domingo, 30 de junho de 2019

O Segredo de Copérnico, de Jean-Pierre Luminet

"O Segredo de Copérnico" de Jean-Pierre Luminet
Editorial Presença, 2009
291 Páginas


Gosto de astronomia apesar de ser uma simples curiosa e não ter assim tantos conhecimentos sobre o assunto... E gosto desde pequena quando na escola primária ouvi falar pela primeira vez da existência de outros planetas para além do nosso. 

Gosto também de figuras controversas surgidas na ciência e fora dela, revolucionadoras de mentalidades e ideias. 

Daí a escolha de "O Segredo de Copérnico" de Jean-Pierre Luminet. 

A história passa-se entre a Polónia, a Alemanha e a Itália. E tem intriga. Muita intriga e jogos de poder. Cruzamo-nos, para além de Copérnico, com figuras como Albrecht Dürer e Niccolò Machiavelli e a familia dos Bórgias. E também com os cavaleiros teutónicos muito pouco queridos na época, pelo menos, no espaço hoje pertencente à Polónia... 

Luminet romanceou a vida de Copérnico do inicio ao fim, permitindo-nos também aceder, por vezes, a alguns conhecimentos de astronomia e "testemunhar" a evolução decorrida até "à tomada de conhecimento" do heliocentrismo por Copérnico, cónego polaco. 

Interessante. Gostei. 

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Der Trafikant, de Robert Seethaler

"Der Trafikant" de Robert Seethaler
Kein & Aber Pocket
250 Páginas 

"Der Trafikant", publicado igualmente em língua inglesa como "The Tobacconist", apresenta a história de Franz um jovem que vem viver para Viena dos anos trinta, pouco antes do Anschluss [anexação] da Áustria à Alemanha de Hitler. Aí conhece Sigmund Freud, de quem se torna amigo, descobre o amor e toma contacto com os sucessivos e misteriosos desaparecimentos de judeus. 

Tendo sido uma das duas obras escolhidas para o exame de C2 de língua alemã deste ano, "Der Trafikant" despertou-me o interesse primeiramente pelo facto da personagem principal, Franz, travar amizade com Freud. Pensei, pois, que fosse uma boa e interessante oportunidade para poder ler um pouco mais, sem ser em contexto técnico/científico, sobre as teorias de Freud, que sempre me fascinou... Tal como tudo o que se encontra relacionado com a mente humana. 

Acontece que o autor, Seethaler (austríaco), escreve um livro que vai muito para além disso e parece-me que o que acaba efectivamente por saltar mais à vista do leitor é o modo como a "entrada" do Nacional-Socialismo se faz na Áustria e todas as repercussões que isso vai tendo na população, em particular aquela que tem origem judaica. Ainda assim, existem algumas trocas de ideias dignas de atenção acerca do amor, da sexualidade e dos próprios sonhos com o pai da Psicanálise. 

Neste sentido, considero que o resultado final está excelente. Seethaler não maça o leitor em excesso com nada (nem psicanálise nem história, embora eu seja fã de ambas) porque não entra em detalhes, que poderiam ser excessivos, concentrando-se ao invés na história do seu Franz e no modo como este se relaciona com o que se passa na Áustria deste período. 

Para os interessados, há também um filme com o mesmo nome, cujo trailer poderão visualizar aqui: https://www.youtube.com/watch?v=kKv1pgz5q2Y

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Homens sem Mulheres, de Haruki Murakami


"Homens sem Mulheres" de Haruki Murakami
Casa das Letras, 2018
250 Páginas

"Homens sem Mulheres" é essencialmente um livro sobre solidão. Murakami traz-nos sete histórias de sete homens, sem outra ligação entre si para além de serem sete homens que terminam sem mulheres... 

Envolvente, por vezes estranho, o autor tem o dom de nos deixar vários dias (os da leitura e os pós leitura) a pensar no que acabámos de ler... Inquieta. Volve e revolve o que temos cá dentro... E por muito "bizarras" (?!) que sejam as histórias, acabamos por estabelecer um qualquer paralelismo com a nossa própria vida. Portanto, sendo o meu terceiro livro de Murakami, aviso já que não será o último...

