sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

"The Psychology of Money" de Morgan Housel



"The Psychology of Money" de Morgan Houssel
Harriman Horse, 2020
242 Páginas


Com "The Psychology of Money" parti com expectativas muito elevadas. Demasiado elevadas, diria. E depois deparei-me com um livro, a meu ver, não tão bem estruturado como seria de esperar para o tema em causa, uma escrita nem sempre harmoniosa, e variadissimas histórias de pessoas que, muitas vezes, não aquecem nem arrefecem para o argumento e/ou argumentos que o autor enuncia e apresenta seguidamente. 

Há ainda outra coisa... O autor leva 230 e tal páginas para escrever este livro quando na realidade despachava melhor o assunto em 20 ou 30 páginas, tornando as suas ideias mais claras, concisas, directas e interessantes. E, neste sentido, o capítulo 19, "All Together Now" tem tudo o que precisamos de saber sobre a psicologia do dinheiro... 

Algumas das ideias que retive foram: tudo nesta vida tem sorte e risco (e nós não sabemos o que é que vamos encontrar nem quando); a forma como olhamos e lidamos para o dinheiro tem muito a ver com a nossa formação em casa (desde crianças, entenda-se) e educação na escola, bem como com as nossas experiências de vida (daí que haja quem seja avesso ao risco e quem, opostamente, aprecie o risco quando falamos de investimentos, por exemplo); devemos poupar mesmo que não tenhamos nenhum fim específico no momento para utilizar o dinheiro das nossas poupanças, até porque não sabemos o dia de amanhã e devemos estar prontos para qualquer eventualidade; poupar e ter dinheiro permite-nos ter maior controlo sobre o nosso tempo e as nossas vidas (e isso não tem preço); ao contrário do que se possa pensar, a riqueza está naquilo que não se vê... ou seja, não está no relógio ou no carro caro que possamos ter, mas sim nas poupanças que vamos acumulando, até porque como ouvi uma vez um gestor dizer e bem "o dinheiro é de quem o poupa"! Poupar pode ser visto simplesmente como um gastar menos dinheiro e desejar menos e desejar menos significa igualmente que nos importamos menos com aquilo que os outros pensam... É ter auto-controlo e paciência porque no que toca a resultados, com poupanças, esses vêm com o tempo e no longo prazo...Sem qualquer satisfação imediata.

Em síntese, o argumento essencial deste livro é controlo e paciência na gestão de dinheiro, de forma a poupar, poupar e poupar. Dinheiro significa controlo: controlo sobre o nosso tempo!

https://www.goodreads.com/review/show/5160897519

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

"Mario und der Zauberer" de Thomas Mann



"Mario und der Zauberer" de Thomas Mann
Fischer, 107 páginas
1989


Contrariamente a tudo o que já li de Thomas Mann até hoje, "Mario und der Zauberer" ["Mário e o Mágico"] deixou-me algo frustrada... Gostei, mas esperava um pouco mais do que ali encontrei. O que encontrei soube-me a pouco.

Mann conta aqui a história de um casal que vai passar férias a Itália com os seus dois filhos pequenos, um dos quais uma menina com oito anos meio franzina para idade que suja o fato de banho e o despe correndo nua pela praia... até que um senhor interpela o pai e o questiona acerca da moral, dos bons costumes e da sua ausência de respeito para com os italianos. Mas... não é aqui que se encontra o centro da nossa história!

O centro da nossa história encontra-se no espectáculo a que essa familia vai assistir já por volta das 21h levado a cabo por Cavalieri Cipolla, uma espécie de mágico (hipnotizador), acompanhado de Mario. A figura de Mario é quase "dormente" durante todo o espectáculo, tendo apenas um papel preponderante no final da história e, antes disso, no término do espectáculo. Quando "desperta" depois de um beijo e saca de uma arma disparando alguns tiros ao perceber que tinha estado a ser gozado e manipulado na sua dor...

Em relação a Cipolla, padecendo de uma deficiência física (num braço?!) que o impediu de lutar na guerra, fala, fala e não diz nada de efectivo. Porém, deixa a plateia em completo êxtase com a forma como discursa. Nem as crianças querem ir para casa antes do espectáculo, longo no tempo e tarde nas horas, terminar. 

No fundo, "Mario und der Zauberer" é uma alegoria aos lideres fascistas. Todavia, talvez por ter partido com expectativas elevadas, creio que ficou algo aquém do que esperava. Ainda assim, gostei.


https://www.goodreads.com/review/show/5160410210

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

"Die Tochter des Zauberers" de Heidi Rehn



"Die Tochter des Zauberers" de Heidi Rehn
ATB, 2020
444 Páginas


Li-o até ao fim a custo e por pura teimosa... porque a história apresentada em "Die Tochter des Zauberes" ["A Filha do Mágico"] não me convenceu e boa parte do livro não nos leva a lado nenhum. 

É o cabaré político "Die Pfeffermühle", a admiração e bajulação constante a Erika Mann por ser uma mulher especial e cheia de qualidades e, ao mesmo tempo, por estar sempre preocupada com toda a gente e esquecer-se de si própria, a relação - para muitoS excessivamente e demasiado próxima - com o irmão Klaus, o interesse numa relação da parte de Maurice (penso que Maurice Samuel) e de Martin Gumpert, o ciúme de Therese Giehse, ... 

E é em circulo, sobre isto, que a história é contada, quando em sinopse o argumento central seria a relação com Martin Gumpert e a sua necessidade de escolher entre a sua liberdade e independência e uma vida mais estável com o médico. Porém, essa relação tem, a meu ver, muito pouco palco no livro... Só se torna central nos últimos 4/5 capítulos e não se sente grande romance entre os dois... 

