sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Crepúsculo em Itália, de D.H. Lawrence



"Crepúsculo em Itália" de D.H.Lawrence
Tinta da China, 2016
286 Páginas

Apesar do título do livro ser "Crepúsculo em Itália", D. H. Lawrence não fala assim tanto acerca de Itália. Melhor ainda, fala, mas foca-se essencialmente nas impressões com que vai ficando durante a viagem que faz do Sul da Alemanha ao Norte de Itália.

O livro é composto por um conjunto de ensaios, escritos por volta da Primeira Guerra Mundial, possibilitando ao leitor captar um pouco do espírito da época. E, nesse sentido, senti algum tipo de preconceito inicial em relação ao modo como fala dos italianos por comparação aos alemães, por exemplo. (Note-se que o autor é inglês.) Porém, esse preconceito acaba por desaparecer à medida que o autor toma contacto com o meio envolvente e o que sucede é que acaba em muito fascinado sempre que viaja para sul... 

Convém também referir que "Crepúsculo em Itália" foca-se mais na paisagem humana, digamos assim, do que propriamente na paisagem física. O que, no meu entender, se trata de um aspecto particularmente interessante porque nos permite apreender melhor e reconstruir a realidade destes países na época.

Gostei, embora admita que estivesse à espera de um pouco mais...


https://www.goodreads.com/review/show/2612109105


terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Deutschland. Ein Wintermärchen, de Heinrich Heine

"Deutschland. Ein Wintermärchen" de Heinrich Heine
Insel Verlag, 2015
130 Páginas



Se tivesse de encontrar uma palavra apenas para "Deutschland. Ein Wintermärchen" de Heinrich Heine, escolheria satírico...!

Sob a forma de poema, Heine conta a sua viagem de regresso a Hamburg, em 1843, para ir visitar a mãe depois de 13 anos passados a viver em Paris. Pelo caminho, vai falando numa futura unidade da Alemanha, começada com a Zollverein sob direcção do Estado da Prússia, bem como em alguns dos simbolos que estarão na base daquilo que significará "ser alemão". Uma parte, para mim, particularmente engraçada é quando o autor salienta o facto dos franceses andarem a estudar os autores alemães como Kant, Fichte e Hegel, tendo deixado de lado Voltaire.

Gostei. 

https://www.goodreads.com/review/show/2629675410

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Olga, de Bernhard Schlink


"Olga" de Bernhard Schlink
Diogenes Verlag, 2018
331 Páginas


A história de Olga é a história de muitas mulheres alemãs cuja vida atravessou a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais. É a história de uma vida interrompida pelo desaparecimento e pela perda de alguém que se ama. É a história de uma vida em que a ausência está sempre presente... até ao fim dos dias. 

"Olga" acompanha a história da Alemanha desde pouco antes da corrida pela posse de colónias em África até ao pós Segunda Guerra Mundial. É a história da ambição desmedida do país, disposto a querer sempre mais para ser maior, independentemente das perdas e dos custos virem a ser muito superiores do que os potenciais ganhos...

Schlink retrata igualmente a evolução da mulher na sociedade alemã, sobretudo quando esta vem de origens mais humildes e pretende estudar, o mais possível, num tempo em que isso não era comum. Sem querer entrar em mais detalhes, diria que "Olga" consegue cativar o leitor desde as primeiras páginas, não sendo possível largá-lo antes do fim. 

A escrita é simples, clara e fluida. Há momentos em que também é intensa e emotiva. E o livro está dividido em três partes que dão dinâmica à narrativa: uma primeira em que o narrador conta a história de Olga e Herbert, uma segunda em que Ferdinand fala de si e de como conheceu Olga, e uma terceira constituida pelas cartas de Olga para Herbert. 

