quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A Casa do Silêncio, de Orhan Pamuk




"A Casa do Silêncio", de Orhan Pamuk
Editorial Presença, 2008
316 Páginas


















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“A Casa do Silêncio” é o nome do primeiro romance do escritor turco Orhan Pamuk, a quem foi atribuído em 2006 o Prémio Nobel da Literatura, traduzido no intitulado mundo Ocidental.

A acção decorre na Turquia sob o pano do silêncio, da traição, da violência e da morte. Do tempo também. Centra-se essencialmente na idosa Fatma (com quase noventa anos), e na chegada preparada pelo criado anão Rédjep (que mais não é do que um filho ilegítimo do falecido marido desta) dos seus três netos, dos quais destaco a jovem Nilgune e a relação trazida da infância com o obsessivo, violento e sem rumo, Hassan, sobrinho do anão.

Fatma teme o silêncio daquela casa, fora de Istambul, as insónias que assolam todas as noites e um passado sobre o qual continua a reflectir e recordar sem descanso: um casamento porque sim com um médico, depois marido ausente e infiel. Os filhos surgidos dessa ligação infiel que acaba por ter de suportar debaixo do mesmo tecto: um coxo e o outro anão, o pai de Hassan e o próprio Rédjep respectivamente. E essa mesma relação mantida pelo marido fora do casamento acaba de algum modo por se manter viva para além das memórias da personagem central de Fatma: Hassan, membro de um grupo que se dedica a espalhar o roubo, a destruição, a violência e a morte nas ruas, vai desenvolver um interesse obsessivo por Nilgune, que todas as manhãs depois do seu mergulho matinal e solitário nas praias compra um jornal de ideologia comunista, num gesto que vai ditar o desfecho da sua personagem e da de Hassan. É aqui, neste sentido, que vemos evidenciado todo um clima de agitação e conflitualidade política, numa Turquia onde as mulheres consentem, obedecem, e acatam, tidas enquanto seres inferiores aos homens em conformidade com os preceitos da predominante religião Islâmica.

Embora muito bem escrito e intenso, existem muitos momentos em que o autor se perde em divagações que podem originar no leitor alguma confusão. Aliás, até mais de metade do livro, não é propriamente fácil conseguir perceber quem é quem: ou seja, para além de Fatma e do seu marido, de Rédjep, e da já referida admiração de “alguém” (o tal Hassan, um jovem que se furta aos deveres escolares desde sempre) por Nilgune, nos apresenta a narração dos acontecimentos e dos estados de espírito. Pamuk passa, por vezes, demasiado depressa de uma personagem para outra sem que, com limites visivelmente indefinidos, consigamos perceber a diferença. E esta talvez seja a minha grande crítica a este livro.


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