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quinta-feira, 19 de junho de 2025

"Estefânia - A Rainha Virgem" de Isabel Stilwell

 



"Estefânia. A Rainha Virgem" de Isabel Stilwell
Planeta, 2025
480 Páginas

Último livro (até ao momento) publicado por Isabel Stilwell, o primeiro que leio e que agradável surpresa!

A escrita é agradável e flui. Sendo um romance histórico poderiamos estar diante de uma obra mais pesada, mas não é o que sucede. São 480 páginas que se lêem bem, com entusiasmo e leveza. 

D. Estefânia é nos dada a conhecer com todo o rigor pela autora que baseia a sua obra numa interessante e completa bibliografia. Rainha durante um ano e pouco, morreu sem que o seu casamento com D. Pedro tivesse sido consumado, apesar dos relatos da boa e próxima relação que pareciam manter. 

Preocupada em garantir que todas as crianças tivessem acesso aos cuidados de saúde é a ela que se deve a criação, mais tarde, do Hospital de D. Estefânia. Foi, aliás, este um dos motes para que eu quisesse ficar a conhecer um pouco mais desta rainha. E valeu muitissimo a pena! 

Gostei bastante!


https://www.goodreads.com/review/show/7640453065

sábado, 31 de maio de 2025

"Lavores de Ana" de Ana Cláudia Santos



"Lavores de Ana" de Ana Cláudia Santos
Companhia das Letras, 2025
128 Páginas

"Com cada mulher nasce uma Clepsidra" é a "máxima" que, sem qualquer dúvida, orienta "Lavores de Ana" de Ana Cláudia Santos. 

Clepsidra corresponde a um relógio de água, o primeiro sistema criado pela humanidade para medir o tempo. E, de facto, contando as aventuras e desventuras de Ana entre Napóles e Lisboa, percebe-se, a dada altura, que o passar do tempo se torna um peso, sobretudo quando o assunto são as pressões sociais em torno de casar e ter de imediato filhos e, mais do que isso, o peso do relógio biológico que cada mulher carrega consigo para conseguir gerar uma nova vida num determinado intervalo de tempo da sua existência... 

No fundo, acho que Ana Cláudia Santos toca num ponto fundamental da vida das mulheres em pleno século XXI: querer ser tudo e experimentar tudo, mantendo a sua liberdade e conciliando tudo com o  tornar-se mãe... a tempo?!

A escrita é bonita. O estilo é, com frequência, melancólico. Mas... tem também rebeldia, um certo descontentamento à mistura... Talvez não seja bem o meu tipo de leitura, ainda que tenha encontrado aqui partes encantadoras sobretudo no que a Nápoles diz respeito e isso gostei muito. 


https://www.goodreads.com/review/show/7604499331

quinta-feira, 8 de maio de 2025

"Crónica do Rei - Poeta Al - Mu'tamid" de Ana Cristina Silva




"Crónica do Rei-Poeta Al- Mu'tamid" de Ana Cristina Silva
Editorial Presença, 2010
184 Páginas

"Crónica do Rei - Poeta Al - Mu'tamid" de Ana Cristina Silva foi uma muito agradável surpresa. Não só pela figura histórica em causa (que fiquei a conhecer), como também pela maravilhosa forma com que a autora escreve colocando-se no lugar da mesma e fazendo com o leitor se sinta mesmo no papel de Al-Mu'tamid. 

Al-Mu'tamid nasceu em Beja em 1040, governou nominalmente Silves e herdou Sevilha em 1069. Com o objectivo de enfrentar o rei cristão, Afonso VI, pede ajuda ao emir almorávida de Marrocos... Porém, o que acaba por suceder no fim é que Mu'tamid é derrotado por este último (que se vira contra os reinos árabes) e acaba desterrado para Marrocos, onde morre. 

Além de ter escrito um poema que figura no livro "As Mil e Uma Noites", Mu'tamid é considerado um dos mais notáveis poetas árabes da segunda metade do século XI. Interessante é também o facto de ter sido patrono de El-Cid, figura sobre a qual li outro livro que muito gostei e recomendo, "Sidi. El Cid, o Nascimento de uma Lenda" de Arturo Pérez-Reverte. É incrível como tudo se liga e relaciona!

