladimir Kaminer



"Militärmusik" de Wladimir Kaminer
Goldmann, 2003
222 Páginas


Comparativamente a "Russendisko", "Militärmusik" está escrito de forma mais articulada e deixando transparecer maior unidade, o que o torna, no meu entender, mais interessante. 

É muito mais auto-biográfico porque recua até aos anos sessenta, quando Wladimir Kaminer nasce na Rússia, e com ele ficamos a conhecer várias características do autor enquanto criança e depois adolescente e jovem adulto.  

Os textos são mais longos levando-nos a demorar mais na leitura e, neste contexto, aproximam mais o leitor da realidade vivida durante os tempos da URSS. Talvez porque são mais detalhados e não há pressa... 

Gostei mais deste! 

p.s.: Mas continuo a não ser muito fã de Kaminer, desculpem. 

https://www.goodreads.com/review/show/2670135194

sábado, 12 de janeiro de 2019

Russendisko, de Wladimir Kaminer


"Russendisko" de Wladimir Kaminer
Goldmann, 2002
192 Páginas



Este é o segundo livro que leio de Wladimir Kaminer e termino com a mesma conclusão (apesar de ter mais dois livros dele para ler e tencionar lê-los; desistir é sempre a última opção nestas situações): não sou fã. 

Kaminer pode ser um autor com um humor incrivel, muito divertido e tal, mas não me convence. Gosto de sentir alguma unidade quando leio um livro e não consigo sentir isso nos seus livros. Aliás, ainda consegui gostar menos deste livro do que do outro primeiro sobre os sírios na Alemanha. 

Na verdade, senti que ao invés de falar da experiência russa em Berlim, que fala pouco quando esse é supostamente o ponto central do livro, o autor se perde numa série de observações aleatórias que podem fazer o leitor perder o interesse. A mim aconteceu-me isso e só li o livro até ao fim porque sou tremendamente teimosa, devo confessar. 

Por isso, e embora o tema me interesse, não consegui gostar deste livro. Estava desejosa, ansiosa, por o terminar de ler. Só consegui gostar de um texto intitulado "conselho do pai", no qual o autor conta que o pai acreditava que, chegados a 1990 na URSS, a grande Liberdade é aproveitar o momento da era Gorbachov para se "pisgarem" dali para fora. E rápido. Porque aquela Liberdade é provisória e a tendência será para ela desaparecer novamente. 


https://www.goodreads.com/review/show/2646022534

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Neun Tage in Lissabon


"Neun Tage in Lissabon" de Hervé Le Tellier
DTV, 2015
277 Páginas

"Neun Tage in Lissabon" é um passeio pelas ruas de Lisboa, mas também por uma parte da história e cultura portuguesas. E aqui reside, no meu entender, a maior beleza deste livro. É extremamente agradável ler sobre autores portugueses conhecidos e menos conhecidos nas palavras de um autor estrangeiro; ler no meio da escrita em alemão algumas palavras portuguesas de um poema pertencente a Fernando Pessoa... Aquece a alma!

Sem entrar em detalhes acerca da história (não me apetece fazer spoiler), este livro centra-se na história de dois amigos, cada qual, com a sua história de insucesso na relação com as mulheres. Esta foi a parte que menos me fascinou porque estou cansada de histórias que não correm bem... Mas, vá, isso é um problema meu. 

Por outro lado, a descoberta da namorada (dos tempos de adolescência/juventude vividos aquando do Estado Novo) e mãe do filho de um deles, conhecida como Pata, mesmo no fim da história tem um sabor agridoce, sendo simultaneamente um aspecto agradável para quem a descobre, mas desagradável para quem é descoberto. O que deixa o leitor a pensar... em como o ser humano tudo complica quando se "mete onde não é chamado" e/ou quando tudo compromete quando se acobarda assistindo impávido, sereno e em silêncio ao desmoronamento da(s) relação (ções) em que está metido. Ambas as situações estão presentes em "Neun Tage in Lissabon". 

Repito, porém, novamente: a maior beleza deste livro está nos dias passados em Lisboa pelos dois amigos luso-franceses, um jornalista e outro fotógrafo, e na descoberta que vão fazendo da cultura portuguesa, dos anos do Estado Novo e da década de oitenta em Portugal. Gostei bastante disso!

https://www.goodreads.com/review/show/2631353478