Apesar deste romance ainda não estar traduzido para muitos idiomas, penso que seria uma boa aposta investir na sua tradução e divulgação, mesmo como forma de compreensão do que foi e do que é a Alemanha. Além do que o livro é muito bonito. Muito bonito mesmo. E quando se chega ao fim... ficamos... pensativos e sem grandes palavras durante um bom bocado...! Grande livro, Herr Schlink. Mais um grande livro!


https://www.goodreads.com/review/show/2616144732

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Adeus a Berlim, de Christopher Isherwood


"Adeus a Berlim" de Christopher Isherwood
Quetzal, 2011
262 Páginas


Custa-me sempre dizer que não gosto de um livro... Temo sempre ser injusta com o livro, com a história ou histórias, com o autor (ainda que eu não conheça pessoalmente este última e, na maioria das vezes, nem venha a conhecer). 

A verdade é que eu não consegui gostar de "Adeus a Berlim". A dada altura com este livro só consegui sentir uma irritação imensa, capaz de me provocar a vontade de o atirar contra uma parede ou contra algo que pudesse quebrar-se em mil pedacinhos. E o pior disso tudo foi a sensação de culpa que se instalou em mim por não conseguir "aderir" ao estilo de escrita e à história em si mesma. 

Pensei estar diante de um livro uno e não de um conjunto de histórias que o autor vai contando acerca da sua passagem por Berlim entre meados dos anos 20-30, nas quais não encontrei um fio condutor que me conseguisse cativar a atenção. Ler sobre a Alemanha neste período, nos seguintes e nos anteriores, não é propriamente uma estreia para mim porque tenho trabalhado nisso com dedicação há vários anos  (é um dos meus temas de eleição desde criança) e talvez também por isso não me senti convencida. Lamento. Não gostei de todo. 

https://www.goodreads.com/review/show/2612109343

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Já então a raposa era o caçador, de Herta Müller


"Já então a raposa era o caçador" de Herta Müller
Publicações Dom Quixote, 2012
239 Páginas



Herta Müller escreve num estilo muito próprio... Joga com as palavras numa espécie de prosa poética enigmática que chega a deixar-nos em suspenso, meio surpreendidos com o modo como arquitecta o texto e apresenta a história e critica a polícia secreta romena nos últimos dias do regime de Ceausescu. 

Porém, e ao mesmo tempo, as suas páginas deixam-nos, muitas vezes, um travo amargo na boca, que prende a língua e quase nos sufoca... E magoa. Nos dias menos soalheiros, a sua escrita pode deixar-nos ainda mais cinzentos e melancólicos, mais metidos coma tristeza e menos crentes na esperança e no sonho.

Se me perguntarem se gosto de Müller, direi que gosto da sua forma original de escrever (vi um documentário em que ela explicava que cortava palavras de revistas e jornais e depois sentava-se a compor frases e daí uma história enquanto colava essas mesmas palavras em folhas brancas), mas deve ser lida com moderação... Porque deixa sempre uma sensação de dor e perplexidade que estão longe de ser agradáveis, talvez culpa do contexto e da realidade a partir de onde ela escreve e que certamente lhe terão moldado a forma de ver e sentir o mundo e as pessoas.

https://www.goodreads.com/review/show/2598372507

domingo, 18 de novembro de 2018

Narciso e Goldmund, de Hermann Hesse

"Narciso e Goldmund" de Hermann Hesse
Publicações Dom Quixote, 2016
356 Páginas


Este livro foi construido em torno de uma temática que muito me fascina e que se relaciona com a oposição passível de existir entre o pensamento e a acção, a teoria e a prática, as ideias e as emoções. Narciso é o pensamento, a teoria e as ideias, sendo que Goldmund [à letra, a boca de ouro] é a acção, a prática, as emoções. Sem querer revelar grandes detalhes acerca da história, Goldmund é desafiado por Narciso a partir em busca da concretização dessa sua natureza especial... Dessa sua natureza que é muito mais vida do que aquela que se mantém fechado e enclausurado num mundo à parte!