Voltarei certamente a ler livros de Ana Cristina Silva... Mas que grande e valiosa descoberta! Adorei!


"Já só me sinto vivo no espaço das lembranças. (...) de todas as infelicidades causadas pela natureza divina das coisas, a morte do amor será sempre a pior de todas. Transformei-me definitivamente num prisioneiro. Esta prolongada reclusão no deserto dos sentimentos foi extraindo em mim a capacidade para o sonho."


https://www.goodreads.com/review/show/7522724532

terça-feira, 4 de março de 2025

"Sinopse de Amor e Guerra" de Afonso Cruz



"Sinopse de Amor e Guerra" de Afonso Cruz
Companhia das Letras, 2021
192 Páginas

O muro de Berlim como pano de fundo. O amor aos livros. E um amor demorado que o muro deixa interrompido... em suspenso. 

Afonso Cruz tem uma escrita muito bonita. Tem-na aqui uma vez mais. E é dificil parar ou pousar este livro... É lindo. 

"- Sempre te amei, Theo, muitissimo, mas eras alguém muito próximo, e a proximidade destrói o erotismo (...). Tu sempre estiveste ao alcance do meu desejo, isso é aborrecido, não é desafiante. É a mais pura das verdades, Theo, sempre te amei, mas nunca soube lidar com a proximidade, a minha especialidade é a distância, estar num lugar impossível e por isso enlouquecer quem me ama, sim, afasto-me, deliberadamente umas vezes, inconscientemente outras, e se te afastei no passado, Theo, foi para que pudéssemos estreitar-nos, é isto, no fundo, é isto, escuta, nós estávamos destinados, isso é algo que se pode ouvir no quando tudo está em silêncio" (pp.92-93).


https://www.goodreads.com/review/show/7372425622

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

"Nem Todas as Árvores Morrem de Pé" de Luísa Sobral


"Nem Todas as Árvores Morrem de Pé" de Luísa Sobral
Publicações Dom Quixote, 2025
224 Páginas


"Nem todas as árvores morrem de pé" de Luísa Sobral é um livro lindo... E talvez um dos meus preferidos de 2025.

A estrutura da narrativa é original, conferindo-lhe dinâmica e fluidez... musicalidade (poética)! 

Dá vontade de o ler sem parar... pela história, pela beleza da escrita...de uma sensibilidade incrível. Até as ilustrações da Camila Reis são de uma delicadeza infinita e encaixam na perfeição. 

Para quem aprecia História, e sobretudo a mais recente relacionada com a divisão da Alemanha aquando do muro, é um livro e uma leitura excelente, uma vez que toda a história tem essa mesma História como pano de fundo, o que dá ainda mais substância ao livro e às personagens... 

Em suma, adorei e venha de lá o próximo porque a autora tem mesmo o dom da escrita e de transmitir emoções por palavras... de forma natural e harmoniosa!


"Para Sempre. Não me assustava. Nunca ouvi falar de alguém que se tivesse entediado de amar todos os dias a mesma pessoa. O amor não entendia. A vida é que entendia quando lhe damos demasiada importância."

 

https://www.goodreads.com/review/show/7328630597 

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

"Princípio de Karenina" de Afonso Cruz





"Princípio de Karenina" 
de Afonso Cruz
Companhia das Letras, 2018
168 Páginas

Mais um livro bonito, muito bonito de Afonso Cruz! Não me recordo de ter lido (até à data) nenhum que desgostasse. Li-o como se o devorasse, como se estivesse presa a ele, sem o conseguir largar para além do necessário! 

Este autor tem o dom de criar histórias mágicas, plenas de poesia… quer seja na forma como as cria, quer nas ideias que transmite… sobre algo aparentemente tão preto no branco como ter medo do desconhecido, do que é diferente e vem de fora e, por oposição, esse fascínio tão louco como talvez até incontrolável por descobrir, alcançar e atravessar o universo do outro.

