segunda-feira, 20 de junho de 2016

O Irmão Alemão, de Chico Buarque

"O Irmão Alemão" de Chico Buarque
Companhia das Letras, 2015
182 Páginas

"O Irmão Alemão" não é, ao contrário do que possa parecer à primeira vista, uma obra biográfica. É um misto de realidade com ficção, mas Chico Buarque teve efectivamente um irmão alemão, Sergio Günther (Para mais informações: http://www.dw.com/pt/historiador-revela-detalhes-sobre-irm%C3%A3o-alem%C3%A3o-de-chico-buarque/a-18079537 ) e andou a investigar sobre a sua vida.

Chico Buarque tem um estilo meio musical quando escreve. As palavras, as frases, os parágrafos e as páginas parece que dançam e cantam. Dá gosto lê-lo. Por outro lado, os livros de Buarque têm em mim sempre o mesmo efeito: começam muito interessantes no início, mas chegados a meio sinto uma sensação misto de desencontro, desorientação e confusão. Não sei se sou eu que me perco na forma e, portanto, se é defeito meu, ou se é Buarque que se perde... No fim, quando termino o livro, quero mais. Porém, os livros dele não me conseguem levar a abstrair totalmente e "entrar" na história, pelo que fico com uma sensação imensa de falta de qualquer coisa. 

Nesta obra em particular, Chico Buarque divaga muito sobre o que foi ou que não foi, o que poderia ter sido e o que foi a história do seu pai com a alemã e do irmão alemão nascido dessa relação que ele não chegou a conhecer. No entanto, não se percebe muitas vezes se o que escreve foi passado acontecido ou se tudo não passa de uma mera hipótese sonhadora. Há, de igual modo, referências à imensa biblioteca do pai e ao gosto sensual do músico escritor pelos livros, que se traduzem em muito belas passagens, dignas de nota e merecedoras de uma leitura e releitura. 

No geral, posso dizer que gostei, sem ter adorado. Sinto que lhe falta qualquer coisa. Talvez tenha ficado a meio caminho. A meio caminho, saído de um cruzamento com várias hipóteses possíveis. Porque há partes na obra, com argumento mais do que suficiente, que bem podiam dar para escrever outro livro que nada tivesse a ver com "O Irmão Alemão"...
*
"Até então, para mim, paredes eram feitos de livros, sem o seu suporte desabariam casas como a minha, que até no banheiro e na cozinha tinha estantes do teto ao chão. E era nos livros que eu me escorava, desde muito pequeno, nos momentos de perigo real ou imaginário, como ainda hoje nas alturas grudo as costas na parede ao sentir vertigem. E quando não havia ninguém por perto, eu passava horas a andar de lado rente às estantes, sentia certo prazer em roçar a espinha de livro em livro. Também gostava de esfregar as bochechas nas lombadas de couro de uma coleção que, mais tarde, quando já me batiam no peito, identifiquei como os Sermões do Padre Antônio Vieira. (...) durante toda a minha infância mantive essa ligação sensual com os livros. (...)" (Buarque,2015, p.15).

https://www.goodreads.com/review/show/1642058864

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