Fiquei quase com a sensação de que a autora queria a todo o custo escrever sobre Erika Mann e criar algo que não se passou desta forma na realidade ou que não teve assim tanto peso na vida de Erika. É verdade que Erika é uma mulher singular no seu tempo... nas paixões que teve (tanto em relação a mulheres como a homens), na relação com o irmão Klaus, no activismo político e contestário que assume contra o governo de Hitler ainda para mais sendo judia, mas... 

Não creio que Martin ou até Maurice tivessem tido assim tanta importância para ela ao ponto de justificar este romance todo que Heidi Rehn tenta criar... 

Portanto, não gostei. De todo. 


https://www.goodreads.com/review/show/5002808780

sábado, 15 de outubro de 2022

"A Mitologia dos Povos Germânicos" de Maria Lucília F. Meleiro



"A Mitologia dos Povos Germânicos" de Maria Lucília F. Meleiro
Editorial Presença 1994
210 Páginas


Sete são as partes em que se divide "A Mitologia dos Povos Germânicos": I- Introdução; II - Quem eram os Germanos?; III - A Presença do Sagrado; IV- A Mitologia dos Povos Germânicos (1. O Fogo e o Gelo; 2. A Água e a Terra; 3. A Morte e a Vida; 4. O Bem e o Mal); V- Wagner a e a nova era: ancoragem com os mitos tradicionais. A missão de Siegfried; VI - A Tecnização do Mito. Advento e Queda do 3º Reich; e VII - Do Mito Fáustico ao Mito dos novos Vikings. Sete é o número da espiritualidade... o que não deixa de ser curioso.

E efectivamente curiosa é também esta obra. Nem sempre motivadora de uma leitura corrida sem pausas, a verdade é que "A Mitologia dos Povos Germânicos" ensina bastante sobre a simbologia envolvida neste tema e reflectida em algumas obras como "Beowulf", "Doutor Fausto", ... Mas não se fica por aqui indo em profundidade aos porquês.

Sem querer entrar em maiores detalhes, recomendo a sua leitura a todos os que se interessem tanto por mitologia germânica/nórdica como também a todos aqueles que lendo obras como o "Doutor Fausto" pretendam perceber a fundo o que ali está em causa... seja na versão de Goethe ou na de Mann. 

Um bom livro, embora, por vezes, a escrita pudesse ser um pouco menos académica... para chegar a um maior público!

https://www.goodreads.com/review/show/4928831731


quarta-feira, 21 de setembro de 2022

"The Magician" de Colm Tóibín


"The Magician" de Colm Tóibin
Penguin, 2022
448 Páginas

                                                                  

"The Magician" do autor irlandês Colm Tóibín é um livro vencedor dos prémios "The Rathbones Folio Prize 2022" e "The David Cohen Prize". E facilmente se compreende o porquê...

A escrita é simples do ponto de vista literário sem que isso lhe retire a beleza. É agradável de ler e para quem já mergulhou com alguma profundidade e detalhe na obra de Thomas Mann, enquanto escritor, ainda mais. 

Todo o foco de Tóibín encontra-se na construção do ambiente (temporal e familiar) de Thomas Mann e na forma como este se reflectirá em alguns dos seus livros, como "Os Buddenbrook", "A Morte em Veneza","A Montanha Mágica", "Lotte em Weimar" e "O Doutor Fausto".

Por outro lado, quando comecei "The Magician" foi como se estivesse a reler "Tonio Kroger" e "Os Buddenbrook" dada a inquestionável existência de semelhanças entre estas duas obras e a história da vida de Mann. No caso da primeira, destaco, por exemplo, a homosexualidade escondida de Tonio e de Mann, a tensão entre a sua paixão pela literatura e a obrigação de se dedicar aos negócios da empresa do pai...

Na verdade, e da minha experiência ("work in progress") de Mann, as suas obras - mesmo tratando-se de ficção - são muito auto-biográficas, pelo que a visão que Tóibín nos dá de Mann, o homem por trás dos livros, acaba por encaixar muito bem. 

"The Magician" evidencia Mann enquanto presença ausente na família (como filho, como irmão, como marido - conclui-se que o casamento com uma mulher é fundamentalmente para esconder as suas tendências homosexuais-, como pai - porque focado primariamente em ser um grande escritor-) e até como alemão. Aliás, Tóibín retrata muito bem o sentimento de Mann (e da mulher) se sentir estrangeiro nos EUA para onde foge (a mulher era judia) do III Reich e depois a impossibilidade de voltar à Alemanha uma vez terminada a guerra (por ter abandonado o seu país para se salvar), bem como a decisão de se fixar na Suíça para aí terminar os seus dias. 

Ao mesmo tempo, essa ausência, esse afastamento da realidade próxima, reflecte-se também na relação com o irmão Heinrich Mann, que não consegue triunfar no mundo da literatura como ele, acabando ideologicamente por se aproximar do comunismo. Há um curioso acentuar de diferenças, diria que como o dia para a noite, entre ambos os irmãos... Até na forma como ambos lidam com o suicidio das irmãs: o imperturbável Thomas vs o perturbável Heinrich.

Gostei muito.

https://www.goodreads.com/review/show/4968590809


domingo, 4 de setembro de 2022

"Abschiedsfarben" de Bernhard Schlink


"Abschiedsfarben" de Bernhard Schlink
Diogenes, 2020
232 Páginas

"Abschiedsfarben" ["Cores de despedida"] de Bernhard Schlink é um livro composto por nove histórias, todas elas escritas em torno das despedidas. As que gostei mais foram: "Gelibte Tochter", uma história em que o padrasto desenvolve uma relação mais próxima (talvez até demasiado) com a enteada do que aquela que esta mantém com a mãe, e "Jahrestag", uma história centrada na considerável diferença de idades entre um casal. 

