quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Uma Deusa para o Rei, de Mari Pau Domínguez




"Uma Deusa para o Rei" de Mari Pau Domínguez 
Editorial Presença, 2012
391 Páginas



Mari Pau Domínguez conta-nos a história de uma amante de Filipe II de Espanha, Filipe I de Portugal, Isabel de Osório, dama de companhia da imperatriz Isabel, e da relação que ambos mantiveram durante vários anos, à margem dos casamentos reais e por conveniência política.

A leitura é absorvente e a prosa está escrita de tal forma que é possível sentir a força do sentimento de ambos, sobretudo de Isabel, passando-se o mesmo com o seu desespero e a sua dor. 


Na verdade, a autora recupera a figura de Isabel de Osório, tantas vezes esquecida, e leva-nos a percorrer as aventuras e desventuras por que passou por causa da paixão que tinha por Filipe II, num misto de verdade histórica e ficção. 


O resultado é um excelente romance histórico, daqueles que se vivem intensamente da primeira à última página, e corroborando com a minha perspectiva de que quem mantém mais do que uma mulher, não gosta na prática de nenhuma. Gosta, isso sim, de si próprio...!


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"Quando alguma coisa se deseja com desmesura e chega ao momento em que se cumpre o sonho, esquiva-se a capacidade de acreditar. E, quanto mais longa tiver sido a espera, mais ilusório irá parecer tê-lo conseguido." (p.322)

https://www.goodreads.com/review/show/1803119991

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O Gosto Proibido do Gengibre, de Jamie Ford


"O Gosto Proibido do Gengibre" de Jamie Ford
Porto Editora, 2012
316 Páginas

"O Gosto Proibido do Gengibre" é um livro com uma história muito bonita... 

O autor, Jamie Ford, alterna dois momentos distintos da história ao longo do livro: o passado, aquando da Segunda Guerra Mundial, e o presente, relativo ao ano de 1986, sendo que esta alternância confere ritmo e aumenta, na minha perspectiva, o interesse na história, que remonta a um período algo conturbado da história mundial, da história norte-americana e da história japonesa. 

Um jovem americano de origem chinesa (mas que o pai faz questão que não esqueça jamais o facto de que é chinês, obrigando-o a exibir um crachá diariamente), Henry, conhece uma jovem americana de origem japonesa, Keiko, de quem se torna amigo e com quem desenvolve o gosto pela audição de música jazz. 

Após o ataque japonês à base norte-americana de Pearl Harbor, situada no Pacífico, os japoneses - nos quais se encontram Keiko - foram enviados para campos de internamento, desapossados dos seus bens, dos seus amigos (não japoneses) e das suas rotinas.

Este livro conta, assim, um episódio pouco conhecido da história dos EUA, mas negro e incompreensível... O que é que os japoneses (entre os quais se contavam crianças, note-se) que viviam nos EUA, muitos dos quais desde sempre, outros tendo aí nascido tinham a ver com o ataque a Pearl Harbor...? Para se verem impedidos de viver a sua vida livremente? O mundo aponta sempre o dedo às atrocidades que os alemães (nazis) cometeram contra os judeus, mas infelizmente o mundo também está salpicado de histórias destas... Um pouco diferentes é certo, mas igualmente tristes, lamentáveis, condenáveis, vergonhosas...! 

Isto irá implicar com a relação de Henry e Keiko, tendo consequências para o seu futuro, para o qual a intervenção fanática do pai de Henry também irá contribuir de forma determinante. Esta história é, como disse, muito bonita e apesar de toda a odisseia (que não é forçada e é perfeitamente enquadrada no contexto) tem um final doce, digamos assim, levando-nos a pensar mesmo que "depois da tempestade vem a bonança". 

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https://www.goodreads.com/review/show/1802420822

domingo, 13 de novembro de 2016

Cartas de Amor de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz, de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz


"Cartas de Amor de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz" de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz
Assírio & Alvim, 2015
367 Páginas


Ofélia Queiroz foi, tanto quanto se sabe, o que de mais próximo Fernando Pessoa teve de ser sua namorada. O "namoro" entre ambos esteve longe de ser, como se poderá perceber pela troca de correspondência, apenas platónico (foi mais algo cuja rotina era a "distância"), mas facilmente se percebe que o que Ofélia sentia por Fernando Pessoa seria mais forte do que aquilo que ele sentia (se é que sentia...) por ela...

