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sexta-feira, 24 de maio de 2019

Rumo à Liberdade, de Slavomir Rawicz



"Rumo à Liberdade" de Slavomir Rawicz
Editorial Presença, 2012
283 Páginas

Que grande história! Que grande aventura! Que grande coragem!

Gostei muito deste "Rumo à Liberdade" e, uma vez iniciada a fuga, dei comigo a "vivê-la" intensamente e a torcer para que a mesma terminasse bem. 

Há quem duvide da veracidade desta história, mas a verdade é que só quem a escreveu é que sabe efectivamente se algo se passou de facto, o que se passou e como se passou. Algum fundo de verdade haverá sempre. Por outro lado, em ficção (e esteve livro não se encontra catalogado como tal), muito do que se conta e inventa tem como base algo que se conhece ou que se viveu directa ou indirectamente na realidade. 

O homem só sabe verdadeiramente aquilo de que é capaz quando posto à prova e quando sabe que desistir, ao invés de persistir e lutar, significa colocar em causa a sua sobrevivência e... pode significar morrer. É perante o desconhecido da vida que brota, no meu entender, a verdadeira coragem. Neste caso, arriscar uma fuga para a liberdade poderia também ser sinónimo de uma ameaça à sobrevivência não só fruto da potencial ameaça humana (ser outra vez "apanhado" pelos russos), como também da ameaça natural decorrente de condições geográficas especialmente exigentes neste espaço da Terra (da Sibéria à Mongólia terminando nos Himalaias). E, assim sendo, entre poder morrer preso e poder morrer em fuga pela liberdade, Rawicz optou pela última possibilidade e tentou a sua sorte...

Gosto de livros que me inquietam e que me deixam a pensar... Este foi um deles. Desde há uma semana (quando terminei de o ler) que ando a interrogar-me até que ponto a ideia de liberdade não poderá ser em si mesma uma prisão? Até que ponto não se é mais livre preso do que nessa busca, por vezes sedenta e faminta, pela liberdade? Essa perseguição pela liberdade é um esforço de sobrevivência (a vida em "prisão" acaba também por sê-lo, mas sob outras condições)... E a sobrevivência, quando em condições adversas (humanas e geográficas), pode chegar mesmo a ser uma pesada prisão de risco mortal (?!). Tudo se pode perder ali... Numa má escolha, na falta de sorte... Ao mesmo tempo, não será a liberdade uma espécie de ave em relação à qual corremos, corremos e corremos atrás sem nunca a conseguir "agarrar", conquistar? Não será o desejo de liberdade uma insatisfação permanente?! 

Volto ao principio: Que grande história! Que grande aventura! Que grande coragem! E acrescento: que grande livro!

domingo, 11 de dezembro de 2016

Viagem a Tralalá, de Wladimir Kaminer

"Viagem a Tralalá" de Wladimir Kaminer
Tinta da China, 2012
157 Páginas


Wladimir Kaminer, um russo tornado posteriormente cidadão alemão (vive em Berlim, actualmente), conta em "Viagem a Tralalá", que fica na Crimeia (a Sul da Ucrânia), cinco episódios de viagens distintos decorridos ainda durante o tempo da Guerra Fria: "desencontro de Paris"; "desencanto da América", "desaparecido da Crimeia"; "desviado na Dinamarca" e "desencaminhado na Sibéria". 

Através de uma escrita leve (Kaminer tem outros livros escritos e publicados e trabalha como DJ), ficamos a conhecer alguns aspectos culturais bastante interessantes não só dos russos, como também dos alemães e dos locais por estes visitados. 

Assim, de todos os episódios, os que gostei mais foram: o "desaparecido da Crimeia", porque dá para compreender qual a importância que esta região tem desde sempre para os russos e o modo como estes encaram a Ucrânia enquanto país, um tema muito actual; o "desviado na Dinamarca", porque já tendo tido oportunidade de visitar este país (que adorei) e conhecer um pouco da sua cultura, senti-me a revisitá-lo, senti-me como que em casa; e o "desencaminhado na Sibéria", porque o autor "brinca" com a ideia da Sibéria como desterro opondo-a à Sibéria como destino de uma viagem de bicicleta, um local onde se podem travar conhecimentos com a população local e conhecer russas que, ao que parece, apreciam muito o homem alemão (comparativamente ao finlandês, por exemplo).

No essencial, o melhor deste livro é mesmo o facto do autor já não escrever apenas como um russo, mas como um russo germanizado porque vive desde há vários anos na Alemanha...!  

*
"Quer em São Petersburgo quer em Moscovo, ao passar pelas ruas pensava repetidamente: «Sim, o Martin ia gostar disso». De facto, nunca vi em Berlim tantas pessoas felizes como nas ruas de Moscovo quando fazia vinte graus negativos. E com vinte e cinco graus negativos os meus compatriotas pareciam ainda mais felizes. Depois de observar cuidadosamente o fenómeno, cheguei à conclusão de que, em caso de temperaturas extremamente baixas, a afabilidade russa não se deve apenas ao prazer de enfrentar dificuldades, mas também em grande parte a um elevado consumo de álcool."
[pp. 151 e 152]

https://www.goodreads.com/review/show/1832769775