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quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

"Mario und der Zauberer" de Thomas Mann



"Mario und der Zauberer" de Thomas Mann
Fischer, 107 páginas
1989


Contrariamente a tudo o que já li de Thomas Mann até hoje, "Mario und der Zauberer" ["Mário e o Mágico"] deixou-me algo frustrada... Gostei, mas esperava um pouco mais do que ali encontrei. O que encontrei soube-me a pouco.

Mann conta aqui a história de um casal que vai passar férias a Itália com os seus dois filhos pequenos, um dos quais uma menina com oito anos meio franzina para idade que suja o fato de banho e o despe correndo nua pela praia... até que um senhor interpela o pai e o questiona acerca da moral, dos bons costumes e da sua ausência de respeito para com os italianos. Mas... não é aqui que se encontra o centro da nossa história!

O centro da nossa história encontra-se no espectáculo a que essa familia vai assistir já por volta das 21h levado a cabo por Cavalieri Cipolla, uma espécie de mágico (hipnotizador), acompanhado de Mario. A figura de Mario é quase "dormente" durante todo o espectáculo, tendo apenas um papel preponderante no final da história e, antes disso, no término do espectáculo. Quando "desperta" depois de um beijo e saca de uma arma disparando alguns tiros ao perceber que tinha estado a ser gozado e manipulado na sua dor...

Em relação a Cipolla, padecendo de uma deficiência física (num braço?!) que o impediu de lutar na guerra, fala, fala e não diz nada de efectivo. Porém, deixa a plateia em completo êxtase com a forma como discursa. Nem as crianças querem ir para casa antes do espectáculo, longo no tempo e tarde nas horas, terminar. 

No fundo, "Mario und der Zauberer" é uma alegoria aos lideres fascistas. Todavia, talvez por ter partido com expectativas elevadas, creio que ficou algo aquém do que esperava. Ainda assim, gostei.


https://www.goodreads.com/review/show/5160410210

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

"The Magician" de Colm Tóibín


"The Magician" de Colm Tóibin
Penguin, 2022
448 Páginas

                                                                  

"The Magician" do autor irlandês Colm Tóibín é um livro vencedor dos prémios "The Rathbones Folio Prize 2022" e "The David Cohen Prize". E facilmente se compreende o porquê...

A escrita é simples do ponto de vista literário sem que isso lhe retire a beleza. É agradável de ler e para quem já mergulhou com alguma profundidade e detalhe na obra de Thomas Mann, enquanto escritor, ainda mais. 

Todo o foco de Tóibín encontra-se na construção do ambiente (temporal e familiar) de Thomas Mann e na forma como este se reflectirá em alguns dos seus livros, como "Os Buddenbrook", "A Morte em Veneza","A Montanha Mágica", "Lotte em Weimar" e "O Doutor Fausto".

Por outro lado, quando comecei "The Magician" foi como se estivesse a reler "Tonio Kroger" e "Os Buddenbrook" dada a inquestionável existência de semelhanças entre estas duas obras e a história da vida de Mann. No caso da primeira, destaco, por exemplo, a homosexualidade escondida de Tonio e de Mann, a tensão entre a sua paixão pela literatura e a obrigação de se dedicar aos negócios da empresa do pai...

Na verdade, e da minha experiência ("work in progress") de Mann, as suas obras - mesmo tratando-se de ficção - são muito auto-biográficas, pelo que a visão que Tóibín nos dá de Mann, o homem por trás dos livros, acaba por encaixar muito bem. 

"The Magician" evidencia Mann enquanto presença ausente na família (como filho, como irmão, como marido - conclui-se que o casamento com uma mulher é fundamentalmente para esconder as suas tendências homosexuais-, como pai - porque focado primariamente em ser um grande escritor-) e até como alemão. Aliás, Tóibín retrata muito bem o sentimento de Mann (e da mulher) se sentir estrangeiro nos EUA para onde foge (a mulher era judia) do III Reich e depois a impossibilidade de voltar à Alemanha uma vez terminada a guerra (por ter abandonado o seu país para se salvar), bem como a decisão de se fixar na Suíça para aí terminar os seus dias. 

Ao mesmo tempo, essa ausência, esse afastamento da realidade próxima, reflecte-se também na relação com o irmão Heinrich Mann, que não consegue triunfar no mundo da literatura como ele, acabando ideologicamente por se aproximar do comunismo. Há um curioso acentuar de diferenças, diria que como o dia para a noite, entre ambos os irmãos... Até na forma como ambos lidam com o suicidio das irmãs: o imperturbável Thomas vs o perturbável Heinrich.

