domingo, 23 de outubro de 2016

Uma Espia na Casa do Amor, de Anaïs Nin

"Uma Espia na Casa do Amor" de Anaïs Nin
Vega, 2012
132 Páginas

"Uma Espia na Casa do Amor" deixou-me indecisa entre as 2 e as 3 estrelas... A verdade é que quando me questiono se gostei do livro não consigo dizer que não gostei, mas também não consigo dizer que gostei. 

A meu ver a obra tem um argumento com tudo para dar um livro interessante, no mínimo "agitante": uma mulher que apesar de viver com um homem que a ama decide ausentar-se, de vez em quando, alegando razões profissionais, mas tudo o que faz nesses períodos é experimentar o amor de outros homens, sem qualquer espécie de relação de qualquer tipo... 

No entanto, o interesse do argumento perde-se na sua concretização. A autora tem tiradas inteligentes, dotadas de grande profundidade e reflexão (que admirei bastante e tomei nota porque são dignas de leituras e releituras), mas ao mesmo tempo a forma como começa o livro é confusa, deixando o leitor cheio de dúvidas, e a forma como também apresenta os encontros ocasionais, se volta a referir aos sentimentos de Sabina e  ao modo como o marido a trata é feita atabalhoada, caótica e desorganizadamente. Nem sempre é fácil compreender que se passou de uma coisa à outra e, às vezes, essa transição é abrupta. Por outro lado, a obra não dispõe de capítulos, o que faz com que o leitor tenha de andar à procura do “tempo certo” para fazer uma pausa e isso acaba por cansar um pouco e constituir motivo de algum stress …!

No essencial, a obra concentra-se no desejo de liberdade e independência da personagem principal, que parece não querer amar ninguém, e que sendo infiel, por "necessidade", não sabe como lidar com a culpa (?) e a eventual e hipotética possibilidade de descoberta dessa vida paralela pelo marido. Ainda que a escrita de Anaïs Nin se foque no estado de alma de Sabina, com pouca ou nenhuma relevância dos cenários e a quase ausência de descrições, e seja nessa perspectiva riquissima, a verdade é que no geral o meu maior desejo foi sempre conseguir terminar o livro o mais rapidamente possível... Como se não conseguisse aguentar aquela leitura por mais tempo do que o apenas necessário! 

E é isto.
*
"Como ela aprendera a fazer desaparecer cartas de amor pelo lavabo, a não deixar cabelos no pente emprestado, a reunir os ganchos do cabelo, a apagar vestígios de baton em toda a parte, a sacudir nuvens de pó de arroz. 
Os seus olhos eram como os olhos de uma espia. 
Os seus hábitos eram como os hábitos de uma espia. Como ela punha todas as suas roupas numa cadeira, como se pudesse ser chamada de repente e não devesse deixar quaisquer vestígios da sua presença. (...)"[p. 58]

https://www.goodreads.com/review/show/1791070601

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