"Narciso e Goldmund" é filosófico que baste, sem ser maçudo. E a dada altura é uma viagem de descoberta de Goldmund que, deixando para trás o mundo da abstracção, decide abraçar a montanha russa que pode ser o mundo das emoções... e a própria arte, vivida depois de experimentada a realidade sentida. 

Confusos? Pois... É que a verdade é que a realidade, sendo nós seres pensantes e seres com emoções em simultâneo, nunca pode ser algo puramente objectivo. Ainda que, de certa forma, Hesse tente separar, em certa medida, o mundo das ideias do mundo das emoções. Quem me dera a mim que fosse "tão simples", tão preto no branco separar uma coisa da outra... Porque vivo com frequência num conflito entre os dois mundos no meu próprio mundo e certamente não serei a única...!

Mas... Adorei o livro não só quanto à escrita, bastante agradável e com passagens muito bonitas, como também quanto à própria temática. Continuo fã da obra de Hesse! Está definitivamente entre os meus autores alemães preferidos!

https://www.goodreads.com/review/show/2578339084

sábado, 27 de outubro de 2018

Pátria, de Fernando Aramburu


"Pátria" de Fernando Aramburu
 Publicações Dom Quixote, 2018
719 Páginas

Duas familias que se afastam porque uma é a da vítima e a outra a do terrorista da ETA. Uma familia que não aceita a perda e não quer desculpar. A outra que lida no seu interior de forma diferente e não consensual com o facto de ter um terrorista/defensor da independência do País Basco. 

O autor acompanha a evolução de cada um dos membros destas familias durante um período de tempo considerável o bastante para tirarmos as nossas próprias conclusões acerca do poder transformador (às vezes até destruidor) que a violência ("contra o poder instalado") tem na vida diária do comum dos mortais... Ao mesmo tempo, leva-nos a reflectir acerca da vulnerabilidade que a rotina pode acarretar para o ser humano, sobretudo quando se vive num ambiente facilmente "inflamável" de fervoroso nacionalismo. 

No meu entender, o facto do autor viver há vários anos fora de Espanha e do País Basco pode conferir-lhe maior liberdade na forma como aborda a questão independentista basca e a actuação da própria ETA. Por outro lado, isso não impede a eventual existência de uma posição que ele tenha sobre este mesmo problema e que aqui se encontre, de algum modo, reflectida; diria que isso acaba por ser inevitável, mas não entendo que tal domine a obra; antes pelo contrário... Até porque aqui encontramos os dois lados: o da vítima e o do "agressor".

Gostaria também de destacar que esta obra, tão amplamente publicitada no inicio do ano em Portugal, constitui um interessante e excelente retrato de uma realidade muito próxima de nós e, diria que, em alguns casos muito familiar..! Não será certamente à toa que a obra foi premiada com o Prémio Nacional de Narrativa, o Prémio Nacional da Crítica e o Prémio Euskadi de Literatura.

https://www.goodreads.com/review/show/2447685529

domingo, 30 de setembro de 2018

Ausgerechnet Deutschland. Geschichten unserer neuen Nachbarn, de Wladimir Kaminer

"Ausgerechnet Deutschland. Geschichten unserer neuen Nachbarn" de Wladimir Kaminer
Goldmann, 2018
236 Páginas


"Ausgerechnet Deutschland. Geschichten unserer neuen Nachbarn" pode traduzir-se como "A Alemanha tal como é: histórias dos nossos novos vizinhos" e trata-se de um livro de crónicas da autoria de Wladimir Kaminer, um escritor russo vindo de Moscovo a viver na Alemanha desde os anos noventa. 

O livro aborda sobretudo o modo como os alemães têm recebido os sírios (que perguntam, assim que chegam a terra, qual a melhor parte da Europa porque é para aí que querem ir) e como tem sido a adaptação de uns aos outros, dadas as diferenças culturais - substanciais - existentes entre estes. Desenganem-se, contudo, se pensam que este livro se limita apenas a sírios e a alemães porque, sendo russo, o autor acaba por falar igualmente da relação entre russos e alemães e entre russos e sírios. 