Estas despedidas tanto oprimem como libertam, dizendo respeito a fases da vida, esperanças, expectativas, medo e sofrimento. Nestas histórias há de tudo um pouco: relações amorosas, relações de amizade, relações entre pais e filhos. Todas estas relações, independentemente de serem amorosas ou não, têm em comum o facto de serem dificeis... e envolverem despedidas. A culpa, tema "querido" deste autor, assim como a questão da melancolia e nostalgia encontram-se aqui igualmente presentes.

Há uma necessidade de apurar a verdade... enquanto se lida com o sucesso e o fracasso do amor, a confiança e a traição, a ameaça e a superação de memórias, a aproximação da morte...

Por exemplo, em "Gelibte Tochter", questiona-se por que é que do que é errado não se pode tirar algo certo? Mara, a enteada, é homosexual e apesar dos vários esforços para engravidar não consegue ser mãe. Um dia o padrasto acorda e percebe que se envolveu fisicamente com a enteada... Tem alguma dificuldade em perceber como aquilo aconteceu e porquê... E ainda mais quando esta aparece grávida. Não se vem a saber que ele é o pai que lhe permite ser mãe, mas a verdade é que todos ficam felizes... A mãe de Mara, a namorada de Mara, a própria Mara e até ele... Que sem querer resolveu o problema, ao mesmo tempo que se sente culpado pela situação... Uma história talvez algo bizarra, mas que conseguiu deixar-me a pensar.

E deixar-nos a pensar, a questionar e a reflectir sobre as situações é uma caracteristica muito marcante de Schlink. Algo que o torna num dos meus escritores alemães preferidos, sem qualquer dúvida!

Infelizmente, o livro não está traduzido para português nem para inglês até ao momento, mas a quem o puder/conseguir ler na sua língua original... Recomendo.

https://www.goodreads.com/review/show/4853782983


quinta-feira, 11 de agosto de 2022

"Emotional Wellness: Transforming Fear, Anger and Jealously into Creative Energy" de OSHO



"Emotional Wellness: Transforming Fear, Anger and Jealously into Creative Energy" de OSHO
Harmony, 2007
304 Páginas


"Emotional Wellness: Transforming Fear, Anger, and Jealously into Creative Energy" encontra-se dividido em três partes: I-Understanding the nature of emotions; II - Emotional wellness: reclaiming our inner harmony; III - Watchfulness: the key to transformation. E termina com uma última parte, não identificada como tal, constituida por mediações e exercicios para transformação. 

Com efeito, este não é o tipo de livro para se ler demasiado rápido. É preciso tempo para o ler e depois reflectir. Só assim se poderão operar algumas transformações... em energia criativa. 

Se na primeira parte o leitor consegue fazer uma análise do que são emoções (apontando para a ideia de movimento, mudança e de algo que não é permanente) e sua relação com o corpo, na segunda parte o foco encontra-se primeiramente na importância de aceitar as emoções (porque rejeitar origina sofrimento e ao aceitá-las tornamo-nos livres) e, de seguida, na raiva, tristeza e depressão ("ramos da mesma árvore"), no ciúme e no que separa e opõe o medo ao amor. E, de facto, é nesta segunda parte que está, para mim, a parte mais importante do livro. 

Na última, a ideia de OSHO assenta no papel da transformação e não supressão dos sentimentos. E o modo de transformar varia consoante sejamos pessoas do tipo pensamento, emoção ou acção, uma abordagem que considerei bastante inteligente da parte do autor...Faz todo o sentido. 

"Emotional Wellness: Transforming Fear, Anger, and Jealously into Creative Energy" é, deste modo, um livro útil a qualquer um de nós em algum momento da nossa vida (estando publicado em Portugal com o título "Emoções" da Pergaminho). E espantoso é também como ler OSHO continua a ser algo que faço com muito agrado!

***

"Anger is active sadness; sadness is inactive anger". - p.124

"Anger and sadness are two faces of the same energy, repressed." - p.125

"Depression means that somehow anger is in you in a negative state. Depression is a negative state of anger." - p.141

"love creates a great need to be alone and aloneness creates a great need to be together." -p.202


https://www.goodreads.com/review/show/4202991185

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

"Strategic Doing: Ten Skills for Agile Leadership" de Edward Morrison, Scott Hutcheson, Elizabeth Nilson, Janyce Fadden, Nancy Franklin



"Strategic Doing: Ten Skills for Agile Leadership" de Edward Morrison, Scott Hutcheson, Elizabeth Nilson, Janyce Fadden, Nancy Franklin

Willey, 2019

224 páginas


Doze são os capítulos que compõem "Strategic Doing: Ten Skills for Agile Leadership", sendo o primeiro o ponto de partida depois de feita em capítulo próprio a introdução e o décimo segundo o ponto de chegada/conclusão já apresentados devidamente - um por capítulo - os dez skills necessários à liderança Agile. É também este último capítulo o mais importante e directo de perceber. 

Durante a leitura, achei que os autores tanto queriam explicar e detalhar para se tornarem - supostamente - mais claros e compreensíveis que acabavam por se tornar bastante confusos. De igual modo, nem sempre achei que os exemplos práticos escolhidos fossem os melhores... Por vezes, fiquei mesmo com a sensação de estar a ler "uma manta de vários retalhos". 

Voltando ainda aos capítulos, a estrutura é a seguinte: 

1- You are here

2-Create and maintain a safe space for deep, focused conversation (skill 1)

3- Frame the conversation with the right question (skill 2)

4- Identify your assets, including the hidden ones (skill 3)

5- Link and leverage assets to identify new opportunities (skill 4)

6- Look for the "big easy" (skill 5)

7- Convert your ideas to outcomes with measurable characteristics (skill 6)

8- Start slowly to go fast - but start (skill 7)

9- Draft short-term action plans that include everyone (skill 8)

10 - Set 30/30 meetings to review, learn and adjust (skill 9)

11 - Nudge, connect and promote to reinforce new habits (skill 10)

12-Ten skills. Got it. Now what?

