terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A nossa Casa é onde está o Coração, de Toni Morrison


"A nossa casa é onde está o coração" de Toni Morrison
Editorial Presença, 2015
140 Páginas



Eu gostei... 

Mas gostava que a história de Franz, o homem que regressa da guerra da Coreia (transformado pela mesma), tivesse sido mais desenvolvida. Para mim não foi o suficiente e achei-a em alguns momentos algo confusa. Num certo sentido senti que a história da sua irmã foi mais desenvolvida, mas fiquei também cheia de dúvidas. 

Toni Morrison escreve bem. Tem momentos do livro muito bem escritos. Porém, penso que a forma como a história é contada e a própria dimensão do livro acabam por não lhe chegar a dar a profundidade que eu esperava e que tanto admiro... Esta talvez seja uma característica e/ou um problema inerente aos livros de 100 e poucas páginas. Chego ao fim do livro sem ter sentido verdadeiramente a história e sem que me tenham conseguido arrebatado de facto.  

No entanto, repito: gostei. Só que foi só mesmo isso... Um gostar simples. Ponto final.

https://www.goodreads.com/review/show/1888644104

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Neblina sobre Mannheim, de Bernhard Schlink e Walter Popp

"Neblina sobre Mannheim" de Bernhard Schlink e Walter Popp
Edições 70, 2002
303 Páginas

"Neblina sobre Mannheim" (em alemão "Selbs Justiz", título que em nada corresponde à versão portuguesa) corresponde ao livro de estreia de Bernhard Schlink, autor de "O Leitor". Trata-se de um livro escrito, nos anos oitenta, em parceria com Walter Popp. Foi inclusivamente este que trouxe Schlink, que sempre sonhara ser escritor (mas optou por uma carreira com juíz e professor de Direito), para o mundo da escrita. 

Trata-se de um romance policial, um estilo algo distinto daquele que seguirá posteriormente. Ainda assim, a linha temática é a mesma: há sempre alguém que sente culpa, culpa do seu passado  Nacional-Socialista e que tenta escondê-lo com vergonha e pudor; há sempre alguém ligado ao mundo das leis, isto é, um advogado, um juiz, um inspector, um procurador. E isto torna os seus livros extremamente interessantes; e com temas que são mesmo tempo objectivos e subjectivos. 

Embora não estando entre os meus livros preferidos de Schlink (tive momentos que me perdi), "Neblina sobre Mannheim" não deixa de valer a pena ser lido. Não só pelos temas abordados, como também porque foi daqui que Schlink partiu para a escrita.

Seria, agora, interessante que as Edições Asa - Grupo Leya decidissem publicar mais livros do autor, que a meu ver tão bem retrata muitos dos fantasmas que ainda persistem na Alemanha actual, como, por exemplo, "Die Frau auf der Treppe". Fica a sugestão!

https://www.goodreads.com/review/show/1888632930

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway

"O Velho e o Mar" de Ernest Hemingway
Edição Livros do Brasil Lisboa, 1998
134 Páginas



Em "O Velho e o Mar" Hemingway traz-nos uma história simples, mas bela. Como o próprio título da obra indica, a história concentra-se no velho Santiago, outrora um pescador cheio de sorte e ultimamente um pescador com muito pouca sorte. Um dia, Santiago vai sozinho para o mar e só sai de lá quando consegue pescar. Pescar a sério. 

Penso que a grande mensagem que o autor pretende passar se relaciona com a importância de se ser resilente perante as dificuldades da vida, de nunca se desistir daquilo em que se acredita quando se tem o coração e a alma cheios, transbordantes de bondade. 

Além de ter gostado de o ler, agora compreendo perfeitamente o porquê de me terem oferecido este livro aos 11/12 anos de idade. Não o li na altura porque não senti "aquele impulso", mas guardei-o sempre com um enorme carinho por me ter sido oferecido por dois grandes amigos (que já não se encontram entre nós) e por sentir que este livro teria certamente uma mensagem especial.  E tem. Leiam-no. É belo na sua simplicidade!
*
"Um homem nunca se perde no mar (...)" [p.95]

https://www.goodreads.com/review/show/1888644400

domingo, 22 de janeiro de 2017

A Guerra não tem rosto de mulher, de Svetlana Alexievich

"A Guerra não tem rosto de mulher" de Svetlana Alexievich
Elsinore, 2016
392 Páginas



Em "A guerra não tem rosto de mulher", Svetlana Alexievich aborda a guerra do ponto de vista das mulheres. Mulheres russas que, na Segunda Guerra Mundial, foram combater os alemães, aquando da invasão da União Soviética em 1941, deixando de lado os vestidos femininos, os sapatos de salto, as tranças que tiveram de cortar e a maquilhagem. Mulheres que, tantas vezes, nem maiores de idade eram e partiam para a guerra porque queriam a Vitória, queriam defender e ajudar a mãe, o pai e os irmãos e as irmãs. 

