terça-feira, 18 de outubro de 2016

É a Guerra, de Aquilino Ribeiro

"É a Guerra" de Aquilino Ribeiro
Bertrand Editora, 2014
230 Páginas



"É a Guerra" trata-se de um diário escrito por Aquilino Ribeiro, que na época vivia em França já casado com uma alemã (Grete Tiedemann), durante os meses de Agosto e Setembro de 1914, iniciada a Primeira Guerra Mundial. 

Assumindo-se como germanófilo, o autor português observa com olhar crítico não só o comportamento da França em relação à Guerra, como também o modo como os franceses fomentam o ódio contra os alemães e até a forma como as outras nações se comportam umas relativamente às outras. Esta é uma guerra em que os nacionalismos se incendeiam, se confrontam e se ferem sem qualquer cuidado. A ordem e a felicidade está na destruição, no aniquilamento sem mais demoras, como Aquilino faz questão de sublinhar diversas vezes ao longo da obra. 

Interessante também é a leitura que o autor faz da participação portuguesa, do corpo diplomático português em França (e no geral) e dos governantes portugueses, permitindo que compreendamos um dos porquês de ter emigrado e também que conheçamos melhor o seu modo de pensar o mundo, a política e as suas relações. 

Em relação à escrita, a sua leitura não é simples, até porque é caracteristica de Aquilino Ribeiro recorrer com frequência ao uso de regionalismos, sobretudo da Beira Alta, sendo que nesta obra, para além destes, encontramos várias vezes pequenas partes escritas em francês. O seu estilo é irónico, crítico, sarcástico. A língua portuguesa surge, assim, mais trabalhada do que o habitual na maior parte das obras, mas sem exageros. A meu ver é um livro para quem gosta de ler na nossa língua.

Este é o terceiro livro que leio do autor e que mais uma vez gosto. O facto de se tratar de um diário, à semelhança de "Alemanha Ensanguentada", enriquece ainda mais a sua leitura. Trata-se de um testemunho vivo, histórico do início da Primeira Guerra em França, e vale a pena!
*
"Se o homem já era ruim com o semelhante, refinou para tigre, dado que tal bicho ocupe o lugar de honra na escada da ferocidade. Como proclama Clausewitz, a guerra apenas reconhece um meio: a violência. Tudo o que puder empreender de mais fero, de mais inumano, de mais devastador, é recomendável e legítimo. O seu ideal de perfeição reside na hetacombe generalizada. Numa palavra, quanto mais e melhor mata e destrói, mais e melhor está integrada na sua ética. Limitá-la, condicioná-la, é empresa de poetas, quando não de impostores, comparável à de amarrar com cordéis a tempestade na atmosfera. "
[p.144] 
https://www.goodreads.com/review/show/1708584240

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