quarta-feira, 31 de julho de 2019

O Inverno do Mundo, de Ken Follett

"O Inverno do Mundo" de Ken Follett
Editorial Presença, 2012
832 Páginas


Comparativamente ao primeiro livro "A Queda dos Gigantes", "O Inverno do Mundo" continua a ser um vício viciante desde o início... Ken Follett "prendeu-me" tanto a atenção que tive de ler este segundo volume da trilogia de forma ainda mais rápida!

Neste livro, o autor concentra-se na Segunda Guerra Mundial e no aparecimento do fascismo no mundo inglês e alemão, abordando igualmente toda a transformação sofrida pela URSS. Extremamente interessante é também o papel que a espionagem assume na narrativa. Está novamente um trabalho de mestre. 

Relativamente à realidade alemã, considero que Follett aborda a mesma na medida certa, sem exagerar nada, sem ser tendencioso (devo dizer que admiro muito esta sua capacidade). Não acho que devesse ter insistido mais na questão do Holocausto até porque o faz de forma suficiente e além disso esta não é uma história situada apenas na Alemanha nazi. E a provar isto mesmo, Follett refere "de forma separada da questão do Holocausto" um programa de "eutanásia" destinado a matar pessoas com doenças mentais e físicas, o Aktion T4. 

As famílias inglesa (e galesa), alemã, norte-americana e russa continuam a evoluir neste volume, agora mais centrado nos filhos das personagens criadas no anterior volume. Muitas mudam de país e associam-se a outras realidades, outras cruzam países por razões privadas ou profissionais e regressam à base. E vale a pena acompanhar esta evolução porque dá para reflectir bastante acerca dos relacionamentos e da própria natureza humana sem floreados, sem melodramas. 

"O Inverno do Mundo" é, tal como o primeiro livro, um romance histórico indicado sobretudo para quem gosta de História, destacando-se aqui a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial (as partes relativas a Pearl Harbor e à invasão alemã da URSS são de salientar, bem como o papel fundamental assumido pela Guerra Aérea). 

terça-feira, 23 de julho de 2019

A Queda dos Gigantes, de Ken Follett

"A Queda dos Gigantes" de Ken Follett
Editorial Presença, 2013
917 Páginas


Perfeito. 

Tem tudo nas doses certas, o que faz com que as suas novecentas e tal páginas estejam longe de ser um fardo. Admito que a primeira impressão quando se olha para a dimensão do calhamaço seja algo assustador, mas a partir do momento em que nos deixamos cativar por tudo o que seu interior nos oferece... Torna-se um vicio (viciante) daqueles bem dificeis de largar!

Tenho lido bons livros nos últimos tempos, sim. Porém, talvez nenhum que me tenham absorvido tão totalmente como este ao ponto de me libertar por inteiro (com excepção da minha presença física, naturalmente) da minha própria realidade... e me fazer prender por cada uma das diferentes vidas com que aqui me fui cruzando. 

Estudar o período histórico da Primeira Guerra Mundial tem sido uma das minhas tarefas desde há cerca de dez anos atrás e, por isso mesmo, não me cruzei do ponto de vista histórico com nada de novo. Revi e quase que "vivi" em tudo o que se passou na época uma vez mais. Follett fez, de facto, desse ponto de vista um trabalho exímio. Até porque sendo inglês narra com isenção e ao sabor da mentalidade da época os acontecimentos e as quezílias que se desenvolvem entre as "nações". Está de mestre! 

Por outro lado, achei profundamente fascinante as relações entre as personagens inglesas e alemãs, por exemplo, e o impacto que a entrada na Primeira Grande Guerra tem na vida individual e pessoal de um casal anglo-germânico. Porque isto aconteceu efectivamente, embora aqui estejamos diante de um livro-romance. 

É também interessante o modo como as famílias inglesa (e galesa), alemã, norte-americana e russa vão evoluindo antes, durante e imediatamente após o conflito quanto a amizades, casamentos, relações extraconjugais, filhos legítimos e ilegítimos, ... É fácil compreender o impacto que aquilo que se verifica na relações internacionais e aquilo que sucede com a realidade interna dos próprios países (económica, política e culturalmente) tem na vida individual e privada dos seus cidadãos. Considero, assim, que este é outra qualidade digna de nota presente neste romance e que me parece passar com frequência ao lado do comum dos mortais... 

