sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O Fim de Semana, de Bernhard Schlink



"O Fim de Semana" de Bernhard Schlink
Edições Asa, 2010,
192 Páginas


A história que Bernhard Schlink nos traz passa-se como o próprio título indica num fim-de-semana: Sexta-feira, Sábado e Domingo, quando um grupo de amigos outrora revolucionários e cheios de ideais se decidem reencontrar para festejar a libertação de um deles (após vinte e três anos de prisão), em tempos membro da "Rote Armee Fraktion" (RAF), uma organização terrorista alemã de extrema-esquerda operante entre 1970 e 1998 na Alemanha ocidental. 

Agora, todos eles estão perfeitamente integrados na sociedade contra a qual lutaram, desempenhando papeis perfeitamente normais. Temos um advogado, um jornalista, um empresário, uma pastora, uma professora e uma médica, entre outras personagens que vão surgindo na história para esmiuçar o sentido da verdade e o alcance dos sonhos da juventude. 

O autor explora aqui a culpa e o peso da memória que se quer esquecer, algo que lhe é caracteristico de outras obras, que muito se encontra relacionado com os complexos da sociedade alemã saída da Segunda Guerra Mundial, e que é particularmente evidente na geração de que o autor (nascido em 1944) faz parte. 

Schlink não escreve uma história ao nível de "O Leitor", obra também existente em filme e de sucesso inigualável, mas leva-nos uma vez mais a pensar na psicologia do que é ser alemão e do que é confrontar o passado histórico da Alemanha (questão do Nazismo e da sua relação com o Holocausto) com a realidade do Terrorismo. E esse Terrorismo aqui é não só próprio de uma circunstância própria do país (com o aparecimento da RAF nos anos 70), como também se relaciona com o 11 de Setembro e as mudanças daí decorrentes. 

Gostei de "O Fim de Semana" e recomendo a sua leitura, considerando, no entanto, que a sinopse do livro deveria ser reescrita, de forma a tornar o livro mais apelativo para qualquer leitor (e não apenas para os mais curiosos e conhecedores da História da Alemanha). Por outro lado, entendo que algumas personagens mereciam que o autor lhes tivesse dado maior profundidade e solidez, o que teria facilitado a passagem da mensagem que Schlink quer fazer e a que já me referi. 

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"Perdemos o que éramos e o que queríamos ser e talvez até aquilo que estávamos destinados a ser. Em troca, encontrámos outras coisas. (...)" [Bernhard Schlink, 2010, p.132]


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