Destaco, por exemplo, uma crónica na qual Kaminer conta que se sentiu mais alemão quando, a caminho da Alemanha, comprou uma cerveja e estava com ela na mão, bebericando-a tal e qual como um alemão... Num sinal de (desejo de) integração. Ou outra crónica em que ele discute com um cabeleireiro sírio o porquê dele ter barba; o sírio responde-lhe que a barba é o seu passado, experiência e sentido de orientação (ao mesmo tempo que critica os ocidentais por tirarem a barba e, deste modo, viverem num mundo "desarranjado"), pelo que não a pode tirar, mantendo-a desde criança.

Gostei do livro, escrito com um certo humor, mas foi sobretudo a temática que mais me fascinou!

https://www.goodreads.com/review/show/2456899423

segunda-feira, 9 de julho de 2018

A Imortalidade, de Milan Kundera



"A Imortalidade " de Milan Kundera
Publicações Dom Quixote, 2012
387 Páginas


Embora ainda não tenha lido todas as obras de Milan Kundera, posso dizer que está entre os meus autores preferidos, desde que li "A Insustentável Leveza do Ser" que, por inevitabilidade (e ainda que eu tenha muita dificuldade em falar de livros preferidos), é um dos meus livros preferidos.  

No que respeita à "A Imortalidade", tive-a aqui arrumada durante cerca de dois anos e só lhe peguei agora porque também só agora é que senti que estaria na frequência certa de a ler. Só agora é que senti aquele impulso do "é este. 

O tema da imortalidade é demasiado profundo para se ler com superficialidade ou a correr, pelo que depois de terminar o livro constanto com satisfação que tomei a decisão certa, ou melhor, as decisões certas: quando comprei este livro; quando escolhi o momento para o ler. 

"A Imortalidade" leva-nos a pensar sobre a morte, sobre o persistir para além da morte, sobre o eterno, sobre o envelhecimento e a idade, sobre o amor, sobre as belas diferenças existentes entre o homem e a mulher. É um bocado filosófico e, portanto, creio que, neste sentido, é recomendado sobretudo a quem goste de pensar e reflectir sobre a existência humana. Daí também a necessidade de o ler mais devagar, com tempo, e sem pressas. Kundera fala de si, vai buscar Goethe e fala dele e recupera num e noutro momento outros autores (como Hemingway, só para dar um exemplo) para nos levar a debruçar sobre a imortalidade, tendo nesta sua história, a meu ver, original e singular (porque não consigo comparar este estilo de livro a nada do que tenha lido até à data) uma personagem principal, Agnés. No entanto, parece-me que mais do que Agnés, a própria imortalidade é em si mesma uma personagem principal, central, e creio que ela é igualmente o fio condutor da obra, como atesta o título do livro. 

Kundera consegue ser exemplar neste seu estilo intemporal que permanece. Quando li Kundera pela primeira vez, ficou-me marcado. De todas as vezes que volto a Kundera confirmo essa marca deixada pelo primeiro livro que li. Faz-me parar. Faz-me pensar. Faz-me analisar. Sempre. E, às vezes, pergunto-me se este autor não seria digno de um Prémio Nobel da Literatura...!


https://www.goodreads.com/review/show/2415393577

domingo, 24 de junho de 2018

Die Frau auf der Treppe, de Bernhard Schlink


"Die Frau auf der Treppe" de Bernhard Schlink
Diogenes, 2015
244 Páginas


Este é daqueles livros que eu tenho pena de não estar traduzido para língua portuguesa... Especialmente porque acredito que teria muitos leitores a gostar dele tanto como eu gostei. 
Trata-se do penúltimo livro publicado por Bernhard Schlink, autor de "O Leitor", e contrariamente ao que é habitual na suas histórias, esta história não se centra na questão da culpa e do trauma alemão relativamente à Segunda Guerra Mundial e ao Holocausto. 