Por fim, e isto não me saiu da cabeça durante alguns dias, talvez este romance ganhasse mais ainda se tivesse uma familia italiana implicada... No volume que se segue a "A Queda dos Gigantes", relativo à Segunda Guerra Mundial e intitulado "O Inverno do Mundo" acredito que isso teria um forte impacto na narrativa. 

"A Queda dos Gigantes" é um romance histórico indicado sobretudo para quem gosta de História e, em particular, para aqueles que se interessam pela temática da Primeira Guerra Mundial sem se importarem que a história resvale para o campo de batalha... Para quem "gosta" do que acabei de referir, é perfeito (mesmo sabendo que a perfeição é algo inexistente)!!!



sexta-feira, 12 de julho de 2019

O Sabor do Perigo, de Peter Elbling

"O Sabor do Perigo" de Peter Elbling
Editorial Presença, 2010
284 Páginas

Simpatizei com este livro desde o primeiro instante, mas durante vários anos deixei-o ficar na estante à espera de sentir que tinha chegado o momento de o ler, então. 

E chegou. Chegou quando a ler "O Segredo de Copérnico" recentemente me deparei com a morte de alguém por veneno e com a figura do provador de comida, bem como todo o ambiente de intriga vivido no espaço italiano do século XVI. Pensei: Tenho de ler já de seguida aquele romance do provador. Assim foi. 

Creio que a história tem um bom argumento. É particularmente interessante o modo como a figura do provador de comida se reveste de tanta importância na vida do duque e requer ao mesmo tempo tanta inteligência e astúcia para sobreviver ao "maravilhoso mundo" do veneno, da inveja e das rivalidades. A par disso, o amor de um pai (presente como pai e como mãe) pela filha, sempre preocupado com a segurança e o bem-estar da mesma, sendo mesmo capaz de sacrificar, se necessário, a sua vida revelou-se outro "ingrediente" digno de nota em "O Sabor do Perigo". 

Uma chamada de atenção apenas para o facto deste livro ter muito pouco ou mesmo nada a ver com "O Perfume" de Patrick Süskind, ao contrário do que uma das frases da contra-capa poderá sugerir. São livros muito diferentes. Para além do papel principal caber aqui ao sabor (e não o cheiro), esta não é a história de um assassino. É antes uma história de alguém que correndo sempre perigo tenta a todo o custo proteger três vidas: a sua, a da filha e a do duque para quem trabalha. 

Gostei muito!

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Der Geschmack des Lebens/Il Sapore della Vita, de Valeria Vairo


"Der Geschmack des Lebens/Il Sapore della Vita" de Valeria Vairo
DTV, 2017
191 Páginas


"Der Geschmack des Lebens/Il Sapore della Vita" de Valeria Vairo é um livro bilingue, apresentando sempre na página da esquerda a versão italiana do que se encontra escrito em língua alemã na página da direita. 

É uma experiência interessante porque permite ler o mesmo livro em duas línguas em simultâneo e com isso aprender/exercitar conhecimentos em ambas. Devo, todavia, chamar à atenção para o facto do original ser italiano e o alemão será uma tradução do que está escrito em italiano. Por vezes, a tradução pareceu-me demasiado literal ao ponto de esbater um bocado um sentido do que estava escrito por Vairo no original. 

Não se trata de um livro auto-biográfico ainda que a autora se tenha baseado na sua experiência pessoal para o escrever. Vairo conta a história de Giulia, mãe de Barbara e mulher de Thomas que vivendo em Munique decide viajar até Itália sozinha de comboio para reencontrar a família (de emigrantes). No trajecto vai contando episódios familiares da sua vida em Itália e de como o ser migrante começou quando os pais decidiram mudar do Sul para o Norte do país, quando Giulia ainda era criança. Cada episódio/história dá origem a um capítulo que termina sempre com uma receita italiana, mostrando o papel que os sabores (e os cheiros) têm na construção da nossa identidade e memória. 


Sei que já o disse a propósito de outro aspecto, mas não me parece demais referi-lo... É, de facto, uma experiência interessante a leitura deste livro. Não só do ponto de vista linguistico, como também do ponto de vista cultural. Gostei!