Para além de tudo, a cereja no cimo do bolo está na beleza da sua escrita… com que me identifico muito! 

Adorei.

https://www.goodreads.com/review/show/7087863287

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

"Nos Passos de Magalhães" de Gonçalo Cadilhe



"Nos Passos de Magalhães" de Gonçalo Cadilhe
Clube do Autor, 2018
224 Páginas

Gonçalo Cadilhe não desilude e "Nos Passos de Magalhães" é uma lufada de ar fresco. Trata-se de uma biografia itinerante em que Cadilhe segue a vida de Magalhães, desde onde ela começou em Sabrosa (na região do Douro) até às Filipinas. 

Fernão Magalhães é um dos maiores navegadores da História (fez a primeira viagem de circum-navegação de sempre, ainda que em duas metades e dois momentos diferentes: da primeira vez, partiu de Portugal em direcção ao Oriente; da segunda vez, partiu de Espanha para o Oriente passando pelo Atlântico Sul), mas fala-se pouco ou nada dele em Portugal. É mais certo ser reconhecido lá fora do que cá dentro, o que é lamentável e chega a ser chocante... Desde logo, a casa onde nasceu está assinalada com uma placa gentilmente colocada pela Embaixada do Chile e a estátua existente no cruzamento da Praça do Chile com a Almirante Reis mais não é do que uma réplica da estátua que os chilenos têm em Puerto Arenas (quase que parece que Magalhães é chileno  - sem desprimor para os chilenos, antes pelo contrário - ou, então, que só se reconhece o valor de Magalhães indo com a corrente chilena). Estes dois exemplos dados pelo autor deixaram-me muito incomodada. 

É certo que Magalhães fez a segunda e última viagem, da qual não regressaria (acaba morto numa emboscada), ao serviço da corte espanhola, mas o relacionamento que tinha com D. Manuel I não era o melhor e Magalhães é um português a fazer um feito tamanho! Por que é que não se fala mais dele? Por que é que o seu nome só é falado para recordar um portátil dado a crianças que ficou "imortalizado" e envolto em polémicas?

Sendo um autor português, Cadilhe tem o mérito de nos dar a conhecer quem foi, de facto, o português Fernão Magalhães (o mesmo a que o austríaco Stefan Zweig chama de Ulisses que não voltou a Ítaca)... de uma forma viva e fascinante. 

Enfim, adorei este livro e aprendi imenso com ele!


https://www.goodreads.com/review/show/5791992898

sábado, 15 de outubro de 2022

"A Mitologia dos Povos Germânicos" de Maria Lucília F. Meleiro



"A Mitologia dos Povos Germânicos" de Maria Lucília F. Meleiro
Editorial Presença 1994
210 Páginas


Sete são as partes em que se divide "A Mitologia dos Povos Germânicos": I- Introdução; II - Quem eram os Germanos?; III - A Presença do Sagrado; IV- A Mitologia dos Povos Germânicos (1. O Fogo e o Gelo; 2. A Água e a Terra; 3. A Morte e a Vida; 4. O Bem e o Mal); V- Wagner a e a nova era: ancoragem com os mitos tradicionais. A missão de Siegfried; VI - A Tecnização do Mito. Advento e Queda do 3º Reich; e VII - Do Mito Fáustico ao Mito dos novos Vikings. Sete é o número da espiritualidade... o que não deixa de ser curioso.

E efectivamente curiosa é também esta obra. Nem sempre motivadora de uma leitura corrida sem pausas, a verdade é que "A Mitologia dos Povos Germânicos" ensina bastante sobre a simbologia envolvida neste tema e reflectida em algumas obras como "Beowulf", "Doutor Fausto", ... Mas não se fica por aqui indo em profundidade aos porquês.

Sem querer entrar em maiores detalhes, recomendo a sua leitura a todos os que se interessem tanto por mitologia germânica/nórdica como também a todos aqueles que lendo obras como o "Doutor Fausto" pretendam perceber a fundo o que ali está em causa... seja na versão de Goethe ou na de Mann. 