Este é um livro de vozes. Um livro de testemunhos. Pleno de emoções. Pleno de sensibilidade. Pleno de força. Pleno dos horrores de quem participou directamente na guerra, sem intermediários. Muitas destas vidas ficaram condicionadas para sempre depois da guerra: fisicamente, psicologicamente e até do ponto de vista familiar. Há quem nunca recupere das feridas deixadas por todo o sofrimento passado e lhe custe falar, testemunhar. Há quem tenha ultrapassado tudo isso. Há de tudo. 

Gostei muito de ler este livro. Além de estar extremamente bem escrito e justificar sem qualquer dúvida a atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Svetlana Alexievich em 2015, este livro trouxe-me algo de novo: a leitura da guerra pelas mulheres. E note-se que eu leio bastante sobre a guerra (faz parte do meu trabalho), pelo que não tenho qualquer dúvida em dizer que quem quiser compreender o que foram as duas grandes guerras totais do século XX (a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais) tem de ler este livro, a par de "A Guerra como Experiência Interior" de Ernst Jünger e "Os Órgãos de Estaline" de Gert Ledig. 

https://www.goodreads.com/review/show/1865955098


sábado, 14 de janeiro de 2017

O Excêntrico Mortdecai, de Kyril Bonfiglioli


"O Excêntrico Mortdecai" de Kyril Bonfiglioli
Marcador, 2015
214 Páginas

"O Excêntrico Mortdecai" pode ser um bom livro, mas não o foi para mim... 

O autor tem conhecimentos culturais diversificados, o que é interessante e manifestamente notório, mas isso por si só não basta. Não senti que houvesse história neste livro, nem consegui perceber qual a mensagem que se pretende transmitir. 

O que mais consegui reter neste livro foi a constante observação de Mortdecai ao peito das mulheres (que com ele se cruzavam, o que às tantas também se torna um pouco enjoativo... Se bem que isso pode estar relacionado com a excentricidade de Mortdecai), a descrição das suas idas à casa de banho (não percebi qual o interesse de ali aparecerem) e o cantar glorioso do seu canário (a que se referiu por diversas vezes e em relação ao que nada tenho a apontar), bem como alguns problemas com a policia. E a bebida. A bebida é algo que está quase sempre presente. 

Para mim, a parte melhor de "O Excêntrico Mortdecai" foi quando este se envolveu com a mulher de um falecido negociante de arte (o modo como isso aconteceu e como Mortdecai se soltou), seu rival, uma mulher um tanto ao quanto selvagem a julgar pelo que o autor, Kyril Bonfiglioli, nos refere. 

À parte disso, quase não consegui desligar-me do mundo real e entrar na história, sendo que o próprio Mortdecai não me conseguiu causar empatia enquanto personagem... Mas isso também se pode dever ao facto da figura me ser algo familiar (acho que já conheci alguém assim e o rasto que deixou não foi nada positivo sob nenhum aspecto). 

https://www.goodreads.com/review/show/1865948465

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Encontro em Itália, de Liliana Lavado

"Encontro em Itália" de Liliana Lavado
Marcador, 2014
Marcador

Ao início gostei mais ou menos, quase a chegar a metade do livro gostei mais e de metade em diante gostei muito. Terminei a pensar: que viagem este livro fez...! Embora, não tenha gostado assim tanto do fim escolhido. É lírico, é verdade, mas para mim é desmancha-prazeres...

"Encontro em Itália" não foi nada do que eu estava à espera. Pensei que ia sair daqui uma história de amor simples, mas arrebatadora; um reencontro de um amor antigo que, apesar das novas peripécias, teriam um desfecho feliz. Mas não foi bem assim...

A história podia ser simples e, todavia, não é. Mistura sem mais nem menos homens e anjos. Uma mistura interessante, devo observar. 

Temos também alguém que vive no limite porque sabe que tem os dias contados devido a uma doença e isso, porém, não é exposto de forma dramática, o que admiro e valorizo. Quando leio um livro, não gosto de dramas gratuitos. E aqui não há drama gratuito. 

Temos amores cruzados, obsessão, filhos indesejados e traições entre amigos. Temos gatos que falam. Humanos que ganham asas de anjo. E o que parece simples ao início, repito, não o é. Há surpresa, há trocar das voltas e tudo tem um porquê de acontecer mesmo quando isso não parece óbvio à primeira vista...!

https://www.goodreads.com/review/show/1865946939

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Adeus Berlim, de Wolfgang Herrndorf


"Adeus, Berlim" de Wolfgang Herrndorf
Editorial Presença, 2013
236 Páginas


Herrndorf escreveu em "Adeus, Berlim" uma história sobre dois adolescentes para adolescentes (é notório na forma como o livro está escrito e no tipo de linguagem utilizada), sendo que embora já não me insira nesta categoria e, admito, tenha demorado um pouco a reavivar a memória e a colocar-me nesse papel, gostei do livro. 

