quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

"A Germânia" de Tácito




"A Germânia" de Tácito
Vega, 2011
71 páginas

"A Germânia" de Tácito é uma obra de inegável valor historiográfico acerca dos germanos, povo temido pelo Império Romano e, ao mesmo tempo, admirado pelo autor que a redige em 98.


Refiro-me, porém, a um pequeno livro de 61 páginas, das quais metade está em latim e a outra metade em português. Em termos de estrutura, Tácito apresenta-nos a sua "Germânia" em duas partes: uma primeira, a minha preferida, dedicada à origem dos germanos (aspecto físico, costumes e instituções) e uma segunda, na qual enumera os diferentes povos germânicos e respectiva localização geográfica. 


Algumas das ideias para mim mais interessantes (e não necessariamente novas por "ossos do ofício") aqui apresentadas foram: 

- os germanos como autóctones "e pouco misturados com outras raças por migrações e relações de hospitalidade", "uma raça específica e sem mescla, apenas semelhante a si própria" (pp. 17 e 19); 

-a Germânia como sendo "feia nas terras, áspera no clima, triste nos costumes e aparência" (p.17); - "olhos ferozes e azuis, cabeleiras ruivas, corpos grandes e apenas vigorosos para a fúria dos ataques"(...). Suportam mal a sede e o calor, mas habituaram-se ao frio e à fome (...)" (p.21); 

-"quando não andam em guerras, não passam muito tempo em caçadas, mas na ociosidade, entregues ao sono e à comida" (p.31). 

-"Vivem separados e isolados, segundo lhes agradou uma fonte, um campo, um bosque." (p.31); 

-"Também costumam abrir subterrâneos e tapam-nos com muito estrume, como refúgio contra o Inverno e receptáculo de produtos da terra, pois abrandam o rigor dos frios em tais lugares e, se acaso vier o inimigo, as coisas descobertas são devastadas, mas as ocultas e enterradas ou são desconhecidas ou escapam à vista, pelo simples facto de terem de procurar-se."(p.33);

- "(...) são quase os únicos bárbaros que se contentam com uma mulher para cada um (...). Não é a mulher que dá o dote ao marido, mas o marido à mulher. (...) A mulher (...) traz algumas armas ao marido. (...) aceitam um só marido, como um corpo e uma vida (...)" (pp. 33 e 35); 

- "não dividem o ano em tantas partes como nós: conhecem e têm designações para Inverno, Primavera e Verão; do Outono tanto ignoram o nome como os frutos" (p.41).


Finalmente, e num registo um pouco diferente, saliento a referência que é feita ao âmbar, resina fóssil que desde há vários anos muito me fascina pela região onde se desenvolve e pela forma como se desenvolve. Para os germanos, segundo Tácito, o âmbar não tem uso, "é suco de árvores, porque muitas vezes transparecem pequenos animais terrestres e insectos, que, envolvidos por este fluído, ficam depois fechados quando a matéria endurece. (...) Se sondarmos a natureza do âmbar aproximando lume, acende-se como uma tocha e alimenta uma chama espessa e perfumada; torna-se depois viscoso, como pez ou resina." (p.59)

https://www.goodreads.com/review/show/4462078943

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