Um bom livro, embora, por vezes, a escrita pudesse ser um pouco menos académica... para chegar a um maior público!

https://www.goodreads.com/review/show/4928831731


segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Atreve-te a mudar, de Diana Gaspar


"Atreve-te a mudar" de Diana Gaspar
Manuscrito, 2019
172 Páginas

"Atreve-te a mudar" pode muito bem figurar entre aqueles livros que se mantêm na nossa cabeceira e a razão é simples: a mudança é parte essencial da vida. E querendo ou não, mais tarde ou mais cedo, somos impelidos à mudança, qualquer que ela seja. Mudar significa transformar. Significa agir e escapar ao "simples" modo de sobrevivência. 

Dividido em nove capítulos (1- Necessidade de mudar; 2-Sabes o que queres mudar?; 3-Cria a tua realidade; 4 - Abdica da opinião dos outros; 5- Frustrações e fracassos - aceitar e aprender; 6 - Paciência - a chave da mudança; 7 - Cuida de ti; 8 - Age com determinação e coragem; 9 - Um dia de cada vez), Diana Gaspar leva-nos a reflectir sobre a importância da mudança e de que forma a mesma pode ser potenciada e gerida.

A meu ver o livro está bem estruturado e organizado. Gostei bastante do que li. Contudo, penso que a autora poderia incluir as referências bibliográficas no fim do livro, sobretudo para aqueles que como eu ficam com interesse em explorar e aprofundar determinado tópico e/ou conhecer este e aquele autor directamente. 

terça-feira, 5 de novembro de 2019

A Papoila e o Monge, de José Tolentino Mendonça

"A Papoila e o Monge" de José Tolentino Mendonça
Assírio & Alvim, 2015
173 Páginas



Cruzei-me com "A Papoila e o Monge" por acaso num dia em que procurava qualquer coisa de especial para ler na Bertrand do Chiado numa tarde quente de Agosto. Não foi o autor (que para mim era apenas um nome conhecido) nem o grafismo que me seduziram, mas sim o título e o facto deste ser um livro de haikus, uma forma de poesia criada no Japão por Matsuo Basho (https://www.goodreads.com/review/show/2378531470). A papoila está entre as flores que gosto (é selvagem, corajosa porque nasce onde menos se espera e sem avisar, é de um vermelho vivo que já mais nos deixa a memória) e o monge remete-me para o espiritual (e não necessariamente para o religioso). 

É um livro muito bonito, de composição refinada, muito focado no papel e no significado do silêncio, mas também na natureza, na cidade, nas estações do ano. Por outro lado, e como não poderia deixar de ser (até porque José Tolentino Mendonça é cardeal), alguns haikus (não muitos) tocam no assunto Deus e talvez por não ser propriamente religiosa (mas sim espiritual) foram aqueles que menos apreciei, apesar de lhes conseguir reconhecer alguma beleza. 

https://www.goodreads.com/review/show/3014395631?book_show_action=false

terça-feira, 15 de outubro de 2019

A Passagem, de Horácio N. Medina


"A Passagem" de Horácio N. Medina
Chiado Editora
91 Páginas

"A Passagem" é daqueles livros que nos surpreendem pela positiva, pelo inesperado e não expectável... 

Medina apresenta-nos três conjuntos distintos de poemas: um primeiro dedicado a "os campos", um segundo a "a corrente" e um último respeitante a "a passagem". Dos três conjuntos, o último foi aquele de que gostei mais. 

No decorrer da leitura, e em especial no primeiro conjunto de poemas, lembrei-me, por várias vezes, de Alberto Caeiro e do seu modo de sentir natural... E achei, de igual modo, particularmente interessante o facto do autor jogar muitas vezes com uma ideia e o seu contrário, o que me pareceu ser um traço marcante, constante e frequente. Um bom exemplo disso poderá ser: " Não creio em ilusões. Iludo-me./ Desassossego-me sossegado (...)".

Para mim também, "Ler é encher a alma/ escrever é a libertação". Portanto, aqui fica o meu agradecimento ao autor pela oferta de tão bonito livro e por me ter dado a conhecer a qualidade da sua poesia, um dos géneros literários que eu muito aprecio!

