segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A Praia Roubada, de Joanne Harris

"A Praia Roubada" de Joanne Harris

Edições Asa, 2002
398 Páginas
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Em "A Praia Roubada" somos levados até à ilha de Les Salants, onde a protagonista mais conhecida por Mado decide voltar (após a morte da sua mãe com quem vivia em Paris) e acaba por dar um novo rumo à sua vida (regressando ao contacto com o pai) e também à própria ilha onde nasceu e cresceu. O reencontro com a irmã Adrienne, algum tempo depois, e o conhecimento que trava com um irlandês, Flynn, acabarão por influenciar de forma significativa a história. 


Convém salientar igualmente a existência de uma interessante animosidade e rivalidade da ilha de Les Salants (a prejudicada) com a de La Houssinière (a privilegiada) e o estranho mistério da areia que desaparece sem motivo aparente, aspectos centrais numa história muito marítima e onde todas as sensações são, por isso mesmo, sinónimo de mar, água e sal, praia, areia, navegar, barcos, temporal e vento. 


Joanne Harris mantém-se fiel ao estilo que já habituou os seus leitores e não os desilude. Misteriosa e rebelde e complexa que baste, a sua escrita e a história que criou conseguem cativar o leitor desde o início até ao fim, sem que se sinta um esforço exagerado. Aliás, este parece ser um dos seus talentos, que se manifesta de forma tão natural como o tipo de sensações que desperta!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Desamparo, de Inês Pedrosa


"Desamparo" de Inês Pedrosa
Publicações Dom Quixote, 2015
315 Páginas

"Desamparo" passa-se, por um lado, em torno das viagens mais ou menos duradouras (algumas tendo nascido em Portugal vivem no Brasil durante boa parte da vida e depois regressam a Portugal, outras naturais do Brasil vem para Portugal viver e mais tarde regressam à origem) das personagens entre Portugal e o Brasil e, pelo outro, no contexto da crise económico-financeira iniciada em 2008 em Portugal. Este último tema não me causa grande simpatia porque a distância que tenho em relação a este é demasiado próxima! Aqui quase todas as personagens sofrem de desamparo, tendo sido abandonadas por alguém de que muito gostavam ou vivendo sem recursos suficientes, quase no limite. 

Ao contrário dos outros livros que já li da autora, notei que, neste livro, Inês Pedrosa brinca talvez menos do que o habitual com as palavras. Senti alguma falta da presença, do início ao fim, do seu modo de escrever as histórias a cantar. E, por vezes, admito que tive alguma dificuldade em compreender as várias personagens. A história centra-se essencialmente em duas personagens e depois a partir destas há várias outras. Mas esta ligação nem sempre me pareceu muito clara.

Convém também sublinhar o empenho da autora em recorrer a expressões de Português do Brasil, quando as personagens são originárias do Brasil ou aí permaneceram muito tempo, bem como as aspectos mais característicos da cultura brasileira. 

Não estando entre as obras que mais gostei da autora, recomendo-a, ainda assim, sobretudo para aqueles que quiserem revisitar o impacto desta crise nas vidas individuais de cada um e (re)conhecer a realidade que se vive no interior do país entre os mais velhos (a solidão e a falta de amparo).

quinta-feira, 2 de abril de 2015

O Mundo de Ontem. Recordações de um Europeu, de Stefan Zweig



"O Mundo de Ontem. Recordações de um Europeu" de Stefan Zweig
Assírio & Alvim, 2014
508 Páginas


"O Mundo de Ontem. Recordações de um Europeu" trata-se de uma autobiografia da autoria do austriaco Stefan Zweig, versando sobre a sua vida antes da Primeira Guerra Mundial, durante e após a Primeira Guerra Mundial, antes da Segunda Guerra Mundial e durante a mesma. E, por isso mesmo, altamente recomendável por quem se interesse por conhecer um pouco mais sobre este "grande" período histórico, o das Guerras Mundiais.

Zweig fala da mudança de valores que a sociedade atravessa ao longo deste tempo, do quão odiosa é a guerra e, ao mesmo tempo, da sua experiência pessoal no meio disto tudo. Dos seus estados de espírito, das suas amizades com nomes como Sigmund Freud, das suas viagens e, finalmente, do seu sentimento de não pertença a lugar nenhum com a Segunda Guerra Mundial e a perseguição aos judeus (ele era judeu). Um sentimento que o levaria, mais tarde, a cometer suicidio já no Brasil, terra que o acolheu de braços abertos e que ele muito estimava (afinal, escreveu mesmo um livro sobre o Brasil, "Brasil, país de futuro"). 

A obra termina com as seguintes palavras que, na minha perspectiva, sintetizam na perfeição o seu conteúdo e a vida de Zweig: 
"Mas, em última análise, cada sombra é também filha da luz, e só quem tenha vivido a claridade e a escuridão, a guerra e a paz, a ascensão e a queda, só esse terá verdadeiramente vivido". 

https://www.goodreads.com/review/show/1236636954

sábado, 24 de janeiro de 2015

Não se encontra o que se procura, de Miguel Sousa Tavares

"Não se encontra o que se procura" de Miguel Sousa Tavares
Clube do Autor, 2014
266 Páginas

"Não se encontra o que se procura" é um livro de histórias, memórias/diário e viagens. É um livro de experiências, de gostos, de saudades e de observação/vivência de outras vidas.

