sexta-feira, 29 de maio de 2020

Frente ao Contágio, de Paolo Giordano


"Frente ao Contágio" de Paolo Giordano
Relógio D' Água, 2020
65 Páginas



"Frente ao Contágio" de Paolo Giordano é daqueles livros que, daqui a vários anos (provavelmente quando nenhum de nós existir mais), constituirá um importante testemunho do que foi viver uma pandemia (com as dimensões desastrosas que esta já leva...) em 2020, no século XXI. 

Abdicando de parte dos direitos de autor (que serão entregues para a gestão da emergência sanitária e para a investigação científica), o autor italiano - de Turim, no norte de Itália - aborda muitos dos comportamentos/sentimentos que muitos de nós já testemunharam directa ou indirectamente ao longo desta crise. E ainda que, sob esse ponto de vista, "Frente ao Contágio" não apresente nada de novo, dá voz escrita e eterna aos tempos estranhos que correm. 

Giordano, vencedor de dois importantes prémios com a obra "A Solidão dos Números Primos" (Prémio Strega e o Prémio Campiello Opera Prima, ambos em 2008), tem em "Frente ao Contágio" uma escrita que é um misto de estilo literário com estilo científico, sem abusar de nenhuma delas e muito menos da última. Diria que tem um jeito muito próprio de escrever que, em certa medida, deixa transparecer a sua formação de base (é Doutor em Física).

Gostei, porém, muito mais da primeira metade do livro do que da segunda (que me pareceu algo superficial) e, no que respeita à primeira um dos textos que mais me impressionou, por me recordar um video que vi quando a pandemia chegou a Portugal em força (pouco antes de ser declarado o primeiro Estado de Emergência) foi o do R0, a propósito da forma como o contágio se processa, recorrendo aos berlindes como exemplo. Aliás, impressionou-me tanto que o deixei quase todo sublinhado!

Aqui fica uma pequena passagem: (...)" Imaginemos que somos sete mil milhões e meio de berlindes. Estamos suscetíveis e parados, quando de súbito um berlinde infetado avança sobre nós a toda a velocidade. Este berlinde infetado é o paciente zero e tem tempo para atingir dois outros berlindes antes de parar. Estes últimos ressaltam e atingem outros dois na cabeça. Uma e outra vez. Uma e outra vez. Uma e outra vez. (...)" (p.17)

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