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Escolho ser feliz, de Sara Cardoso


"Escolho Ser Feliz" de Sara Cardoso
Pergaminho, 2017
136 Páginas


Gostei da estrutura, da objectividade e da forma como as ideias são expostas. 

Pareceu-me particularmente útil o facto da autora defender um principio positivo por oposição ao principio negativo correspondente: por exemplo, aceitação em vez de resistência. Ora, isto permite ao leitor compreender através da comparação e do contraste entre as duas ideias qual é aquela que habitualmente segue, questionar e compreender até que ponto essa ideia será ou não a mais vantajosa para a sua vida e, se for caso disso, como a poderá transformar. 

Nos últimos tempos, tenho constatado a existência de "uma espécie de movimento" (e coloco entre aspas porque tenho dificuldade em definir isto) defensor de sentimentos e emoções positivas a todo o custo e a toda a hora. Não sendo eu uma especialista nesta área, a minha experiência de vida até à data e várias outras coisas que tenho lido, escritas sobre isto por quem se dedica a estudar e a trabalhar na área da psicologia e afins, diz-me que isso não só é um erro, como um tremendo disparate. A realidade nem sempre é bonita e agradável e também nem sempre nos apraz... Daí que existem e existirão sempre sentimentos e emoções positivas e sentimentos e emoções negativas, do mesmo modo que todos somos seres de luz e de sombra. Os sentimentos e emoções são estados, estando-lhes associada uma ideia de transitoriedade. Vão e vêm. É esta a linha que a autora defende e isso foi, de igual modo, outro aspecto que gostei no livro. 

Nem sempre gostei da forma como o livro está escrito. Não está mal escrito (longe disso), mas poderia ter um estilo um pouco mais cuidado. E... discordo de um/dois dos exemplos apresentados (não me recordo quais, de momento) por experiência própria. Creio, todavia, que isso é algo salutar de acontecer!

Gostei do livro; é daqueles que vale a pena folhear de vez em quando para recordar algumas coisas... Até porque é pequeno, conciso e directo.

Note-se ainda que a formação da autora na área do Reiki (a par da Psicologia) faz toda a diferença nesta leitura, sendo, na minha perspectiva, uma mais-valia!

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Amor Primeiro, de Ivone M. Martins


"Amor Primeiro" de Ivone M. Martins
Alma Mater, 2019
288 Páginas


Dizem que tudo tem um tempo certo para acontecer e "Amor Primeiro" encontrou-me nesse mesmo tempo... 

Atravessou o Atlântico, vindo do Brasil, escrito por alguém muito especial para mim que já viveu em África, na Europa e agora está na América (Brasil).

Mal o recebi, feita uma longa viagem, folhei as primeiras páginas e senti-me logo como que cativa, pelo que não o consegui largar até o terminar... Tive de deixar os outros quatro livros que estava a ler ao mesmo tempo de lado porque este, sim, é que me estava a alimentar a alma e a sossegar o coração. 

"Amor Primeiro" é daqueles livros que parece que se sentam connosco a conversar, ajudando a arrumar ideias. E é um romance passado em Portugal durante o Estado Novo e no período pós Estado Novo (sem esquecer uma parte decorrida no tempo da Inquisição e do Terramoto de 1755), pelo que teria todo o interesse em também ser publicado/difundido deste lado do Atlântico. Fala-se de Liberdade, de Amor (Primeiro e Primeiro Amor que não são a mesma coisa), de ciúme, de Paixão, de Almas, de Reencarnação, de Sentir, de Egoísmo, ... 

Escrito com alma como só quem sente tão intensamente consegue fazê-lo, é transparente e profundo, sábio, iluminando-nos o caminho... no tempo certo. São poucas as vezes, pelo menos até à data, em que consigo ficar tão ligada a uma personagem, em que me identifico tanto com ela... a compreendo e admiro. Aconteceu com "Amor Primeiro" com Alma, uma personagem cheia de história passada e raízes que aprende com o tempo a autoconhecer-se e a fazer o que é melhor para ela, com o coração, aliando a necessidade de se sustentar através de algo mais material com a necessidade, quase que urgência diria, da espiritual poesia.

