sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Lolita, de Vladimir Nabokov


"Lolita" de Vladimir Nabokov
Relógio D'Água, 2013
335 Páginas


"Lolita" é um caso que eu não consigo resolver. Não consigo perceber se gosto ou se não gosto. Desperta em mim sentimentos contraditórios, dos quais não consigo sair... 

Como é que eu hei de explicar isto?! 

Bom, quando leio ficção, e se a ficção for de qualidade, eu vivo-a com intensidade e, portanto, consigo sentir todo o tipo de sentimentos e ainda exteriorizar algumas lágrimas, algumas gargalhadas... Mas também consigo sentir repulsa... Repulsa a sério!

Há pelo menos dois tipos de situações que me incomodam particularmente: uma relaciona-se com a violação; outra com a pedofilia. Quando li "Uma Mulher em Berlim", uma biografia verídica de uma alemã que sofreu repetidas violações, pelos russos, já no fim da Segunda Guerra Mundial cheguei ao ponto de não conseguir largar o livro até terminar a leitura o mais rapidamente possível. Apesar de ter adorado este livro (é impressionante), admito que a realidade daquela mulher (e de tantas outras como ela ) me estava a incomodar, a corroer tanto, e a causar um mal estar tão grande que eu queria terminar depressa o livro. Já não aguentava mais. Psicológica e emocionalmente, eu senti o seu sofrimento e isso estava a dar cabo de mim. 

Em "Lolita", a história tem como pano de fundo uma relação pedófila e, mesmo sabendo tratar-se de pura ficção neste caso, sei que há realidades assim e pensar nisso incomoda-me profundamente. As crianças têm direito a ser crianças. Os adolescentes a ser adolescentes. E cada pessoa tem direito a explorar a sua sexualidade quando se sentir preparada para isso, no seu tempo, não devendo ser forçada ou impelida a nada sem o seu consentimento ou vontade. Isto não me sai da cabeça. Não me saiu da cabeça durante praticamente todo o tempo que li este livro. Volto a repetir: sei que é ficção. 

Porém, nos breves momentos em que consegui ler e "voar", consegui notar a genialidade da escrita de Nabokov e da própria forma como construiu o argumento desta história (este pedófilo, além de ser pedófilo a sério, era interesseiro e vingativo, possessivo ao limite e isso levou-o a cometer assassinio(s)). É que se o argumento não fosse efectivamente bom, ler "Lolita" não me teria causado qualquer espécie de repulsa, ter-me-ia sido apenas indiferente e não foi. Jamais me esquecerei da sua história. 

No entanto, e como referi no início não consigo resolver estes sentimentos contraditórios... !

https://www.goodreads.com/review/show/1902329932

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