segunda-feira, 27 de abril de 2020

Die missbrauchten Liebesbriefe, de Gottfried Keller


"Die missbrauchten Liebesbriefe" de Gottfried Keller
Holzinger, 2018
68 Páginas

Gostei, mas não consegui adorar...
Gosto da escrita de Gottfried Keller e da forma como costuma criticar a sociedade. Porém, o argumento desta história não é daqueles que me façam ler um livro, a menos que seja mesmo "obrigada a", como era aqui o caso.

A ideia é interessante, sim. Um negociante quer ser escritor à força e lembra-se de obrigar a mulher a escrever-lhe cartas de amor enquanto ele se ausenta por determinado tempo em viagem. Não lhe pergunta se ela o quer fazer, sequer se gosta... Ela sente-se desconfortável com a situação sem lhe dizer e decide "pedir ajuda" ao vizinho que é professor. Não lhe conta, todavia, que as cartas que lhe está a mostrar são escritas pelo marido dela e ele pensa, portanto, que é ela que as está a escrever para ele... E são cartas de amor. Presumo que não seja necessário avançar muito mais porque já se está mesmo a ver que esta omissão vai "complicar" a vida destas três pessoas envolvidas...

O desenvolvimento da história seguidamente é, a meu ver, um tanto ao quanto superficial. A dada altura entram mais personagens na história e o casal inicial toma uma posição a modos que secundária. O desfecho é feliz, pois é. Contudo, terminado o livro fiquei com aquela sensação de "sim, está bem". É um livro morno, diria. Daqueles que não aquece nem arrefece. E isso é coisa que me chateia... Um bocadinho. Não queria um melodrama porque odeio isso. Aliás, nunca gostei desse género de livros. Queria isso, sim, algo que me deixasse a pensar, que me agitasse as ideias e que me fizesse sentir algo com a leitura. E lamento porque isso não foi conseguido desta vez. 

Portanto, é um gostei, mas... sim, está bem.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

1984, de George Orwell


"1984" de George Orwell
Antígona, 2015
327 Páginas




Costuma dizer-se que à terceira é de vez e parece ter sido o caso. Foi a terceira vez que peguei em "1984" para o ler e desta li-o mesmo todo. Parece que estava na hora...

É um livro extremamente interessante. Porém, devo dizer que muito do que ali está escrito não é nem foi novo para mim... Houve um grande sentimento de "já vi isto", "isto é-me familiar", porventura motivado pelo facto de me terem falado vários vezes nele e/ou pelo facto de estar directamente relacionado com a minha área de formação. 

Num certo sentido, e mesmo que com outros contornos, "1984" é agora (no tempo), sim (e esta ideia não é minha, mas eu concordo com ela). Basta pensarmos por instantes em todo o controlo, e em certa medida falta de privacidade, que o uso das tecnologias de informação/comunicação de forma massiva nos pode proporcionar...

Discordo, todavia, da perspectiva que a dada altura Orwell parece sugerir quando, de alguma forma, defende a ideia de que nem o pensamento é livre. O pensamento é, no meu entender, composto por uma parte relativa àquilo que eu penso (na minha cabeça e que pode incluir aquilo que os outros pensam e aquilo que eu penso efectivamente) e aquilo que eu exprimo, sendo que aquilo que eu exprimo pode incluir ou não aquilo que penso. E havendo um auto-bloqueio em exprimir aquilo que se pensa, não há nem pode haver controlo total sobre o pensamento. Será que nessa circunstância se pode considerar que o pensamento é livre? Uma parte sim, outra não. Posso pensar o que quiser, mas não posso exprimir o que quiser. ["Nada nos pertencia, excepto os poucos centímetros cúbicos no interior do nosso crânio" (p.30).]

Sem me querer alongar mais, até porque considero que o melhor mesmo é lerem "1984" e tirarem as vossas próprias conclusões (vale a pena), saliento a repetição sucessiva desta ideia com a qual não poderei estar mais de acordo:
"Guerra é Paz. 
Liberdade é Escravidão.
Ignorância é Força."