terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

"Die Malerin" de Mary Basson




"Die Malerin" de Mary Basson
Aufbau Verlag, 2019
427Páginas


"Die Malerin" [A Pintora] de Mary Basson, originalmente escrito em língua inglesa com o título "Saving Kandinsky" centra-se na figura de Gabriele Münter, uma pintora do Expressionismo alemão e fotógrafa, que salvou os quadros de Wassily Kandinsky e do movimento Blaue Reiter [cavaleiro azul] de cairem nas mãos do Nacional-Socialismo e serem destruídos. 

Após vários anos de ligação amorosa a Kandinsky, de quem também tinha sido aluna, Münter recusou-se a devolver os quadros pintados pelo próprio, quando o advogado deste lhe comunica a decisão do pintor não querer mais encontrar-se pessoalmente com ela (e se ter casado com outra mulher, entretanto). Isto passou-se sensivelmente após a Primeira Guerra Mundial. Aliás, foi a Guerra e o facto de ser russo que o levou a deixar a Alemanha. 

Apesar da depressão e de praticamente ter deixado de pintar, na sequência desta "descoberta" Münter acaba por recuperar e torna-se uma fiel guardiã (juntamente com o homem com quem vive Johannes Eichner, um historiador de arte) desses quadros de Kandinsky até (quase) ao fim da sua vida. Aos oitenta anos, Münter decide doar tudo à Städtische Galerie na Lenbachhaus em Munique. 

A história de Gabriele Münter é muito bonita e este livro tem passagens incrivelmente bem escritas para quem for um admirador de arte e da pintura em particular. O que mais me impressionou na vida de Münter, de quem nunca tinha ouvido falar apesar de ser fã de Kandinsky desde os meus 16 anos, foi a devoção que esta dedicou aos quadros do pintor (e num certo sentido ao próprio pintor) mesmo após a separação. Se não fosse ela, muitos dos quadros que hoje conhecemos e contemplamos talvez não existissem...  


https://www.goodreads.com/review/show/3825429742

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

"Frida Kahlo und die Farben des Lebens" de Caroline Bernard



"Frida Kahlo und die Farben des Lebens" de Caroline Bernard
Aufbau Verlag, 2019
400 Páginas

"Frida Kahlo und die Farben des Lebens" de Caroline Bernard conta, de forma romanceada, a vida da pintora mexicana Frida Kahlo, de quem eu sou grande admiradora desde há vários anos, quando numa aula de psicologia do ensino secundário nos foi dado a ver o filme "Frida" com Salma Hayek como protagonista. E essa admiração nada tem a ver com as suas convicções políticas nem com o feminismo.

A minha admiração profunda por Frida tem a ver com a forma heróica com que fez frente ao sofrimento e à dor, sem nunca desistir de viver, sem nunca desistir de pintar e dar cores intensas, vivas e garridas à vida até ao fim dos seus dias. 

E, de facto, Caroline Bernard apresenta-nos nesta sua obra um retrato, a meu ver, perfeito de Frida, desde o momento que esta teve aquele doloroso e inimaginável acidente quando o autocarro em que seguia chocou contra um eléctrico, condicionando a sua vida para sempre. A descoberta da pintura como fuga e "remédio" para a dor, uma alternativa ao sonho de estudar medicina que deixou para trás, os abortos tantas vezes retrados de forma surrealista, as traições do pintor Diego Riviera que sempre a amou e nunca a impediram de o amar loucamente também sempre e para sempre.  A força, garra e determinação para remar contra a maré e tentar encontrar alguma felicidade na autêntica revolução que faz à vida e, sobretudo, ao sofrimento físico de um corpo permanentemente doente. Tudo isto está presente e bem marcado em "Frida Kahlo und die Farben des Lebens" que é, sem sombra para dúvidas, um livro belíssimo sobre a pintora!

Adorei.

https://www.goodreads.com/review/show/3528239802

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

"Die Dame in Gold" de Valérie Trierweiler




"Die Dame in Gold" de Valérie Trierweiler
Aufbau Verlag, 2018
366 Páginas

Originalmente escrito em francês, com o título "Le Secret d'Adèle", "Die Dame in Gold" de Valérie Trierweiler centra-se na vida de Adele Bloch-Bauer (aqui: https://en.wikipedia.org/wiki/Portrait_of_Adele_Bloch-Bauer_I#/media/File:Adele_Bloch_Bauer,_c1915.jpeg), uma judia aristocrata, retratada por Gustav Klimt neste quadro: https://en.wikipedia.org/wiki/Portrait_of_Adele_Bloch-Bauer_I#/media/File:Gustav_Klimt_046.jpg (e neste também: https://en.wikipedia.org/wiki/Portrait_of_Adele_Bloch-Bauer_I#/media/File:Gustav_Klimt_047.jpg -ambos quadros roubados pelo regime Nazi e só recuperados muitos anos mais tarde pela sobrinha Maria). 

A autora apresenta uma versão de Adele como sendo uma mulher marcada pela morte dos filhos (por aborto espontâneo ou poucos dias após o nascimento), do irmão e, mais tarde, do próprio Gustav Klimt, de quem era amiga e com quem parece ter tido uma relação extra-conjugal ainda que breve. E, de facto, este peso da morte atravessa quase toda a obra, sendo mais acentuado no inicio e no fim da mesma. 

Efectivamente, Klimt surge como um agente libertador deste peso da morte e da dor de Adele. Talvez por essa mesma razão algumas das mais belas passagens deste livro sejam aquelas em que Trierweiler descreve a arte de pintar e, sobretudo, de retratar Adele por Klimt.

À parte disso, a figura de Adele não me causou grande impacto, talvez porque tinha acabado de ler um romance histórico sobre Frida Kahlo, essa autêntica força da natureza na forma como encarava a vida e fazia frente ao sofrimento. Foram mulheres muito diferentes, incomparáveis entre si. Concentrando-me em Adele, Adele preocupava-se em ajudar os desfavorecidos e, mais tarde, em apoiar os sobrinhos. Sofre bastante com a perda dos filhos que nunca chegará a ter... Essa foi, tanto quanto dá para compreender, a sua grande mágoa. 

Paralelamente, convém sublinhar o interesse manifestado por Adele nas sufragistas e na emancipação da mulher no geral - apresentados de forma superficial - , bem como na literatura (Stefan Zweig, Rainer Maria Rilke, Thomas Mann) e na psicanálise (Sigmund Freud) -parte muito interessante -. "Die Dame in Gold" passa-se antes, durante e pouco depois da Primeira Guerra Mundial, uma guerra para a qual se partiu com a firme convicção de que seria breve (o que em, em certa medida, me recorda um pouco a forma como muitos "partiram" para o primeiro confinamento de há um ano atrás...). 

Gostei muito do livro, embora considere que a autora peca por se forcar muito nessa mágoa de Adele, em especial nos capítulos iniciais da obra, o que carrega em demasia o romance... A título de curiosidade, devo mencionar que este é o terceiro livro que leio tendo o fascinante Klimt como uma das personagens (os outros foram: "O Beijo - A Paixão de Gustav Klimt" de Elizabeth Hickey e "Die Muse von Wien" de Caroline Bernard - aqui: http://outraformadeviajar.blogspot.com/2020/08/die-muse-von-wien-de-caroline-bernard.html).

https://www.goodreads.com/review/show/3807163750