Para quem tiver interesse em ler de forma mais detalhada algumas das ideias deste livro, poderá fazer fazê-lo, em inglês, neste outro texto escrito por mim: https://dataanalyticsandtech.blogspot.com/2022/08/strategic-doing-and-importance-of.html

https://www.goodreads.com/review/show/4898144301

domingo, 24 de julho de 2022

"As a Man Thinketh" de James Allen



"As a Man Thinketh" de James Allen
Amazon, s/a
63 páginas


Escrito em 1903, "As a man thinketh" de James Allen concentra-se no poder do pensamento, tendo como objectivo estimular o leitor a descobrir e a analisar sobre a força que os nossos próprios pensamentos podem ter na construção e destruição da nossa vida. 

O livro é composto por sete capítulos (sete é o número que simboliza a espiritualidade e a perfeição): 1- Thought and Character; 2 - Effect and Thought on Circumstances; 3- Effect of Thought on Health and the Body; 4 - Thought and Purpose; 5 - The Thought-Factor in Achievement; 6 - Visions and Ideals; 7 - Serenity. 

Apesar de não ter encontrado algo completamente novo em Allen, a forma bonita como escreve...  Serena e calma, vale por tudo. Ademais, ler "As man thinketh" fez-me revisitar mentalmente um outro livro muito especial que li há vários anos atrás, "Jonathan Livingston Seagull" [o conhecido "Fernão Capelo Gaivota" em língua portuguesa] de Richard Bach, responsável por me fazer reflectir sobre a necessidade de quebrar as correntes do pensamento para ser livre... e voar. E é também nesta "categoria especial" em que guardarei " As a man thinketh", até porque "A man is literally "what he thinks", his character being the complete sum of all his thoughts. (...) so every act of a man springs from the hidden seeds of thought, and could not have appeared without them. " - p.11

Assim, uma das passagens que mais evidencia a ideia principal do autor com esta obra é a seguinte: "Man is made or unmade by himself; in the armoury of thought he forges the weapons by which he destroy himself; he also fashions the tools with which he builds for himself heavenly mansions of joy and strenght and peace." - p.12

Por outro lado, Allen toca, ainda que levemente, na ideia de que o corpo é um servo da mente e que a doença e a saúde estão enraizadas no pensamento, algo que em breve irei explorar em mais detalhe quando ler Louise Hay, conhecida por defender uma mudança de pensamentos para nos conseguirmos livrar de doenças que atingem o nosso corpo.  

Gostei bastante e só tenho pena de não me ter cruzado com este livro aos dezoito anos... Assim como aconteceu com o de Bach! Tinha feito a diferença na minha vida certamente.


https://www.goodreads.com/review/show/4859350191

domingo, 17 de julho de 2022

"Die Malerin des Nordlichts" de Lena Johannson



"Die Malerin des Nordlichts" de Lena Johannson
ATB, 2019
435 páginas


"Die Malerien des Nordlichts" ["A Pintora da Luz do Norte"] de Lena Johannson conta-nos de forma romanceada a vida de Signe Munch Siebke, sobrinha do pintor norueguês, Edvard Munch, mais conhecido pelo quadro "O Grito" (https://pt.wikipedia.org/wiki/Edvard_Munch#/media/Ficheiro:The_Scream.jpg).

Filha de Peter Andreas Ragnvald Munch, primo do pintor, e Anna Dahl, escritora, que nunca gostaram um do outro, Signe teve aos 10 anos de idade os pais separados e, por isso, cedo aprendeu a viver com saudades da mãe. Casou com o primeiro marido, como resultado de uma escolha feita pelo pai, mas acabou por ser infeliz... até porque a sua paixão pela pintura é desincentivada e incompreendida. 

Mais tarde, já separada do primeiro marido e completamente dedicada à pintura, conheceu Einar Siebke, professor de música, e com ele se casou. Einar sempre a incentivou a pintar e, por isso, quando a oposição deste ao Nacional-Socialismo lhe roubou a vida, Signe não conseguiu vencer nem suportar a tristeza do seu desaparecimento... A pintura sempre foi a sua paixão, mas Einar também o era! 

O livro é bonito, mas admito que até Einar entrar na narrativa tive momentos de quase completo tédio e vontade de abandonar a leitura. A vida de Signe era triste e infeliz e monótona, sem cor, o que mudou apenas com Einar... Totalmente. Aliás, foi só a partir do desenvolvimento da relação entre os dois que consegui ler sem grandes paragens e entusiasmar-me a sério. Antes disso, esforcei-me para continuar. Capítulos demasiado extensos e demasiado ênfase nas aulas de pintura que Signe recebeu logo após se ter separado... estavam a tornar a leitura algo entendiante, admito. 

No geral, gostei. Porém, "Die Malerin des Nordlichts" não ficará de todo entre os meus livros preferidos desta colecção.

https://www.goodreads.com/review/show/4641383771

segunda-feira, 11 de julho de 2022

"Der Waldgang" de Ernst Jünger


"Der Waldgang" de Ernst Jünger
Klett-Cotta, 2018
101 Páginas


De leitura complexa, mas não menos interessante, Ernst Jünger continua a ser dos meus escritores alemães preferidos.

"Der Waldgang" trata-se de um ensaio publicado em 1951 e, entre as várias ideias apresentadas, foca-se na do "Waldgänger", aquele que dotado de força própria (sem ser um anarquista) retira-se para a floresta, onde encontra a liberdade no conteúdo e na forma, "aqui e agora". Porque o Waldgänger é de acções livres e independentes (e, portanto, também nada tem a ver com um soldado da guerra), é uma espécie de "rebelde da floresta", que olha, analisa e julga por si próprio. Sem se preocupar com o que o inimigo pensa dele, até porque ele está habituado à solidão... 

