quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Eternidade e o Desejo, de Inês Pedrosa














"A Eternidade e o Desejo", de Inês Pedrosa
Publicações Dom Quixote, 2007
208 páginas

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Do título divide-se a obra em duas partes: uma a Eternidade, outra o Desejo; essas duas coisas tão parecidas que ambas se retratam com a mesma figura, nas palavras de António Vieira no seu "Sermão de Nossa Senhora do Ó".

Começa-se com Clara e termina-se com Clara, uma portuguesa que acompanhada de um amigo, Sebastião, resolve regressar ao Brasil e voltar a pisar os mesmos lugares por onde os dois Antónios passaram. O seu tão estimado Padre António Vieira que nos vai acompanhando ao longo deste livro, em transcrições parciais e escolhidas com afinco, conferindo um significado ainda maior às palavras de Clara, que regressa nesta viagem ao lugar onde em tempos perdeu a visão e um amor, também de seu nome António. E onde volta para se reencontrar consigo mesma. E também conhecer uma outra Clara e um Emanuel, que se revelarão fundamentais ao desenvolvimento da personagem e dos próprios laços entre esta e Sebastião, entre esta e o Brasil e Portugal.

Em "A Eternidade e o Desejo" são constantes os jogos de palavras bem ao género da prosa poética, verificando-se o mesmo com o cruzamento das falas pensantes das personagens: sob a forma de diálogo, em pensamento, em correspondência escrita que trocam à distância. Um tema, duas opiniões que se opõem, convergem na discussão cruzada, para divergir novamente.

Oscilando entre uma escrita mais simples e uma mais complexa, o que lhe confere uma certa vivacidade, a obra prima em termos originais não tanto pela história de Clara por si só, mas sobretudo pela escolha acertada e combinada de excertos dos Sermões do Padre António Vieira com a história de vida de Clara. Uma leitura leve e libertadora e, de igual modo, intensa. Sendo que no final, acabamos certos de que a eternidade e o desejo têm muito mais em comum do que aquilo que numa primeira leitura possamos imaginar.

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