quarta-feira, 13 de julho de 2016

Suite Francesa, de Irène Némirovsky

"Suite Francesa" de Irène Némirovsky
Publicações Dom Quixote, 2015
579 Páginas


"Suite Francesa" é um romance de Irène Némirovsky, inacabado, mas cuja mensagem passagem completa: os estados, os sentimentos e as angústias que a ocupação alemã de França durante a Segunda Guerra Mundial causou. 

Constituída por dois livros (“Tempestade em Junho”, relatando a fuga de vários franceses à chegada aos alemães, e “Dolce”, mais concentrado na vida de uma aldeia já na presença dos alemães e na relação estabelecida entre estes e os locais) em vez dos cinco idealizados, Némirovsky queria que esta sua obra tivesse cerca de 1000 páginas; ficou-se, todavia, pelas 500 e poucas, devido à sua prisão em Julho de 1942 e sua consequente morte, um mês depois, em Auschwitz. Ucraniana de origem judaica, Némirovsky vinha de uma família abastada que chegou a Paris, em 1919, para fugir às consequências da revolução de 1917 na Rússia Soviética. Trabalhou como escritora até ao momento da sua prisão, que não se conseguiu evitar. A obra acabaria por ser publicada posteriormente graças a uma das suas duas filhas, Denise Epstein (http://www.telegraph.co.uk/news/obituaries/10023679/Denise-Epstein.html  e http://www.express.co.uk/entertainment/films/563937/Suite-Francaise-author-Irene-Nemirovsky-Auschwitz-tragedy ), e receberia o Prémio Renaudot em 2004.

Em Portugal, várias das suas obras encontram-se publicadas pela Relógio D'Água, embora "Suite Francesa", entretanto adaptada para filme (ver trailer aqui: https://www.youtube.com/watch?v=azoDJwdhaWI ), tenha sido publicada pela Dom Quixote. Mais do que um romance histórico, esta obra é um romance escrito na e sobre a História, já que a autora vive no período abordado e ao que parece também teve de dar alojamento a militares alemães na sua casa. "Suite Francesa" é, por isso mesmo, uma história viva, porque ainda que ficcionada pela sua autora, baseia-se na experiência desta relativamente à ocupação nazi de França, estando plena de realismo. É escrita durante a Segunda Guerra Mundial e sobre ela, testemunhando os horrores da Guerra, sem os mitigar ou atenuar.

A sua escrita é completa, pensada, nada superficial. O leitor lê e consegue sentir o mesmo que as personagens, consegue colocar-se no lugar delas, pensar como elas e reflectir sobre isso. Némirovsky queria que "Suite Francesa" fosse cinematográfica e conseguiu. Toda a obra parece um filme, sendo que ainda que não tenha sido acabada, isso não impede a compreensão do que foi a chegada e a permanência dos alemães em França nos anos 40: chegavam e faziam-se hóspedes dos franceses sem mais nem mais, sendo que, muitas vezes, isso acabava por criar problemas entre os casais ao originar relacionamentos entre militares alemães e mulheres francesas (casadas ou não), que depois da Guerra terminar acabariam por sofrer nas mãos dos próprios franceses, acusadas de serem “colaboradoras horizontais” (alguns exemplos em imagem poderão ser encontrados aqui http://www.ideafixa.com/historia-as-colaboradoras-nazistas-da-segunda-guerra-mundial/ ). Penso, pois, que é por causa deste aspecto da ocupação alemã que a obra se chama “Suite Francesa”.

Face a tudo isto, só posso recomendar a leitura da obra…! 
*
"Sabemos muito bem que o ser humano é complexo, múltiplo, dividido, cheio de surpresas, mas é preciso o tempo da guerra ou grandes mudanças para o vermos. É o espectáculo mais apaixonante e terrível, pensou ainda; o mais terrível por ser o mais verdadeiro; não podemos gabar-nos de conhecer o mar sem o ter visto tanto em tempos de bonança como em tempos de tempestade. Só quem observou os homens e as mulheres numa época como esta é que os conhece verdadeiramente, pensou. Só esse se conhece a si próprio." (Némirovsky, 2015, p.508)

https://www.goodreads.com/review/show/1680084744?book_show_action=false


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