A floresta é, pois, entendida como um lugar secreto, um santuário, um lugar de paz. Talvez até um lugar de resistência e de verdadeira força depois de feita a "passagem através da morte".

E a verdade é que não basta ler uma única vez este livro. Há que lê-lo várias vezes até se compreender devidamente a mensagem de Jünger e se perceber quem é o Waldgänger e qual a sua importância nos nossos dias (e no pós Segunda Guerra Mundial, anos cinquenta, quando é publicado pela primeira vez). 

https://www.goodreads.com/review/show/4825318457

domingo, 26 de junho de 2022

"Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas" de Dale Carnegie



"Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas" de Dale Carnegie
Lua de Papel, 2022
285 páginas

"Como fazer amigos e influenciar pessoas" é um daqueles livros para se ter na mesa de cabeceira e, volta e meia, dar uma vista de olhos para avivar a memória acerca da melhor forma de lidar com as pessoas de forma não agressiva e respeitosa. É acima de tudo um livro de comunicação para as relações humanas, sejam elas de que âmbito for. 

Dale Carnegie divide a obra em quatro grandes partes: a primeira, "Técnicas Fundamentais para lidar com pessoas"; a segunda, "Seis maneiras de fazer com que as pessoas gostem de si"; a terceira, "Como conquistar pessoas para a sua forma de pensar"; e a quarta, "Seja um líder: como mudar as pessoas sem as ofender nem despertar ressentimentos". 

No fim de cada capítulo é apresentado um principio e no fim de cada parte uma síntese com todos os principios enunciados, o que a meu ver facilita a leitura e revisitação dos principios todas as vezes que o leitor o pretenda fazer. 

E não se trata de um livro de como manipular pessoas, ao contrário do que uma leitura superficial ao título poderia sugerir... Mas sim de como abordar de forma gentil amigável e simpática os outros. 

Neste sentido, aqui fica um excerto de uma fábula apresentada, acerca do sol e do vento, muito sábia e ilustrativa do que se encontra nesta obra de Carnegie: 


"(...) Discutiam entre si qual deles era o mais forte, até que o vento disse: "Vou provar-te que sou eu. Vês o homemque ali está com um casaco? Aposto que lhe consigo tirar o casaco mais rapidamente do que tu." 

Então o sol escondeu-se atrás de uma nuvem e o vento soprou até quase se transformar num tornado, mas quanto mais forte soprava, com mais força o homem apertava o casaco contra si. 

Por fim, o vento acalmou-se e desistiu, e o sol saiu de trás da nuvem e sorriu gentilmente para o velho homem. Este, passado pouco tempo, limpou a testa e tirou o casaco. Foi então que o sol disse ao vento que a gentileza e a amabilidade são sempre mais fortes que a fúria e a força.(...)" (pp.165 e 166). 


https://www.goodreads.com/review/show/4771931443



domingo, 19 de junho de 2022

"Start with Why: How Great Leaders Inspire Everyone to Take Action" de Simon Sinek


"Start with Why: How Great Leaders Inspire Everyone to Take Action" de Simon Sinek
Penguin, 2019
256 páginas


Qual é o teu propósito, motivação ou crença? É sobre a importância de conhecermos e termos um "porquê" na nossa vida e passagem pelo mundo que Simon Sinek nos apresenta a obra "Start with Why: How Great Leaders Inspire Everyone to Take Action". 

O livro encontra-se dividido em seis partes:  1: “A world that doesn’t start with why”; 2: “An alternative perspective”; 3: “Leaders need a following”, 4: “How to rally those who believe”; 5: “The biggest challenge is success”; e 6: “Discover why". Destas seis partes, a segunda parte onde é apresentado o seu famoso "golden circle" que destaca a importância do "porquê", seguido do "como" e a terminar em "o quê". É aqui que está o cerne da sua teoria. 

Altamente recomendável pelo conteúdo que apresenta e pela forma com que expõe a razão e a necessidade de todos termos um porquê, "Start with Why" prima também, a meu ver, por defender a ideia de que nem todos têm de ser líderes nem há mal nenhum em ser um seguidor. Do mesmo modo, líderes e seguidores são ambos importantes. Numa empresa é importante que haja quem sonhe e tenha visão para o futuro, ao mesmo tempo que haja quem seja mais realista e se preocupe com a concretização no presente. 

Para quem tiver interesse m ler de forma mais detalhada algumas das ideias deste livro de Simon Sinek, poderá fazer fazê-lo, em inglês, neste outro texto escrito por mim: https://dataanalyticsandtech.blogspot.com/2022/07/start-with-why-book-what-is-your.html


https://www.goodreads.com/review/show/4793981802

quarta-feira, 8 de junho de 2022

"A Mais Breve História da Rússia. Dos Eslavos a Putin" de José Milhazes


"A Mais Breve História da Rússia" de José Milhazes
Publicações Dom Quixote, 2022
299 páginas

"A Mais Breve História da Rússia" não é o tipo de livro que, ao contrário do que já li e ouvi dizer por aí, se escreve numa noite porque se quer aproveitar o momento da guerra na Ucrânia e lucrar com esta. Quem escreve ou já escreveu trabalhos desta envergadura sabe-o. É impossível preparar um livro destes, tão pensado e estruturado, em tão curto espaço de tempo, até porque qualquer leitor atento percebe que este é um livro que envolve muito trabalho, investigação e conhecimento. 

O livro encontra-se dividido em cinco partes: 1. Rus - O início da Rússia (século VI a.C. - 1147); 2. O Grão-Ducado de Moscóvia - Estado Russo (1147 - 1721); 3. Império Russo (1721-1917); 4. União Soviética (1917/1922 -1991); 5. Federação da Rússia (1991-actualidade). 