Gostei muito.

https://www.goodreads.com/review/show/4968590809


quarta-feira, 20 de março de 2019

Tönio Kröger/Mario und der Zauberer, de Thomas Mann


"Tonio Kröger/Mario und der Zauberer" de Thomas Mann
Fischer Verlag, 2018
127 Páginas


Este é o estilo de Thomas Mann que eu mais aprecio. Lírico e inquietante, sem se perder em excessos para além daqueles que são próprios de algumas das suas personagens e da mensagem que as obras pretendem transmitir sobre determinado assunto. 

Neste caso em concreto, "Tonio Kröger" aborda o conflito entre a fria disciplina e a organização nórdica e a sensibilidade e sensualidade sulista, os olhos azuis e o cabelo loiro paternos e os olhos escuros e cabelo também escuro maternos, a pertença à burguesia sentindo-se tantas vezes posto "de lado", os amores platónicos e inalcansáveis próprios dos primeiros anos, a admiração pelo que é belo e a atração pelo que é diferente e oposto, a vontade de ser comum, simples e despreocupado em vez de estar constantemente a questionar a sua existência e a tentar compreender tudo...

Seria mais fácil ser burguês puro e duro, sem sofrer as paixões próprias daqueles que nascem toldados para o mundo da arte e que tudo sentem, até demais. Compreendo em parte Tonio e este seu dilema de tudo questionar, de tudo querer compreender, de tudo sentir.... Creio que temos isso em comum e, tal como ele, dou comigo várias vezes em conflito por ser assim... e não ser mais "leve"! 

Adorei.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

A Montanha Mágica, de Thomas Mann



"A Montanha Mágica" de Thomas Mann
Publicações Dom Quixote, 2014
816 Páginas 



Adorei Thomas Mann em "Os Buddenbrook", que está mesmo entre os meus livros preferidos, mas não consegui ficar a adorar Thomas Mann em "A Montanha Mágica"... 

Mann debate, diria que, tudo e mais alguma coisa nesta sua "Montanha". E ainda que tenha considerado muitos dos debates e reflexões em causa extremamente interessantes, muitos houve que me aborreceram e não me interessaram assim tanto... Fiquei, em alguns casos, com vontade de saltar texto, virar umas quantas páginas, apressar a leitura ou fechar o livro e ir dormir mais cedo. 

Adorei, todavia, as várias reflexões que fui encontrando em torno do tema do tempo. Fascinantes, mesmo! Creio que estas foram o que mais gostei na obra.


https://www.goodreads.com/review/show/2639911989

sexta-feira, 30 de junho de 2017

A Morte em Veneza, de Thomas Mann


"A Morte em Veneza" de Thomas Mann
Relógio D'Água, 2004
114 Páginas




Terceiro livro que leio de Thomas Mann, o segundo de ficção. Que dizer?
Acho que posso colocá-lo na lista dos meus escritores preferidos e não é por ter sido Nobel em 1929. É mesmo porque admiro a sua escrita. Não é um escritor fácil de compreender nem de leituras rápidas e superficiais. É profundo, superior, pensado, estruturado. E eu gosto disso.

Aqui é o fascinio pela beleza que dá o tema à história, ou seu centro se preferirem. Aschenbach, o escritor, está deslumbrado pela beleza do adolescente Tadzio, sendo que esse deslumbramento é tal que se reflecte na própria escrita de Thomas Mann. Forte, arrebatadora, de cortar a respiração (no bom sentido, no muito bom sentido, entenda-se). É dificil não se ficar apaixonado pela paixão de Aschenbach por Tadzio...! E eu só os conheço pelas palavras de Mann. 

"A Morte em Veneza" não é a história de um crime (como eu, erradamente, pensava; apesar do título poder sugeri-lo), mas sim um livro cuja escrita nos transporta muito para o plano espiritual e superior. Num certo sentido é filosófico. Aliás, nesta sua novela, Thomas Mann oferece-nos muito de Platão, sobretudo na sua relação com a beleza e com as emoções. E eu adoro Platão! É preciso dizer mais alguma coisa?! 

Posto isto, estou a pensar seriamente se não começo a ler "A Montanha Mágica" muito em breve... Será loucura?! Não sei, o que sei é que Thomas Mann está a "infiltrar-se em mim", definitivamente.

https://www.goodreads.com/review/show/2035729708

sexta-feira, 31 de março de 2017

Os Buddenbrook, de Thomas Mann

"Os Buddenbrook" de Thomas Mann
Publicações Dom Quixote, 2011 
638 Páginas


Esta foi a minha segunda experiência com Thomas Mann, mas a primeira sob o ponto de vista ficcional. A história conquistou-me aos poucos, devagar, de forma incisiva. A partir das quatrocentas e tal páginas ansiei por chegar ao fim, sobretudo porque começava de algum modo a antever a queda/decadência da familia a aproximar-se. A verdade, porém, é que quando cheguei ao fim, senti-me como que órfã e desamparada... Os Buddenbrook já faziam (e fazem) parte de mim. E devo dizer que gostei muito. 

