segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Caminhar no Gelo, de Werner Herzog


"Caminhar no Gelo" de Werner Herzog
Tinta-da-China, 2011
124 Páginas

Werner Herzog decide fazer uma caminhada, entre o final de Novembro e o início de Dezembro de 1974 (demorou três semanas), de Munique a Paris, quando fica a saber que a sua mentora no mundo do cinema, Lotte Eisner (alemã que viveu o período do Terceiro Reich e que por ser judia teve de fugir para França), se encontra muito doente e, muito provavelmente, à beira da morte. 

Pelo caminho, Herzog vai dormindo aqui e ali, onde calha, descrevendo sem se perder em detalhes excessivos o que vai vendo, ao mesmo tempo que num momento ou noutro vai tomando mais sentido à solidão que o acompanha. 

Gostei do que li, mas fiquei a achar que a caminhada para "prolongar" a vida de Eisner foi apenas um pretexto para o autor (com um valente espirito aventureiro) fazer esta viagem em pleno Inverno e, mais tarde, escrever este livro. Até porque ele só fala de Eisner no início e praticamente no fim...!

*
"À volta das árvores, no chão enlameado, estão caídas maçãs podres que ninguém apanhou. Misteriosamente, uma das árvores, que de longe parecia ser a única com folhas ainda estava carregada de maçãs. Apanhei uma, era bastante amarga, mas boa para a sede. Atirei o caroço contra a árvore e as maçãs caíram como chuva. Quando pararam de rolar, transmitindo uma imagem de sossego assim caídas, pensei para mim: ninguém pode imaginar esta ausência total de pessoas. Este é o dia mais desolado, mais solitário de todos os dias. Aproximei-me então e sacudi a árvore até ela ficar nua. As maçãs caíram ao chão, engolidas pelo silêncio. Quando tudo chegou ao fim, abateu-se sobre mim um silêncio imenso, e olhei à volta, e não havia ninguém. Ali estava eu sozinho."
[p.91]

https://www.goodreads.com/review/show/1847562325?book_show_action=false&from_review_page=1

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