"Die Frau auf der Treppe" ["A Mulher nas Escadas"]  conta a história de três homens que estão interessados  numa mulher, Irene, que está a descer as escadas numa fotografia (de 1992) que mais parece um quadro, "Ema" de Gerhard Richter (podem ver aqui: https://www.artgallery.nsw.gov.au/collection/works/14.1993/ ), exposta na Art Gallery. O que ao inicio parece uma história de procura e descoberta pelo paradeiro de Irene evolui para uma bonita história de amor, que é tudo menos melodramática, e na qual o narrador, ao reencontrar Irene (doente) e a viver com outro homem, a acompanha(doente) até ao fim dos dias desta. 

Mantendo um estilo de escrita claro e simples, sem ser simplista, Schlink brinda-nos com algumas passagens dignas de nota. Uma delas, por exemplo, relaciona-se com a questão da idade/juventude/envelhecimento e a fotografia e nessa passagem, por mim traduzida, pode ler-se o seguinte: “Eras também jovem, mas contigo eu não me senti velho. Eu sei, eu era mais jovem, e a diferença de idades era pequena. Mas isto não era tudo. Quando olho agora para a tua imagem (a tal fotografia “Ema” de Gerhard Richter), sinto-me outra vez jovem. (...) Deixei-te pintar naquele tempo para que permanecesses jovem e eu contigo.”

Gostei mesmo muito. E voltarei certamente a Schlink muito em breve! 

https://www.goodreads.com/review/show/2406290584

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Constança, a Princesa traída por Pedro e Inês, de Isabel Machado


"Constança, a Princesa Traída por Pedro e Inês" de Isabel Machado
A Esfera dos Livros, Lisboa
347 Páginas


Normalmente, a história do(s) amor(es) de Pedro e Inês é contada a partir do ponto de vista destes e, portanto, colocando-os como vítimas. Isabel Machado tenta uma outra perspectiva e centra-se em Constança, a princesa traída e vítima da relação desenvolvida entre Pedro e Inês, de quem era amiga. E o resultado é interessante... 

Nesta obra podemos colocar-nos no lugar dela e tentar compreender o seu lado, bem como tomar conhecimento do percurso difícil e cheio de peripécias que fez até chegar a Portugal (creio que habitualmente desconhecido). 

Já li anteriormente outros livros de Isabel Machado (sobre a Rainha Vitória e sobre a Rainha Isabel), pois o romance histórico está entre os géneros literários que mais me agradam, e continuo a gostar da forma de escrita e do modo de articular a narrativa da autora. Por isso, continuarei a estar atenta à sua produção literária. Ainda que dos três livros que li dela e entre os quais consta este, "Constança - a Princesa Traída por Pedro e Inês" não seja o meu preferido. 

Na verdade, Constança foi uma mulher muito sofrida, demasiado até, e parece-me também - pelo menos pelo que percebi desta leitura - um tanto ao quanto refém desse sofrimento... Note-se que a autora salienta que este se trata de um romance e, por conseguinte, também se verifica aqui alguma criatividade da sua parte até para cobrir alguma falta de informação que possa existir quanto à personalidade desta mulher, mas.. eu admiro mulheres mais fortes e com mais garra (como Vitória de Inglaterra e Isabel de Aragão, por exemplo)...! 

https://www.goodreads.com/review/show/2350652058

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Johny und Jean, de Teresa Präauer


"Johny und Jean" de Teresa Präauer
Fischer, 2016
208 Páginas


"Johny und Jean" é o terceiro romance que leio, na íntegra, em língua alemã, sendo que é tudo menos uma obra normal e habitual. Porque é em si mesma uma manifestação artística, um extravasamento de criatividade, uma explosão de loucura... Da escrita como arte para a pintura/escultura/... como arte. 