Não se lê rapidamente, lê-se demorada e pensadamente, sendo que reflectiremos sobre a obra durante e após a sua leitura. Uma das razões para isto acontecer relaciona-se como facto dos temas abordados, ainda que relativos ao século XIX, se manterem actuais. 

Refiro-me à questão da disputa de uma herança entre irmãos feita de forma mesquinha e destruidora, o desbaratamento ao fim de duas/três gerações de um negócio de familia importante e de peso, com impacto na vida política de então. Digno de nota é igualmente o papel da mulher neste período que, para mim, é um dos aspectos mais interessantes na obra. A sociedade aqui retratada é patriarcal até à exaustão.

A mulher devia casar-se antes dos trinta anos (para não ficar solteirona - termo que sempre me enojou e, sim, quero mesmo dizer enojar - e a viver com os pais e, mais tarde, após a morte destes, com os irmãos, tornando-se uma presença quase indesejada) e fazê-lo com um homem que a sustente, permitindo-lhe "aumentar" a sua posição social, bem como "juntar" riquezas entre empresas-familias. Recorde-se que neste período a mulher tinha um dote, algo mais comum entre as camadas mais ricas da sociedade, o "preço" que a familia desta pagava para o/pelo noivo se casar com ela e que a colocava a mulher numa posição de vulnerabilidade e fragilidade. Ademais, a mulher era vista como "uma criança" até ao casamento e, findo o mesmo (apenas sob condições muito especificas), caía numa espécie de decadência e infortúnio... Hoje incompreensiveis para mim. Porque a mulher tem o direito e a capacidade de ser tão independente quanto o homem. O que é que o homem tem a mais que a mulher?! São seres humanos, ambos!

Por outro lado, outra das razões que justificam o interesse pela obra prendem-se com o retrato que nos é oferecido, por um alemão, sobre a Alemanha (que não é o país que hoje conhecemos; era um conjunto de vários Estados diferentes e independentes entre si) do século XIX, sobre a revolução de 1848 (conhecida como a Primavera dos povos), de Lübeck (uma cidade pertencente à Liga Hanseática. 

Do ponto de vista da escrita de Thomas Mann o estilo é soberbo. Talvez não seja o tipo de leitura indicada para quem prefere algo mais leve ou para quem não goste mesmo de ler a sério. Para quem tem na leitura uma verdadeira paixão e gosta de literatura a sério, este é um clássico digno desse mesmo nome (e não é maçudo, acreditem). As descrições dos espaços, das personagens, ... é tão bem feita que o leitor quase que se sente a observar o desenrolar da história "em directo". 

Além disso, esta foi, tanto quanto pude apurar, a obra que valeu a Thomas Mann a atribuição do Prémio Nobel da Literatura em 1929. E quando se termina a sua leitura percebe-se bem porquê...! Gostei e muito.


https://www.goodreads.com/review/show/1940406105

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Um Percurso Político, de Thomas Mann



"Um Percurso Político. Da Primeira Guerra Mundial ao Exílio Americano" de Thomas Mann
Bertrand Editora, 2016
205 Páginas



"Um Percurso Político. Da Primeira Guerra Mundial ao Exílio Americano" trata-se de uma selecção de textos políticos de Thomas Mann, cuja organização foi apoiada pelo Goethe-Institut e pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros Alemão. 

A obra compõe-se de cinco textos, ensaios: "Pensamentos em tempo de Guerra" (1914), "Pensamentos a Propósito da Guerra" (1915), "Da República Alemã" (1922), "Alocução Alemã. Um Apelo à Razão" (1930), "O Meu Irmão Hitler" (1933) e "A Alemanha e os Alemães" (1945), através dos quais Thomas Mann dá o seu testemunho sobre o que entende ser o carácter alemão, a germanidade, as razões do apoio alemão a Adolf Hitler (que ele crítica de toda a forma e feitio, abominando-o sem rondeios e dando origem a uma das partes mais espantosas de "Um Percurso Político"), sem esquecer, claro, o modo como encara a Primeira Grande Guerra e o Tratado de Versailles e a Segunda Grande Guerra.

Com efeito, este livro permite-nos pensar a partir da pena do alemão, Prémio Nobel da Literatura de 1929, aspectos marcantes da História europeia e, sobretudo, alemã, o que é bastante enriquecedor porque é algo que nos falta com frequência... Conhecer como é que os alemães se pensam a si próprios e pensam o mundo!

*
"E é por isso que o afirmo: a melhor, a verdadeira segurança da França é a saúde de alma do povo alemão. O mundo vê bem como a crise geral política e económica afectou esta saúde que, para a Alemanha, se agravou perigosamente com condições de paz insensatas. (...)" [pp. 135 e 136]

https://www.goodreads.com/review/show/1792031358