No decorrer da leitura, senti que José Milhazes se manteve sempre muitissimo neutro e objectivo, exceptuando o momento em que começa a escrever sobre o período que ele viveu na pele em solo russo. Mas não o censuro por isso nem tão pouco entendo que isso tenha comprometido a qualidade da obra! 

Milhazes viveu e estudou na Rússia boa parte da sua vida. É doutor pela Universidade do Porto, tendo-se debruçado na sua tese sobre um tema em que mistura Rússia e Portugal, algo que lhe é muito próprio e característico. E convém perceber o contexto do autor para também compreender a sua obra. 

Aliás, ao longo de "A Mais Breve História da Rússia" há sempre uma preocupação do autor em apresentar histórias de portugueses que fizeram história na Rússia ou do interesse russo em Portugal, o que achei muito interessante e peculiar no seu livro. 

No que respeita à história russa propriamente dita, e tirando o período de Catarina, a Grande (de quem sou grande admiradora), da União Soviética e da mais actual Federação Russa (que conhecia melhor sobretudo por causa da perspectiva das relações germano-russas), gostei bastante de ter confirmado que a origem da Rússia começou na Ucrânia e que a Rússia sempre procurou o acesso ao mar (Báltico e Negro) - algo que parece estar frequentemente em causa quando o seu poder ameaça expandir-se espacialmente - , e de ter percebido que Ucrânia-Rússia-Bielorússia sempre foram muito próximas até porque têm uma origem "comum". De uma maneira geral, a história russa tem muito de traição, vingança e violência friamente cruel, sendo que os campos de concentração não são um exclusivo do passado alemão... E isto é algo que muitos desconhecem, infelizmente.

Por outro lado, a cultura russa é fascinante, tal como a sua história e geopolítica, sendo algo que irei gostar de continuar a explorar, até porque os poderes russo e alemão sempre foram muito próximos! Milhazes abre o apetite do leitor para saber mais... procurar mais... E isso é algo que continuarei a fazer. 

De facto, este é um excelente ponto de partida para quem quiser compreender mais sobre o que é e de onde vem a ideia de Rússia, fornecendo factos passados na história russa que nos permitem olhar para o presente e analisar a guerra russa na Ucrânia com olhos mais conscientes e críticos...!

Gostei muito e recomendo!


https://www.goodreads.com/review/show/4706198396

segunda-feira, 18 de abril de 2022

"The Epic of Gilgamesh" de N. K. Sandars (tradutor)




"The Epic of Gilgamesh" de N. K. Sandars (tradutor)
Penguin, 1972
128 páginas

Esta versão de "The Epic of Gilgamesh", traduzida por N. K. Sandars está escrita em prosa, o que acaba por facilitar em muito a leitura de um épico sumério, escrito em poema e encontrado incompleto, muito anterior a "A Iliada" de Homero.  

Para além do Prólogo, o épico é aqui apresentado com sete partes, a saber: I.The coming of Enkidu, II.The Forest Journey, III.Ishtar and Gilgamesh, and the death of Enkidu, IV.The Search for Everlasting Life, V. The Story of Flood, VI. The Return and VII.The Death of Gilgamesh. Para os sumérios o sete era um número especial, misterioso, místico e sagrado, talvez porque é um número primo que apenas se divide por 1 e por ele próprio. Em numerologia, o sete simboliza habitualmente a totalidade, a perfeição, a consciência, o sagrado e a espiritualidade, bem como a conclusão cíclica e a renovação.

Este aspecto numerológico não deixa de ser absolutamente fascinante para mim, até porque um dos temas centrais do épico assenta na procura do homem pela imortalidade, algo que é profundamente espiritual.

Por outro lado, a floresta, que é palco de uma das partes mais bonitas do épico para mim (na segunda parte, tal como a terceira e a quarta), simboliza simultaneamente um local privilegiado de diálogo com os deuses e viagem à interioridade (e em alguns casos ao inconsciente, embora aqui não se aplique) - tal como a montanha que aqui surge - e um lugar de perigos e armadilhas, pois é pouco depois da incursão na floresta que Gilgamesh perde o seu melhor amigo e se inicia a sua necessidade de busca da imortalidade.

A floresta em causa não é uma floresta qualquer. É uma floresta de cedros, tendo o cedro um significado igualmente espiritual por se considerar como a casa de deuses importantes. Consta inclusivamente que, na antiga Suméria, há cerca de 7 mil anos atrás o cedro foi apelidado de "Árvore Mundo", a casa de Ea, seu deus maior. Está na bandeira libanesa enquanto simbolo de imortalidade e de força (é a árvore nacional libanesa e, de igual modo, paquistanesa). O cedro é ainda  utilizado para cura, purificação e protecção espiritual. 

Portanto, diria que, e sem querer ser exaustiva, todo o épico, apesar de incompleto, está pleno de referências simbólicas à espiritualidade (e encontro com os deuses), à procura do eu e da imortalidade...e isso, a meu ver, torna-o muito especial e único. 

Para terminar, e a propósito da questão da imortalidade, deixo aqui alguns excertos: 


"Only the gods live for ever with glorious Shamash, but as for us men, our days are numbered, our occupations are a breath of wind." (p.71)

"When the gods created man they allotted to him death, but life they retained in their own keeping. As for you, Gilgamesh, fill your belly with good things; day and night, night and day, dance and be merry, feast and rejoice. Let your clothes be fresh, bathe yourself in water, cherish the little child that holds your hand, and make your wife happy in your embrace; for this too is the lot of man." (p. 102)

"There is no permanence. Do we build a house and stand for ever, do we seal a contract to hold for all time? Do brothers divide an inheritance to keep for ever, does the flood-time of rivers endure? It is only the nymph of the dragoon-fly who sheds her larva and sees the sun in his glory. From the days of old there is no permanence." (pp. 106 e 107). 


https://www.goodreads.com/review/show/4675340810

segunda-feira, 4 de abril de 2022

"A Sabedoria Secreta da Natureza" de Peter Wohlleben


"A Sabedoria Secreta da Natureza"  de Peter Wohlleben
Pergaminho, 2019
207 páginas

Apesar de ser uma leitura interessante, "A Sabedoria Secreta da Natureza" fica a meu ver bastante atrás de "A Vida Secreta das Árvores" no interesse que desperta, no conhecimento que nos oferece e na forma como está estruturado. 