É um livro caótico, por vezes. Parece um devaneio. E não acho que isso seja mau; antes pelo contrário. É "uma revoada de vento" que nos agita as ideias. 

Ao mesmo tempo, é leve, curioso e atípico. Lê-se com vontade de perceber onde é que nos vai levar, onde vamos parar. Quem é o Johny? Quem é o Jean? Que tipo de arte pretendem fazer? Como é que aquilo que são enquanto pessoas se reflecte na sua arte e na forma como esta é aceite? 

Finalmente, "Johny und Jean" pode ser encarado como um medley de história de arte. No entanto, não se esgota nisso. Aliás, sinto que no limite é uma crítica ao mundo da arte: à subjectividade do que é belo, à necessidade de atingir o intemporal e ser marcante, ao seguir como modelo os pintores de referência e superá-los, ter uma fase da cor x e/ou da cor y, ... 

https://www.goodreads.com/review/show/2397344609

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Das Licht und die Geräusche, de Jan Schomburg

"Das Licht und die Geräusche" de Jan Schomburg
255 Páginas
DTV, 2017

Este é o segundo romance completo que leio em língua alemã... E ao contrário do primeiro que li, não gostei. A história não me acrescentou nada. Não é de todo um livro para mim ou uma história para mim. 

"Das Licht und die Geräusche" [A luz e os barulhos] foi escrito por Jan Schomburg, um realizador alemão. A história avança e recua no tempo com grande rapidez e isso confere-lhe uma certa dinâmica, estando escrita de forma relativamente menos complexa do que o romance "Die Kieferninseln" de Poschmann. No entanto, a história não tem a meu ver profundidade nenhuma.

Na verdade, o ponto alto da história é o desaparecimento de Boris, o rapaz da história. E se esse desaparecimento tem sido trabalhado de outra forma a história poderia ter-se tornado bem mais interessante. No fim, ficamos sem perceber a real razão do seu desaparecimento... E ele regressa como se de repente se fizesse luz na história e tudo o que tivesse acontecido, entretanto, não se tivesse verificado de todo. Ou melhor... Como se o que aconteceu na sua ausência não tivesse qualquer significado na história... E é isto que eu não consigo compreender. 

A leitura é para mim uma viagem. Volto sempre diferente daquilo que era antes de começar a ler aquele livro. Porém, isso não sucedeu comigo nesta leitura. Não tive argumento para me metamorfosear. Não senti nada. Não me senti envolvida... Verdadeiramente! 

https://www.goodreads.com/book/show/34378559-das-licht-und-die-ger-usche

O Eremita Viajante, de Matsuo Bashô

"O Eremita Viajante" de Matsuo Bashô
421 Páginas
Assírio e Alvim, 2018


Cheguei a Matsuo Bashõ, poeta japonês, através de um romance alemão, "Die Kieferninseln" de Marion Poschmann. E foi, na verdade, uma boa experiência e uma interessante descoberta. 

A poesia de Bashõ é simples. Natural. Sem grandes artefactos. E é, ao mesmo tempo, profunda. Sensível. Observadora. 

Tendo-se tornado no poeta mais famoso do período Edo no Japão, Bashõ escreveu sobre a natureza e sobre a vida. Criou uma forma de poesia, o haiku, e este livro é um livro de haikus. Ao que parece reune quase todos os poemas do japonês. E é também uma lufada de ar fresco, uma "limpeza" à alma. Fica-se mais leve, mais solto, (ainda) mais atento à magia das pequenas coisas e dos momentos que, apesar de rápidos no tempo, não perdem em intensidade e em significado.  

https://www.goodreads.com/review/show/2378531470

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Die Kieferninseln, de Marion Poschmann

"Die Kieferninseln" de Marion Poschmann
165 Páginas
Suhrkamp, 2017


Candidato ao prémio do livro alemão 2017, e embora sem ter vencido o mesmo, "Die Kieferninseln" [A ilha dos pinheiros] de Marion Poschmann foi o primeiro romance em língua alemã que li na totalidade. E gostei muito. 

