domingo, 13 de novembro de 2016

Cartas de Amor de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz, de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz


"Cartas de Amor de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz" de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz
Assírio & Alvim, 2015
367 Páginas


Ofélia Queiroz foi, tanto quanto se sabe, o que de mais próximo Fernando Pessoa teve de ser sua namorada. O "namoro" entre ambos esteve longe de ser, como se poderá perceber pela troca de correspondência, apenas platónico (foi mais algo cuja rotina era a "distância"), mas facilmente se percebe que o que Ofélia sentia por Fernando Pessoa seria mais forte do que aquilo que ele sentia (se é que sentia...) por ela...

E aqui é que reside o problema desta obra para mim: aborrece-me de morte, para não dizer mesmo que me angustia e magoa, o facto de Ofélia ter estado tantos anos à espera de Fernando Pessoa, quando ele não estava para aí virado... Como se depreende pela sua ausência de respostas, pelo seu silêncio a dada altura e, numa fase mais inicial, pela pouca e irregular frequência das mesmas. Tudo parecia dificil e impossível!

Ainda assim, as cartas de Fernando Pessoa têm umas tiradas soberbas contrastantes com as cartas transbordantes de sentimentalismo de Ofélia. Apesar de serem poucas, e de Fernando Pessoa parecer ceder a pena com frequência a Ricardo Reis em vários momentos devido à sua característica de "desmancha-prazeres" (ainda que na troca de correspondência se verifique apenas a visita manifesta e declarada de Álvaro de Campos em alguns momentos), é um regalo lê-lo de todas as vezes que é possível.

Gostei da obra, mas preferia outro desfecho e preferia que a paixão "ardente" de Ofélia tivesse tido uma feliz correspondência. É um desperdicio de tempo e de vida esperar por alguém que não quer passar... E eu ainda tenho uma réstia de idealismo e gosto de acreditar em finais felizes!

*
"O Tempo, que envelhece as faces e os cabelos, envelhece também, mas mais depressa ainda, as afeições violentas. A maioria da gente, porque é estúpida, consegue não dar por isso, e julga que ainda ama porque contraiu o hábito de se sentir a amar. (...) As criaturas superiores, porém, são privadas da possibilidade dessa ilusão, porque nem podem crer que o amor dure, nem, quando o sentem acabado, se enganam tomando por ele a estima, ou a gratidão, que ele deixou. 
Estas cousas fazem sofrer, mas o sofrimento passa. Se a vida, que é tudo, passa por fim, como não hão-de passar o amor e a dor, e todas as mais cousas, que não são mais que partes da vida?"
[p. 192]

https://www.goodreads.com/review/show/1802865964

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