E aqui é que reside o problema desta obra para mim: aborrece-me de morte, para não dizer mesmo que me angustia e magoa, o facto de Ofélia ter estado tantos anos à espera de Fernando Pessoa, quando ele não estava para aí virado... Como se depreende pela sua ausência de respostas, pelo seu silêncio a dada altura e, numa fase mais inicial, pela pouca e irregular frequência das mesmas. Tudo parecia dificil e impossível!

Ainda assim, as cartas de Fernando Pessoa têm umas tiradas soberbas contrastantes com as cartas transbordantes de sentimentalismo de Ofélia. Apesar de serem poucas, e de Fernando Pessoa parecer ceder a pena com frequência a Ricardo Reis em vários momentos devido à sua característica de "desmancha-prazeres" (ainda que na troca de correspondência se verifique apenas a visita manifesta e declarada de Álvaro de Campos em alguns momentos), é um regalo lê-lo de todas as vezes que é possível.

Gostei da obra, mas preferia outro desfecho e preferia que a paixão "ardente" de Ofélia tivesse tido uma feliz correspondência. É um desperdicio de tempo e de vida esperar por alguém que não quer passar... E eu ainda tenho uma réstia de idealismo e gosto de acreditar em finais felizes!

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"O Tempo, que envelhece as faces e os cabelos, envelhece também, mas mais depressa ainda, as afeições violentas. A maioria da gente, porque é estúpida, consegue não dar por isso, e julga que ainda ama porque contraiu o hábito de se sentir a amar. (...) As criaturas superiores, porém, são privadas da possibilidade dessa ilusão, porque nem podem crer que o amor dure, nem, quando o sentem acabado, se enganam tomando por ele a estima, ou a gratidão, que ele deixou. 
Estas cousas fazem sofrer, mas o sofrimento passa. Se a vida, que é tudo, passa por fim, como não hão-de passar o amor e a dor, e todas as mais cousas, que não são mais que partes da vida?"
[p. 192]

https://www.goodreads.com/review/show/1802865964

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

A Túlipa Negra, de Alexandre Dumas

"A Túlipa Negra" de Alexandre Dumas
Civilização Editora, 2012
223 Páginas


"A Túlipa Negra" é uma história de inveja, roubo e mentira, mas também é um exemplo de que quando se chega ao fim o contrário de tudo isto pode vencer. Alexandre Dumas faz com que tudo gire em torno da túlipa negra (até o amor), tão dificil de obter e, por isso mesmo, tão preciosa.

Longe de ser uma obra complexa, a beleza de "A Túlipa Negra" encontra-se na simplicidade da escrita de Dumas. Nos títulos que antecedem cada capítulo de forma clara e orientadora do rumo desta história que se passa no século XVII.

Gostei deste livro de Dumas, não só porque sou de alguma forma fã do mistério e de toda a mística que habitualmente envolve as tulipas da cor negra, como também porque esta história tem um final digno de um "e foram felizes para sempre", próprio das histórias de encantar e que, ainda que não seja sempre verdade, porque não há mal que dure para sempre nem bem que não se acabe, traz esperança aos nossos dias...!


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"Quando a fatalidade começa a executar uma obra má, é raro que não previna caritativamente a vítima, como um espadachim faz ao adversário para lhe dar tempo a pôr-se em guarda. Quase sempre, estes avisos emanam do instinto do homem ou da cumplicidade dos objectos inanimados, muitas vezes menos inanimados do que se julga geralmente; quase sempre estes avisos são desprezados. "[p.119].

https://www.goodreads.com/review/show/1791069676?book_show_action=false&from_review_page=1

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Iberiana, de João Lopes Marques




"Iberiana" de João Lopes Marques
Sextante Editora, 2011
202 Páginas




Este livro não foi escrito definitivamente para mim... Já li outros trabalhos de João Lopes Marques e gostei muito, como foi o caso de "O Plano Merkel" (sobretudo) e "Choque Cultural" (que recomendo vivamente), mas "Iberiana" é diferente. 


A obra começa por pegar no quadro de Pablo Picasso, Guernica, e a partir daí é contada a história e começam a tecer-se as relações com a Iberiana, que eu não consegui perceber. São feitas várias referências ao País Basco e à língua basca e, no entanto, não consegui encontrar um fio condutor na obra que me agarrasse à leitura... 


João Lopes Marques escreve bem, tem carisma na forma como o faz e isso nota-se aqui também. Só que "Iberiana", em termos de argumento, pareceu-me saída da estratosfera e num certo sentido, senti-me a ler um livro de ficção científica... Estilo que não aprecio assim muito. Leio, mas... Mas...


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https://www.goodreads.com/review/show/1791074467