São crónicas, pois são, mas por isso mesmo, é dificil não gostar, é dificil parar de as ler. Especialmente porque a seguir, a uma que se gosta muito, vem outra ainda melhor e se, por acaso, surge uma crónica que não se gosta tanto (o que é raro), vem imediatamente a seguir uma outra que compensa... E vale muito a pena. 

Quanto ao estilo da escrita, a escrita de Miguel Sousa Tavares oscila entre o mordaz e o irónico, e o sincero e intimista. E é, com frequência, muito natural... Muito dado ao viajar-olhar, às paisagens mediterrânicas (o sol e o mar são constantes) e a um tão amado Brasil (onde a língua parece quase cantada), ao Algarve (às grutas de Lagos) e ao Alentejo. E nostálgico, pois são várias as referências à sua mãe, Sophia. Referências ternas (pelos olhos de um filho que sente a sua falta e a recorda com todo o carinho e saudade) e curiosas para quem como eu admira Sophia de Mello Breyner Andresen como pessoa e como escritora! 

Gostei muito.


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"A cada Verão que começa, lembro-me sempre do que dizia Rilke: "Só o Verão merece ser vivido". Eu sempre pensei o mesmo, mas o Verão, para mim, é o do Sul, do calor sem tréguas, das sombras das árvores ou das esquinas das casas caiadas, do azul translúcido do mar, do grito das cigarras durante o dia ou das rãs durante a noite, das sombras que o luar deixa nos jardins, quando é lua cheia e toda a vida parece uma promessa de felicidade. "

https://www.goodreads.com/review/show/1173875350

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Sou um Clandestino, de Susanna Tamaro

"Sou um Clandestino" de Susanna Tamaro
Editorial Presença, 2014
127 Páginas


"Sou um Clandestino" é uma viagem ao passado da personagem principal que, com vinte e cinco anos, decide regressar à sua terra natal, Illmitz, na Áustria. No essencial, a obra consiste numa viagem ao interior de si mesmo e, por isso mesmo, um enfrentar dos seus fantasmas. 


Susanna Tamaro revela naquele que foi o seu primeiro romance uma escrita profunda e intensa, mas no meu entender a obra termina antes da reflexão da personagem principal terminar... Confesso que gostava de ler mais algumas páginas sobre o pensamento e os sentimentos desta. E, nesta perspectiva, senti que a obra termina como se estivessemos numa casa apenas iluminada por luz artificial, onde de repente a luz falta sem se perceber a razão. No geral, contudo, gostei do que li.


https://www.goodreads.com/review/show/1169555345

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O Problema de Espinosa, de Irvin D. Yalom


"O Problema de Espinosa" de Irvin D. Yalom
Saída de Emergência, 2013
387 Páginas


Em "O Problema de Espinosa" Irvin D. Yalom prova uma vez mais a sua capacidade para misturar na perfeição psicanálise com filosofia. E ainda para, de igual modo, se debruçar sobre a questão dos judeus, elemento condutor da obra, em dois momentos da História distintos: um com Bento Espinosa e outro com Alfred Rosenberg. 


A obra bem que podia ser uma lição sobre o judaismo, sobretudo sobre o que afastou Espinosa deste e o que aproximou Rosenberg de Espinosa, seguindo a linha de Goethe. Isto para não falar na versatilidade de Yalom que, a dada altura, faz mesmo uma referência à Geografia Política e à Geopolítica. O que à primeira vista poderia parecer improvável...! 

Mais um grande livro, seguindo aquilo que já ofereceu aos seus leitores em "Quando Nietzsche Chorou" (um dos melhores livros que já li até hoje).

https://www.goodreads.com/review/show/1149456596

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O Vento dos Outros, de Raquel Ochoa

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"O Vento dos Outros" de Raquel Ochoa
Marcador, 2012
195 Páginas


Este é um livro que cobre as viagens que a autora realizou durante seis meses por alguns países da América do Sul. Costa Rica, Peru, Chile e Pantagónia Argentina são os locais por onde passa e em todos eles há algo comum... O vento e as montanhas altas. Os encontros e desencontros. Portugueses do outro lado do Atlântico em viagem ou ali estabelecidos. Paixões de ocasião. Amores de momentos. As misturas de povos. Europeus misturados indígenas só para dar um exemplo. E muita história, muito passado por contar das místicas civilizações que por ali passaram.


Embora tenha gostado do livro, acredito que a obra teria ficado a ganhar se a autora tivesse dado um pouco mais de si e do modo como estava a sentir toda a experiência. Porque descreve as paisagens, as pessoas e conta-nos as tradições daqueles povos... Mas centra-se, talvez, essencialmente e sobretudo nos outros. E, por vezes, esquece-se de falar de si (ou talvez o faça de forma intencional). Fá-lo em alguns momentos, é certo. No entanto, penso que poderia tê-lo feito mais, enriquecendo a obra e, consequentemente, deixando os seus leitores a ganhar.

À parte disso, é uma escritora cuja escrita promete. Note-se que este foi apenas o seu primeiro livro...!

https://www.goodreads.com/review/show/1124211852?book_show_action=false