domingo, 2 de janeiro de 2011

Juntos ao Luar, de Nicholas Sparks




"Juntos ao Luar", de Nicholas Sparks
Editorial Presença, 2006
268 Páginas










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"Juntos ao Luar", de Nicholas Sparks, é o nome do livro que inspirou o filme "Dear John", que esteve no ano passado em cartaz nos cinemas. O romance centra-se essencialmente em duas personagens: John e Savannah, e no amor que nasce entre eles na primeira noite de contemplação, juntos, da lua cheia. Sempre que as noites forem de lua cheia, e apesar de espacialmente distantes, terão a mesma reacção: a de observar o céu e recordar a primeira noite em que assistiram ao luar juntos.

John, tendo ingressado na carreira militar, e estando no exercicio das suas funções destacado na Alemanha, conhece Savannah nesse primeiro ano de licença em que regressa aos EUA. Nesse Verão, fazem planos para um futuro em comum, e prometem trocar cartas durante o tempo em que estiverem separados. E assim é. No meio de tudo isto, temos o pai de John, um coleccionador de moedas, a sofrer de uma doença degenerativa. Os acontecimentos do 11 de Setembro. A questão do Afeganistão e a invasão ao Iraque. A guerra, na qual ele decide participar. Ela aceita, mas... Um dia, John recebe uma carta (daí porventura o nome do filme "Dear John") de Savannah que muda para sempre o destino de ambos. A partir daí, é nos impossível parar de ler o livro até chegar ao fim... Uma morte. Uma separação. Um casamento. Uma outra doença. E uma decisão fatal envolvendo as moedas do pai de John e a doença, porventura, mortal de uma outra personagem que vai dar origem a um triângulo amoroso.

Uma história ideal, narrada por ele, com problemas reais e um desfecho triste. A história começa e termina com John a observar Savannah, ao longe e sem que esta se dê conta disso, a tratar dos cavalos e a contemplar a lua cheia, numa recordação dos bons tempos que passaram juntos nesses dois Verões.

O estilo de Sparks, mais coisa ou menos coisa, é sempre o mesmo. É muito visual na escolha das palavras, o que constitui um aspecto de interesse, e faz com que muitas das suas histórias seja depois adaptadas ao cinema. Tem histórias bonitas, interessantes, que podiam ser perfeitas, mas com finais dramáticos, daqueles que fazem cair muitas lágrimas. São situações que em tudo podem ser reais. E de tão reais que podem ser, também são trágicas. Há doenças terminais. Mortes sem sentido. E com sentido. Separações evitáveis, e ainda assim, inevitáveis. E, deste modo, apesar de ter gostado do livro, não posso afirmar que seja fã do género. Diria que... Demasiado triste e angustiante!

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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A Casa do Silêncio, de Orhan Pamuk




"A Casa do Silêncio", de Orhan Pamuk
Editorial Presença, 2008
316 Páginas


















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“A Casa do Silêncio” é o nome do primeiro romance do escritor turco Orhan Pamuk, a quem foi atribuído em 2006 o Prémio Nobel da Literatura, traduzido no intitulado mundo Ocidental.

A acção decorre na Turquia sob o pano do silêncio, da traição, da violência e da morte. Do tempo também. Centra-se essencialmente na idosa Fatma (com quase noventa anos), e na chegada preparada pelo criado anão Rédjep (que mais não é do que um filho ilegítimo do falecido marido desta) dos seus três netos, dos quais destaco a jovem Nilgune e a relação trazida da infância com o obsessivo, violento e sem rumo, Hassan, sobrinho do anão.

Fatma teme o silêncio daquela casa, fora de Istambul, as insónias que assolam todas as noites e um passado sobre o qual continua a reflectir e recordar sem descanso: um casamento porque sim com um médico, depois marido ausente e infiel. Os filhos surgidos dessa ligação infiel que acaba por ter de suportar debaixo do mesmo tecto: um coxo e o outro anão, o pai de Hassan e o próprio Rédjep respectivamente. E essa mesma relação mantida pelo marido fora do casamento acaba de algum modo por se manter viva para além das memórias da personagem central de Fatma: Hassan, membro de um grupo que se dedica a espalhar o roubo, a destruição, a violência e a morte nas ruas, vai desenvolver um interesse obsessivo por Nilgune, que todas as manhãs depois do seu mergulho matinal e solitário nas praias compra um jornal de ideologia comunista, num gesto que vai ditar o desfecho da sua personagem e da de Hassan. É aqui, neste sentido, que vemos evidenciado todo um clima de agitação e conflitualidade política, numa Turquia onde as mulheres consentem, obedecem, e acatam, tidas enquanto seres inferiores aos homens em conformidade com os preceitos da predominante religião Islâmica.

Embora muito bem escrito e intenso, existem muitos momentos em que o autor se perde em divagações que podem originar no leitor alguma confusão. Aliás, até mais de metade do livro, não é propriamente fácil conseguir perceber quem é quem: ou seja, para além de Fatma e do seu marido, de Rédjep, e da já referida admiração de “alguém” (o tal Hassan, um jovem que se furta aos deveres escolares desde sempre) por Nilgune, nos apresenta a narração dos acontecimentos e dos estados de espírito. Pamuk passa, por vezes, demasiado depressa de uma personagem para outra sem que, com limites visivelmente indefinidos, consigamos perceber a diferença. E esta talvez seja a minha grande crítica a este livro.


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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A Viela da Duquesa, de Sveva Casati Modignani




"A Viela da Duquesa", de Sveva Casati Modignani
Edições Asa, 2003
528 Páginas









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Tudo começa em Nápoles, no ano de 1910, e mais concretamente na Viela da Duquesa com uma jovem mulher, a Condessa tirolesa Josepha que se dirige à casa de Rosa Avigliano para lhe pedir que prepare um feitiço para conquistar o amor do marido, o príncipe napolitano Enrico Castiglia. Teresa, a filha mais velha e sonhadora de Rosa, assiste a tudo de perto, completamente maravilhada pela elegância desta jovem senhora.