Para quem está a aprender alemão, mesmo que há alguns anos, pode não ser a leitura mais fácil do mundo, mas vale a pena insistir e persistir, procurando ultrapassar as dificuldades que possam surgir na compreensão e que se relacionam, acima de tudo, com a existência de muito vocabulário novo. E uma parte considerável desse vocabulário respeita a aspectos da cultura japonesa, sendo que esta  é central na obra. 

A história centra-se em Gilbert, um investigador alemão de barbas, que um dia acorda de um sonho com a convicção de que a mulher, Mathilda, o traiu. Estando naquilo que alguns denominam de uma crise da meia-idade, Gilbert parte em viagem em direcção ao Japão, um país do chá. Inicialmente sem ter grande fascinio pela cultura deste país, Gilbert vai ficando cada vez mais interessado na mesma à medida que a história progride. Logo no avião, depara-se com um livro de Bashõ, um poeta japonês, conhecido por ter desenvolvido o haikus, uma forma de poesia simples, na qual observando a natureza procura transmitir aquilo que lhe vai na alma. Bashõ foi um eremita viajante, tendo viajado diversas vezes pelo Japão, admirando a paisagem do país e, entre outras coisas, as amendoeiras em flor. E é este contacto com Bashõ que lhe servirá de guia de viagem pelo Japão. Bashõ e o jovem Yosa, um japonês com um manual completo de suicidio na mão, que Gilbert conhecerá numa estação de comboios. 

Sem querer avançar com grandes detalhes acerca do desenrolar da história, a verdade é que no final nos questionamos se toda história contada no livro não será apenas um sonho de Gilbert... Será que todas aquelas peripécias se verificaram de facto? 

Uma das coisas que mais me atraiu neste livro foi, de facto, as várias referências que nos são dadas acerca da cultura do Japão (e a sua comparação com a cultura ocidental), verdadeiramente fascinante. E fascinante ao ponto de eu ter ido procurar seguidamente um livro de poesia de Bashõ, que desconhecia e estou a adorar. É muito interessante conhecer outras culturas! 

Sobre a escrita da autora, devo dizer que gostei do estilo. Ela é poetisa também e penso que isso já nos permite tirar algumas conclusões acerca da forma de escrita dela. Fiquei fã e com vontade de ler outro livro de Poschmann!

https://www.goodreads.com/review/show/2347854073

sábado, 31 de março de 2018

Xeque ao Rei, de Joanne Harris


"Xeque ao Rei" de Joanne Harris
Editorial Presença, 2005
425 Páginas

"Xeque ao Rei" foi um dos livros de Joanne Harris, cujo tema nunca me atraiu particularmente (apesar de eu em pequena adorar a escola e em adulta dizer repetidas vezes que já devia ter nascido na Faculdade), e que acabei por deixar para ler por último. Li até à data praticamente tudo o que ela escreveu, embora não me tenha sentido atraída (ainda; o que não quer que um dia não mude) a ler os livros das runas que publicou. E agora peguei neste. 

Bem, que posso dizer? Quando um livro não me atrai à primeira vista só duas coisas costumam a acontecer: ou estou redondamente enganada e começo a lê-lo e adoro e lamento por não "ter privado" antes com ele a sério; ou estou redondamente certa e mesmo depois de o ler, continuo a achar que o livro não me conseguiu levar e fico uns dias a pensar numa relação tinha quase tudo para funcionar a 100% e nem lá perto chegou. Na maioria das vezes, é a segunda que mais acontece. Isto é, leio o livro e chego à conclusão que aquele livro não é para mim. Foi o que senti aqui.