As obras são, por norma, produto dos contextos em que são criadas e têm muito, muito, muito dos seus criadores. "Amor Primeiro" não é excepção porque tal como o testemunham outras vozes no início do livro há muito da sua autora espalhado pelas opções e caracteristicas de algumas personagens, mas também, como não poderia deixar de ser, na própria forma de escrever... Espiritual, mágica, cheia de um amor equilibrado pelas palavras e pelas ideias. 

Adorei lê-lo e ficará para sempre comigo e em mim... Coisa que poucos, muito poucos livros conseguem efectivamente! 

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Vamos Comprar um Poeta, de Afonso Cruz


"Vamos Comprar um Poeta" de Afonso Cruz
Editorial Caminho, 2016
101 Páginas

Lê-se rápido, demasiado rápido, diria, para um livro tão bonito... E isso faz com que as suas 101 páginas saibam a pouco, deixando-nos com vontade de mais...

Afonso Cruz faz em "Vamos Comprar um Poeta" uma espécie de apelo à importância da arte nas nossas vidas, escolhendo a poesia para o demonstrar. 

É certo que não é a poesia que, por norma, nos compra a comida, a roupa e a casa onde vivemos, mas a imaginação e a criatividade podem fazer toda a diferença em qualquer trabalho que sirva "para nos pagar a existência", alimentando-nos a alma, tornando-nos mais livres e eventualmente mais felizes... Dando cor aos dias mais cinzentos! 

Além do que a arte é cultura e a cultura é a essência de um povo, a sua identidade!

segunda-feira, 29 de abril de 2019

O Céu é Para Quem Não Desiste de Voar, de Miguel Ribeiro

"O Céu é Para Quem Não Desiste de Voar" de Miguel Ribeiro
Manuscrito, 2018
197 Páginas


"O Céu é Para Quem Não Desiste de Voar" é um livro de histórias simples, mas ao mesmo tempo pensadas ao detalhe porque carregadas de significado e plenas de profundidade. 

Há umas semanas, li num livro de João Tordo, outro autor português que descobri recentemente, algo que não me saiu mais da cabeça e que se aplica à minha relação com este livro... Foi qualquer coisa do género: nós gostamos é de quem nos mexe na ferida. Isso, na ferida. E isso aplica-se à minha relação com os livros não técnicos... Eu gosto mesmo é daqueles livros que me inquietam. Que me provocam. Que me desafiam. Que me fazem sorrir. Que, por vezes, me fazem ficar com os olhos brilhantes porque de alguma forma me emocionam. Basicamente, gosto daquilo que me faz sentir a sério e pensar, questionar e tornar a pensar. Este livro teve esse efeito em mim. 

É dos livros mais bonitos (de uma sensibilidade única) que  li nos últimos temos e sinto que jamais esquecerei algumas das coisas que nele (re)descobri a propósito da amizade, do amor, da lealdade, da liberdade, da capacidade de nos surpreendermos ao longo da nossa vida como se nunca deixassemos totalmente de lado a criança que um dia fomos, da coragem, da esperança, ... Dificil foi, portanto, ao longo da leitura não deixar quase todas as páginas com uma marca para lá voltar mais tarde e relê-las. Penso que este pode bem ocupar o lugar, reservado apenas a alguns, de livro de cabeceira por tempo indeterminado... daqueles que lemos e tornamos a ler e continuam a justificar aí sua permanência.

Por isso mesmo, a sua leitura será, a meu ver, mais proveitosa se for feita de forma doseada ao longo do tempo. Inicialmente, admito que comecei a lê-lo em modo de "sobredosagem", isto é, lendo mais do que um capítulo de uma vez. Porém, depressa percebi que essa não seria a forma mais correcta de o ler e, além disso, emocionalmente tornar-se-ia mais desgastante. Daí que o melhor seja ler um capítulo de cada vez... 