Às vezes fiquei com a sensação de que este livro foi escrito mais para aproveitar a onda de sucesso que o autor tivera com a temática das árvores do que propriamente porque tivesse algo de novo e realmente relevante a dizer. 

Ainda assim, gostei do livro e destaco algumas das ideias que melhor consegui reter, como por exemplo: as formigas são da família das abelhas e alimentam-se das fezes dos pulgões defendendo-os das joaninhas (porque as joaninhas comem pulgão), a parceria que se estabelece entre lobos e corvos no que toca a dividir a refeição de animais mortos e protegerem-se dos ursos, os galos silvestres alimentam-se de insectos e sobretudo de mirtilos (folhas e bagas) que habitualmente crescem na floresta desbastada, as poeiras do Saara são como fertilizantes das plantas. 

Por fim, é de referir que "A Sabedoria Secreta da Natureza" é o último livro da trilogia Mistérios da Natureza, sendo o primeiro volume desta "A Vida Secreta das Árvores" e o segundo "A Vida Secreta dos Animais". 

https://www.goodreads.com/review/show/4600335760

sexta-feira, 1 de abril de 2022

"Grace und die Anmut der Liebe" de Sophie Benedict



"Grace und die Anmut der Liebe"  de Sophie Benedict
ATB, 2020
386 páginas


"Grace und die Anmut der Liebe" começa pouco antes de Grace Kelly completar 18 anos e ir estudar Cinema para Nova Iorque contra a vontade dos seus pais e termina com a sua partida para a Europa já destinada a casar com Rainer do Mónaco. 

A leitura é leve e ao início promete, mas com o decorrer da história fica bastante aquém do esperado. Grace apaixona-se rápido e desapaixona-se ainda mais depressa, sendo que a autora acaba por passar a imagem algo contraditória de alguém superficial, focada em ser uma grande atriz (que me parece ser a sua grande paixão) e encontrar um grande amor sem estar disposta a enfrentar grandes obstáculos. 

Há, porém, dois aspectos no livro acerca dela que muito admirei: o seu esforço para se tornar independente da "mesada" do pai e se tentar sustentar sozinha vivendo da publicidade/moda e, a relação estreita que desenvolve com Alfred Hitchcock que muito a apreciava e valorizava como actriz.

No geral, gostei do livro, mas está longe de estar entre os meus preferidos desta colecção. E este não é o primeiro livro que li acerca de Grace Kelly... O outro, cuja crítica poderão ler aqui https://www.goodreads.com/book/show/30116677, foi "Grace do Mónaco" de Jeffrey Robinson e pareceu-me muitissimo mais rico do ponto de vista de dar a conhecer quem foi Grace Kelly. 

https://www.goodreads.com/review/show/4600335032

domingo, 6 de março de 2022

"A Eneida de Virgílio contada às crianças e ao povo" de João de Barros



"A Eneida de Virgílio contada às crianças e ao povo"  de João de Barros
Livraria Sá da Costa Editora, 1999
273 páginas

Esta é uma versão em prosa d' "A Eneida" de Virgílio adaptada por João de Barros e devia tê-la lido há vários anos atrás, ainda nos anos noventa, quando li uma versão semelhante d' "A Odisseia" de Homero.

Lendo-a agora, neste preciso momento, gostei e li-a em poucos dias, mas fiquei a pensar que "A Odisseia" me pareceu sobejamente mais entusiasmante. Não sei se foi da a ter lido bastante mais nova, se é mesmo do conteúdo das obras em causa(ou das adaptações em prosa) e talvez só venha a tirar isso a limpo quando me decidir a ler os originais em poesia muito em breve. 

Mas... Aqui Eneias é a figura central vindo de Tróia para fundar Roma ("(...) ventre fecundo de altos heróis, dominadores do Mundo, cidade dos sete mundos que o Universo respeitará..." (p.149)), após superar várias provações: "Há um país que os Gregos chamam Hespéria, célebre pela sua antiguidade, pela coragem dos seus habitantes, e pela fertilidade da sua terra. Chama-se hoje Itália, segundo o nome de um dos seus reis. É nesse país que deves estabelecer-te. (...)" (pp.66 e 67); "Filho de Vénus, disse-lhe, tens de seguir o teu fado. Haja o que houver, a paciência deve triunfar sempre da sorte!" (p.128).

Em "A Eneida" temos tanto relatos de viagem como de guerra e muita mitologia à mistura. A narrativa é fluida e não aborrece nem um só instante. Li-a com enorme entusiasmo e avidez do início ao fim, mas chegada ao fim... Ficou a faltar-me algo?! Será da adaptação, do original ou de mim mesma? Creio que tenho mesmo que ir ao original!

https://www.goodreads.com/review/show/4585940175

sábado, 19 de fevereiro de 2022

"Runemarks" de Joanne Harris


"Runemarks" de Joanne M. Harris
Orion Books, 2016
513 páginas

Joanne Harris encontra-se desde há vários anos entre os meus escritores preferidos. Gosto do tom da sua escrita, do apelo que faz aos sentidos, às cores, aos aromas e aos sabores. E foi isso e o facto de não ler nada dela há algum tempo que me fez olhar para este "Runemarks". 