Comparativamente às mulheres, parece-me que os homens levam muito mais tempo a se apaixonar. E quando falo em apaixonar, falo em algo que ultrapassa aquele fogo, aquele impulso, quase que cegueira inicial que tão depressa como chega, ainda mais depressa se vai. Isto não é uma crítica; é o que é. Homens e mulheres "funcionam" de forma diferente. Porém, quando se apaixonam, é mesmo a sério... E parece-me também que muitos depois de atingirem esse estado e apanharem uma tremenda desilusão (não tiveram sorte, tal como também tantas vezes as mulheres não têm), ficam como que... uma dificuldade adicional (porque desacreditam e constroem muros) em se voltarem a apaixonar... Como escreve a dada altura Murakami, perdem aquela mulher e perdem, consequentemente, todas as mulheres. 

Não estamos, todavia, diante de um livro melodramático ou romântico a roçar o piroso. Nada disso. Murakami dá-nos a conhecer a perspectiva dos homens sobre a ausência/a perda das mulheres. E isso é, para mim, extremamente interessante. Porque ao contrário do que se pensa, os homens também sentem e sofrem por amor... simplesmente, não falam acerca disso na maior parte das vezes. 

...

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Um Artista do Mundo Flutuante, de Kazuo Ishiguro

"Um Artista do Mundo Flutuante" de Kazuo Ishiguro
Gradiva, 2018
248 Páginas

Este é o segundo livro que leio de Kazuo Ishiguro (o primeiro, recordo, foi "The Remains of the  Day", lido no original em língua inglesa) e creio já ter uma ideia daquele que é o estilo característico do autor...

A julgar pelas duas personagens principais (uma por livro, entenda-se), Ishiguro parece gostar de remexer no passado, nem sempre bem resolvido, procurando com as suas histórias desfazer os "nós" existentes, dar um rumo novo e, em certa medida, uma lição de esperança (?). 

As últimas páginas de "Um Artista do Mundo Flutuante" são mais optimistas do que as de "The Remains of The Day", mas curiosamente a personagem principal do primeiro não me conseguiu dizer tanto como o mordomo Stevens. 

A história passa-se no Japão pós Segunda Guerra Mundial, numa sociedade cheia de traumas mal resolvidos (o militarismo que se deve esconder/desaparecer e a influência americana que alguns entendem servir para esbater o que "é e significa" ser japonês, ...). E é neste contexto que a personagem principal, um pintor reformado, Masuji Ono, surge. 

Uma das coisas que mais apreciei neste livro foi o sentido da expressão "mundo flutuante"... Diria que foi mesmo uma das partes mais interessantes para mim neste livro, uma vez que remonta para a magia que a noite tem. Uma magia que se esvai quando amanhece e tudo volta à normalidade...!


terça-feira, 4 de junho de 2019

Chá e Amor, de Yasunari Kawabata



"Chá e Amor" de Yasunari Kawabata. 
Nova Vega, 2017
142 Páginas

Bonito, mas melancólico. Num certo sentido, frustrante e não falo na forma como está escrito, falo mesmo na história e no modo como as personagens se posicionam em relação ao amor. Creio ter sido esta a grande ideia que me ficou de "Chá e amor", já lido há uns dias. 

A solidão. É isso, a solidão. O deitar tudo a perder (se é que havia algo a perder) e ficar agarrado a uma ideia de perfeição inexistente ou a um amor passado tentado projectar noutra pessoa, procurando repeti-lo/encontrá-lo exactamente como era ou se achava que era sem sucesso... O amor que se tem nas mãos, sem se valorizar, e se perde para sempre, passando depois de perdido a fazer sentido e a fazer falta... 

Foi isto que eu não gostei, embora tenha gostado do livro, por exemplo, da forma sugestiva, mas delicada e elegante, como o autor aborda a atracção e a relação carnal e o chá como uma "importante cerimónia" na cultura japonesa.

sábado, 1 de junho de 2019

Nietzsche in Turin: Erzählung, de Jurgen Kleist


"Nietzsche in Turin: Erzählung" de Jurgen Kleist
Amazon, 2009
107 Páginas

Pouco conhecido, mas igualmente com tradução disponível em língua inglesa, este conto (ou novela como já li escrito numa outra edição?!) foi uma interessante descoberta que fiz esta Primavera. 

Tem plasmadas na história algumas das ideias de Nietzsche, bem como a afeição que este tinha pelos italianos (nomeadamente à sua simpatia, comida e ao tempo) e em particular pelos turinenses. 

"Nietzsche in Turin: Erzählung" conseguiu ainda arrancar-me algumas gargalhadas, com bastante vontade, em determinados momentos da história, relacionados com as observações e exigências da personagem de Nietzsche que aqui surge na fase final da sua vida. E está escrito de forma inteligente, criativa e pensada. 

Gostei mesmo muito!