quarta-feira, 26 de abril de 2017

Snu, de Jytte Bonnier


"Snu" de Jytte Bonnier
Quetzal Editores, 2003
107 Páginas



A autora é a mãe de Snu Abecassis, que morreu juntamente com Sá Carneiro no acidente em Camarate,  tendo decidido escrever este livro uns anos depois da morte da filha, como forma de a ajudar a viver mais do que o tempo que viveu e, em certa medida, ajudá-la a suportar a dor resultante da filha ter partido cedo demais.

"Snu" parece estar esgotado há muito e não voltaram a fazer uma nova edição. Consta que as Publicações Dom Quixote, fundadas por Snu, se recusaram a publicar este livro, prefaciado pelo actual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e, portanto, esta é uma edição da Quetzal de capa dura e lombada estreita. 

Existindo muita coisa por descobrir (ou talvez por revelar) em torno de Camarate, tendo eu ficado fascinada com a biografia de Snu, escrita por Cândida Pinto, e ainda percebendo a dificuldade em encontrar este livro, esgotado, quis lê-lo e tentar compreender mais (estou longe de estar satisfeita; ainda não encontrei o que procuro)... Vicio de quem investiga!

A escrita é simples, reflectindo o modo como a mãe, Jytte, via a filha, Snu. Sobressai nela muito do amor que a mãe tem pela filha, muita da saudade e alguma dor magoada, seca, sem levar, todavia, às lágrimas (penso que também não seria esse o objectivo da autora). É uma visão diferente da de Cândida Pinto que vê o filme da vida de Snu de fora, ainda que bebendo informação da conversa com vários familiares e amigos desta. A mãe de Snu vive no estrangeiro, fala da filha e da vida dela como ela a percebeu, como ela, por si só, a conheceu e soube. 

Gostei do livro (lê-se depressa), mas se me perguntarem se preferia ler este ou o outro de Cândida Pinto para ficar a conhecer a extraordinária mulher que foi Snu, digo, sem sombra para dúvidas, que o outro "Snu e a vida privada com Sá Carneiro" é muito mais completo, mais profundo (porque cruza informações provenientes de várias entrevistas com várias pessoas que a conheciam), mais diverso (fala da vida de Snu, da de Sá Carneiro, dos primeiros passos da Dom Quixote como editora, do primeiro marido de Snu, Vasco Abecassis,...) e mais vivo. Não se sente saudade. Sente-se vazio. Sente-se o fim da vida daquela pessoa. Não se sente dor. Sente-se incompreensão, compaixão e, ao mesmo tempo, vários outros sentimentos e emoções porque o livro foi escrito por alguém de fora, sem paixão. Este tem paixão, muita, tem dor e é, por ter sido escrito por alguém de dentro (quem lhe deu a vida), muito próprio, algo cinzento, típico de quem está a sofrer e não consegue gerir o desaparecimento, o fim trágico da filha ...


https://www.goodreads.com/review/show/1975952641

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