"Runemarks" talvez não seja o tipo de livro para todo o tipo de leitor, até porque se insere no género literatura fantástica puro e duro. E... como se isso não bastasse é uma história de deuses nórdicos (AESIR e VANIR) com runas e muito mistério à mistura. Há também não deuses presentes na história, mas com poderes especiais... ou melhor, mágicos e com curiosas histórias de vida desconhecidas dos próprios quase até mais de metade do livro. Falo, por exemplo, da personagem principal: a jovem Maddie Smith.

O livro está estruturado em 9 "livros", estando em concordância com os também nove mundos contidos em Yggdrasil (árvore da vida), da qual temos um mapa logo no início, seguido de uma lista de personagens e de quais as relações entre si. Tudo parece pensado ao pormenor.

Quem não tiver grande conhecimento de mitologia nórdica, prepare-se para ir investigando aqui e ali de forma a melhor perceber a relação entre os deuses com que nos vamos cruzando ao longo da história e o porquê de serem conhecidos de determinada maneira (Loki é conhecido como o trapaceiro apenas para que fiquem com uma ideia)... Para quem já souber um pouco ou souber bastante de mitologia nórdica, a leitura ainda se torna mais viva, plena de acção e cheia de graça, digamos assim. 

Gostei bastante e siga para o segundo volume "Runelight"!


https://www.goodreads.com/review/show/4292714619

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

"Turn the Ship Around!: A True Story of Turning Followers into Leaders" de L. David Marquet




"Turn the Ship Around!: A True Story of Turning Followers into Leaders"  de L. David Marquet
Penguin, 2015
272 páginas

 "Turn the Ship Around!: A True Story of Turning Followers into Leaders" é, para mim, um livro de liderança. Não é propriamente um livro-livro, pois diria que o conteúdo do mesmo se concentra no capítulo 27 e basta ler esse mesmo capítulo para ficar a perceber como se transforma um seguidor num líder. 

Do ponto de vista literário, de quem conta uma história e da forma como o faz, acho-o pouco conseguido. Fiquei várias vezes com a sensação de que o autor se sentia algo inseguro e desconfortável na sua "missão" de passar o conhecimento prático adquirido. 

Por isso, diria que o livro vale acima de tudo pelo 27.º capítulo. E esse está muitissimo bem conseguido, reunindo todas as ideias principais que Marquet vai apresentado ao longo das 200 e tal páginas. 

Para quem quiser saber um pouco mais antes de se decidir a lê-lo, tenho um post em inglês acerca dele aqui: https://dataanalyticsandtech.blogspot.com/2022/02/turn-ship-around-book-of-how-and-why.html

https://www.goodreads.com/review/show/4530089648

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

"A Germânia" de Tácito




"A Germânia" de Tácito
Vega, 2011
71 páginas

"A Germânia" de Tácito é uma obra de inegável valor historiográfico acerca dos germanos, povo temido pelo Império Romano e, ao mesmo tempo, admirado pelo autor que a redige em 98.


Refiro-me, porém, a um pequeno livro de 61 páginas, das quais metade está em latim e a outra metade em português. Em termos de estrutura, Tácito apresenta-nos a sua "Germânia" em duas partes: uma primeira, a minha preferida, dedicada à origem dos germanos (aspecto físico, costumes e instituções) e uma segunda, na qual enumera os diferentes povos germânicos e respectiva localização geográfica. 


Algumas das ideias para mim mais interessantes (e não necessariamente novas por "ossos do ofício") aqui apresentadas foram: 

- os germanos como autóctones "e pouco misturados com outras raças por migrações e relações de hospitalidade", "uma raça específica e sem mescla, apenas semelhante a si própria" (pp. 17 e 19); 

-a Germânia como sendo "feia nas terras, áspera no clima, triste nos costumes e aparência" (p.17); - "olhos ferozes e azuis, cabeleiras ruivas, corpos grandes e apenas vigorosos para a fúria dos ataques"(...). Suportam mal a sede e o calor, mas habituaram-se ao frio e à fome (...)" (p.21); 

-"quando não andam em guerras, não passam muito tempo em caçadas, mas na ociosidade, entregues ao sono e à comida" (p.31). 

-"Vivem separados e isolados, segundo lhes agradou uma fonte, um campo, um bosque." (p.31); 

-"Também costumam abrir subterrâneos e tapam-nos com muito estrume, como refúgio contra o Inverno e receptáculo de produtos da terra, pois abrandam o rigor dos frios em tais lugares e, se acaso vier o inimigo, as coisas descobertas são devastadas, mas as ocultas e enterradas ou são desconhecidas ou escapam à vista, pelo simples facto de terem de procurar-se."(p.33);

- "(...) são quase os únicos bárbaros que se contentam com uma mulher para cada um (...). Não é a mulher que dá o dote ao marido, mas o marido à mulher. (...) A mulher (...) traz algumas armas ao marido. (...) aceitam um só marido, como um corpo e uma vida (...)" (pp. 33 e 35); 

- "não dividem o ano em tantas partes como nós: conhecem e têm designações para Inverno, Primavera e Verão; do Outono tanto ignoram o nome como os frutos" (p.41).


Finalmente, e num registo um pouco diferente, saliento a referência que é feita ao âmbar, resina fóssil que desde há vários anos muito me fascina pela região onde se desenvolve e pela forma como se desenvolve. Para os germanos, segundo Tácito, o âmbar não tem uso, "é suco de árvores, porque muitas vezes transparecem pequenos animais terrestres e insectos, que, envolvidos por este fluído, ficam depois fechados quando a matéria endurece. (...) Se sondarmos a natureza do âmbar aproximando lume, acende-se como uma tocha e alimenta uma chama espessa e perfumada; torna-se depois viscoso, como pez ou resina." (p.59)

https://www.goodreads.com/review/show/4462078943