Por fim, gostei também muito do facto do autor explorar a relação do menino com o papagaio de papel, a borboleta, o cão, a estrela, a tempestade, ... para, no momento certo, transmitir a mensagem acerca de um determinado valor essencial importante.

terça-feira, 26 de março de 2019

Ensina-me a voar sobre o telhados, de João Tordo

"Ensina-me a voar sobre os telhados" de João Tordo
Companhia das Letras, 2018
487 Páginas



"Ensina-me a Voar sobre os Telhados" é o primeiro livro que leio de João Tordo. Decidi lê-lo porque queria ler algo deste autor, o título apela ao imaginário, uma parte da história passa-se no Liceu Camões onde estudei e passei uma fase marcante do meu desenvolvimento e, a par de outras "paixões", percebi que faço parte dos admiradores da cultura japonesa, aspecto também explorado neste livro. 

Não é um livro leve. Está longe de o ser. E também não é assim tão simples. Requer paciência e vontade. Vontade de perceber qual é o destino de tudo o que ali está escrito e a mensagem que Tordo pretende transmitir. Admito que tive momentos de arrependimento, de cansaço e tédio, apesar do livro estar bem escrito. Senti que, em algumas circunstâncias, o autor abusou da densidade e disponibilizou um pequeno-grande fardo ao leitor mais corajoso. A carga emocional da parte japonesa da história é qualquer coisa de... muito intenso e doloroso, embora essa parte da história seja para mim a mais bonita. A parte portuguesa da história teve alturas que me pareceu não levar a lado nenhum e só senti essa sensação desaparecer quando se dá o cruzamento desta parte com a parte japonesa. 

É um livro triste. Com histórias de sofrimento, vicio, obsessão e descontrolo. Com algumas personagens extremamente bem arquitectadas, sobretudo do lado japonês. Tordo aborda a questão do alcoolismo, da violência do pai para com o filho, da surdez e do suicidio. 

Gostei, mas não adorei. Tive uns momentos em que pensei se tinha escolhido o livro certo, e na dúvida talvez fosse melhor deixá-lo de lado, e outros momentos em que desejei ler o mais rápido possível para chegar ao fim e poder largar todas aquelas "dores"...!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

A Boneca de Kokoschka, de Afonso Cruz


"A Boneca de Kokoschka" de Afonso Cruz. 
Quetzal, 2014
241 Páginas


Tive "A Boneca de Kokoschka" de Afonso Cruz cerca de quatro anos, parada na estante, à espera de ser lida... Durante esse tempo, peguei nele várias vezes, mas de todas as vezes voltei a largá-lo. Tinha receio de estar prestes a apanhar uma desilusão quando lhe pegasse a sério, até porque, apesar de já ter ouvido falar de Afonso Cruz e bem, nunca tinha lido nada escrito por ele. 

Todavia, supresa das surpresas, gostei e gostei muito! Demorei um pouco a mergulhar na história que dentro dela tem outra história e depois mais outra (todas relacionadas com a dita boneca), mas valeu a pena. E, no fim, consegui perceber a razão de ser deste título, cujo significado é bem distinto daquele que esperava inicialmente. Fiquei decepcionada por me ter "enganado"? Não. O autor "trocou-me" as voltas e valeu a pena. Devo, porém, sublinhar que foi o significado que, literalmente, me pareceu estar contido no título, bem como o resumo do livro versando sobre uma história passada na Alemanha destruida pela Guerra (a Segunda Grande Guerra, entenda-se), as motivações para a minha escolha. 

Para além da própria construção da "história" deste livro, gostei de alguns excertos sobre a Liberdade e a Prisão, sobre o Universo, a Separação e a União/Amor, sobre a necessidade de convivermos com os outros para existirmos efectivamente (o homem não é uma ilha). Ainda continuo com eles em mente... como se tivesse ficado "cativa" dos mesmos, acertados e, ao mesmo tempo, curiosos. Gostei, de igual modo, da forma de escrita, diferente e criativa, e fiquei curiosa para ler outros livros de Afonso Cruz!

https://www.goodreads.com/review/show/2726325637