É bonita a amizade que se desenvolve entre o jovem alemão-russo, pobre e com um passado de roubos, e o alemão abastado, com uma mãe alcóolica e um pai abastado, mas ausente. É também interessante a forma como os dois jovens interagem com quem se vão cruzado durante o seu trajecto (como é caso de Isa, a menina do lixo, e da Terapeuta da fala só para dar alguns exemplos), em direcção à Valáquia (na Roménia e a Norte do Danúbio) a bordo de um jipe Lada roubado, nas férias de Verão. 

Para mim, a graça deste livro está a partir do momento em que os dois partem no jipe, começando a aventura. Até chegar a essa parte, admito que estava um pouco ansiosa (o facto dos dois jovens não serem populares na turma e a dificil relação com os outros colegas não me disse grande coisa, talvez porque se trata, infelizmente, de algo demasiado frequente nos nossos dias - nos meus igualmente -) ... Parecia que a verdadeira história do livro nunca mais começava. Depois começou e valeu a pena!

A obra venceu, em 2011, o Prémio Nacional de Literatura Juvenil Alemã, tendo sido escolhida pela Alemanha (através do Goethe-Institut) para ser apresentada na Noite de Literatura Europeia em 2013, em Lisboa, a bordo do eléctrico 28. 

https://www.goodreads.com/review/show/1865947449

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

A Pomba, de Patrick Süskind

"A Pomba" de Patrick Süskind
Editorial Presença, 2014
93 Páginas


Gostei muito de "O Perfume", mas "A Pomba" desiludiu-me. "A Pomba" parece-me uma amostra de qualquer coisa que ficou por concretizar... E eu diria que detestei o livro quase desde o início, apesar de estar muito bem escrito, convém notar. 

Não gosto da sua essência. É um livro deprimente. Cinzento. Por vezes, até mal cheiroso. Daqueles que chegamos a pensar enquanto o lemos: como é que eu fui achar que podia ser boa ideia ler-te, meu bom amigo?! Pois...

Eu li-o todo até ao fim na esperança de que a minha opinião pudesse mudar, mas isso não aconteceu. O porteiro Jonathan não me causou qualquer empatia. Não só porque fica horrorizado desde o início com o aparecimento de uma pomba (um animal aparentemente indefeso, porque ainda para mais surge ferido) na casa onde vive, com as críticas que faz às porteiras sendo ele também um porteiro (um contra-senso), como também com a constante referência ao acto de defecar da pomba, do mendigo com que se cruza na rua... 
*
"Andar acalma. A marcha possui uma virtude salutar. O ato de colocar regularmente um pé à frente do outro, acompanhado pelo balançar cadenciado dos braços, a aceleração do ritmo respirtatório, a ligeira estimulação do pulso, as actividades da vista e do ouvido necessárias à manutenção do equilíbrio - são acções que impelem o corpo e o espírito para uma convergência irresístivel, permitindo que a alma, por muito atrofiada e traumatizada que esteja, cresça e se expanda." [p.81]

https://www.goodreads.com/review/show/1864496962


Viciado no Pecado, de Monica James



"Viciado no Pecado" de Monica James
Planeta, 2016
342 Páginas


Dentro do género, este livro foge um pouco à regra...

Não temos um ricaço do meio imobiliário com um passado díficil, muitas vezes com incursão no crime e mal tratado pela familia. Temos um psiquiatra no centro da história, especialista no vício, encurralado entre um puro prazer carnal sem emoção e um prazer mais completo, que não deixando de ser carnal, não se orienta primeiramente por isso. É mais emocional, mais sensível, digamos assim. 

Não temos uma jovem à procura de trabalho, acabada de se licenciar, que se cruza com um ricaço, se interessa por ele e ele por ela. Temos duas mulheres com quem a personagem central desta história se relacionará, muito diferentes uma da outra e que se encaixam, cada uma delas num tipo de prazer diferente. Uma é ninfomaníaca e a outra sofreu abusos quando mais nova. 

O estilo de escrita é envolvente, a história também. Gostei desde o primeiro momento da abordagem que é feita ao tema vício e da presença de um psiquiatra que se auto-analisa, analisa os pacientes e aqueles que, não sendo seus pacientes, com ele se relacionam, sobretudo as mulheres. Esta componente psicológica agradou-me bastante. Aguardarei ansiosa pela continuação da história, devo admitir...!

*
"Mas eu sei que o vício tem a sua origem num único conceito, primitivo e simples. 
O desejo.
Quer o desejo seja de êxito, de beleza, de comida, de álcool, de drogas, de nicotina ou de sexo pornográfico, o resultado final é sempre o mesmo: todos queremos experimentar a euforia que decorre desses factores, e é nisso que nos viciamos. O que desencadeia o vício varia de pessoa para pessoa, mas, no fim, todos queremos ser... felizes. E, na maioria dos casos, a satisfação do desejo conduz à felicidade." (p.13)

https://www.goodreads.com/review/show/1859315577