O livro está bem escrito, é inteligente, é misterioso e a autora continua com o mesmo talento para me fazer pensar "gosto mesmo de ler o que esta senhora escreve", porque tem um estilo muito próprio, mas depois... Fico com vontade de chegar depressa ao fim e ler outro livro. E sinto-me ausente. Incompleta. E perdida. Não me consegui encontrar em "Xeque ao Rei". 

Confusos? Pois, eu também. É um bom livro. Porém...  Ou não é para mim de todo ou talvez seja melhor dar-lhe outra oportunidade daqui a algum tempo e lê-lo noutro momento da minha vida... !

https://www.goodreads.com/review/show/2312077711

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Henry & June. Do Diário Íntimo de Anaïs Nin, de Anaïs Nin


"Henry & June. Do Diário Íntimo de Anaïs Nin" de Anaïs Nin
Editorial Presença, 2002
224 Páginas


Anaïs Nin era o que se pode chamar de uma mulher emocionalmente instável, inconstante e demasiado intensa, carente e insegura, mas ao mesmo tempo um espírito livre e curioso que, ao longo deste diário íntimo, se descobre e redescobre sob o ponto de vista sexual (e erótico), através das relações que mantém com vários homens (para além do marido) e também com uma mulher. 

Henry & June são Henry Miller e a respectiva mulher June. Anaïs relacionar-se-à com ambos, sendo que estes têm, digamos assim, um papel central na obra, o que justifica o título. A relação com o escritor Henry Miller parece-me ser a mais marcante de todas, na verdade.

Se estão neste momento a pensar que este livro se trata de um diário marcadamente sexual desenganem-se porque também nos é dado a conhecer todo o enquadramento emocional de Anaïs, sobretudo em virtude das visitas que ela faz ao psicanalista e que são abordadas a partir de determinada altura na obra. 

O diário mantém um fio condutor interessante e, a meu ver, constante (sem ser monótono), já que se foca marcadamente na intimidade de Anaïs e no turbilhão de emoções que a acompanham. E talvez por isso o estilo de escrita esteja longe de ser superficial...!

E sim gostei do que li. Tendo em atenção o tema, achei o livro bonito. Bem escrito. E em momento algum tive vontade de o deixar a meio...! Talvez também porque, de alguma forma, me revi na intensidade emocional (por vezes em demasia) com que Anaïs Nin vive tudo.  
*

https://www.goodreads.com/review/show/2280261866

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Diários. Diários de Viagem, de Franz Kafka


"Diários. Diários de Viagem" de Franz Kafka
Relógio D'Água, 2014
690 Páginas



São, muitas vezes, páginas soltas. Às vezes, quando Kafka tece as suas observações sobre esta e aquela pessoa, sobre esta e aquela vida, parece que se constrói uma história. Outras vezes, ele fala dele, do que sente e do que deixa de sentir, desse veneno que é a necessidade de se isolar, alhear de tudo e escrever. E eu gosto particularmente desses momentos de introspecção, em que o estado de alma sai a correr a gritar sem que ninguém o consiga agarrar... Esse estado meio bêbado, meio louco, meio febril, em que a máscara cai e a sinceridade vem à tona. 

Penso que é essa crueza, essa frieza quente, essa brutalidade apaixonada que Kafka tem na escrita que me fazem continuar com vontade de ler mais obras suas e lamentar o facto dele não ter vivido mais para escrever também mais. 

Este livro não é o meu preferido dos três que li de Kafka ("A Metamorfose" e "O Processo" foram os outros dois), lugar ocupado pelo "O Processo", mas eu gostei. Apesar de ao início me ter sentido, de algum modo, perdida pelo facto de estar a ler um diário, páginas soltas, em que o elemento de ligação são as observações do autor relativamente a si próprio e ao que está à sua volta. Mas um diário é isso mesmo...! 

https://www.goodreads.com/review/show/2230977635