É a partir daqui que nasce a história de uma grande e cúmplice amizade entre Josepha e Teresa, que atravessa as aventuras e desventuras da existência humana na vida de cada uma. Quer uma quer a outra atravessarão o período em que se verificam já as primeiras manifestações de Comunismo, a Primeira Guerra Mundial (que termina com os italianos a tomarem conta da zona do Tirol, pertença germânica, e procederem a toda uma alteração da nomenclatura das terras e dos espaços da língua germânica para a língua italiana contra a vontade das populações que aí existiam e isto é particularmente notório na personagem de Josepha), o aparecimento do Fascismo Italiano e da violência dos Camisas Negras afectos ao regime, a questão da Etiópia e a aproximação de Mussolini a Hitler, a Segunda Guerra Mundial, o rasto de miséria, destruição e morte deixados pelo fim da Guerra e que mais uma vez se vai fazer sentir em algumas das personagens, nomeadamente em Josepha, em Thea, a filha mais velha de Josepha, e em Teresa. A evolução do papel da mulher na sociedade é outro dos traços marcantes em “A Viela da Duquesa”.

Esta é uma história escrita de emoções, que começa e termina exactamente no mesmo ponto, tal e qual uma composição em esquema circular. Thea regressa, em 1999, já no fim da sua vida ao Tirol, ao Hotel outrora Castelo pertencente à Condessa sua mãe, empenhada em recuperar as suas heranças históricas e um espaço de que a mãe sempre gostou.

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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A Medida do Mundo, de Daniel Kehlmann








"A Medida do Mundo", de Daniel Kehlmann
Editorial Presença, 2007
224 Páginas












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Em "A Medida do Mundo", de Daniel Kehlmann, é retratada a vida de dois génios do Iluminismo Alemão, pertencentes a dois campos distintos do conhecimento científico: um, o da Geografia de Alexander von Humboldt; outro, o da Matemática de Carl Friedrich Gauss, que se encontram em Berlim aquando da realização do Congresso dos Investigadores Alemães da Natureza, em 1828. De formas diferentes, ambos os homens tem como objectivo de vida medir o mundo.

Kehlmann recorreu para esta obra a duas personalidades totalmente opostas: Humboldt é um aristocrata, um homem de acção, preocupado em analisar ao pormenor os fenómenos da Natureza acaba por não se importar em casar e ter filhos, enquanto Gauss, proveniente de uma família humilde, um teórico, enviuva cedo e não reconhece qualquer traço de genialidade nos seus filhos o que o parece incomodar desde logo.

E acentua desde logo o contraste que daqui possa surgir até pela forma como constrói a narrativa: num capítulo apresenta-nos um episódio da vida de Humboldt, para depois no capítulo seguinte nos brindar como um outro episódio mas relativo à vida de Gauss, e voltando novamente a abordar no capítulo que sucede outro acontecimento que nos permite reconstruir o espírito do geógrafo e do seu tempo, fazendo o mesmo seguidamente para o matemático.

No meio de todo este preto no branco, e branco no preto, vão surgindo descrições do tempo e do espaço de Berlim que Humboldt detestava, preferindo ao invés a rival Paris, das viagens deste pelo continente Americano, e dos trajectos de Gauss, em especial daquele que este faz para ir visitar o velho Kant a Königsberg.

Uma narrativa original e culturalmente genial, que reconstruindo duas importantes personalidades da História Germânica, nos demonstram o quão ricamente intensas são as histórias e as estórias da Águia da Europa.

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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Eternidade e o Desejo, de Inês Pedrosa














"A Eternidade e o Desejo", de Inês Pedrosa
Publicações Dom Quixote, 2007
208 páginas

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Do título divide-se a obra em duas partes: uma a Eternidade, outra o Desejo; essas duas coisas tão parecidas que ambas se retratam com a mesma figura, nas palavras de António Vieira no seu "Sermão de Nossa Senhora do Ó".

Começa-se com Clara e termina-se com Clara, uma portuguesa que acompanhada de um amigo, Sebastião, resolve regressar ao Brasil e voltar a pisar os mesmos lugares por onde os dois Antónios passaram. O seu tão estimado Padre António Vieira que nos vai acompanhando ao longo deste livro, em transcrições parciais e escolhidas com afinco, conferindo um significado ainda maior às palavras de Clara, que regressa nesta viagem ao lugar onde em tempos perdeu a visão e um amor, também de seu nome António. E onde volta para se reencontrar consigo mesma. E também conhecer uma outra Clara e um Emanuel, que se revelarão fundamentais ao desenvolvimento da personagem e dos próprios laços entre esta e Sebastião, entre esta e o Brasil e Portugal.

Em "A Eternidade e o Desejo" são constantes os jogos de palavras bem ao género da prosa poética, verificando-se o mesmo com o cruzamento das falas pensantes das personagens: sob a forma de diálogo, em pensamento, em correspondência escrita que trocam à distância. Um tema, duas opiniões que se opõem, convergem na discussão cruzada, para divergir novamente.

Oscilando entre uma escrita mais simples e uma mais complexa, o que lhe confere uma certa vivacidade, a obra prima em termos originais não tanto pela história de Clara por si só, mas sobretudo pela escolha acertada e combinada de excertos dos Sermões do Padre António Vieira com a história de vida de Clara. Uma leitura leve e libertadora e, de igual modo, intensa. Sendo que no final, acabamos certos de que a eternidade e o desejo têm muito mais em comum do que aquilo que numa primeira leitura possamos imaginar.

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