sábado, 23 de abril de 2016

Berlim Alexanderplatz, de Alfred Döblin


"Berlim Alexanderplatz" de Alfred Döblin
Edições Dom Quixote, 2010
591 Páginas


Publicado em 1929, "Berlim Alexanderplatz" de Alfred Döblin não é um livro de fácil leitura. Alfred Döblin escreveu um livro interessante, mas, por vezes, caótico. A sensação transmitida é muito semelhante àquela que Edvard Munch, pintor norueguês, provoca com o quadro "Skrik" [O grito]: angústia. Tanto o livro como o quadro inserem-no no Expressionismo, movimento artistico e cultural surgido no início do século XX na Alemanha. Este movimento deformava com frequência a realidade com o intuito de evidenciar os sentimentos (subjectivos) do ser humano.

Aqui a cidade de Berlim está nitidamente em convulsão, verificando-se a demolição de prédios, a realização de obras para a construção do metropolitano, vários cafés e tascas, muito pequeno crime e prostituição quase por toda a parte. Nota-se nesta Alemanha dos anos vinte, saída da Guerra, com uma República de Weimar instável e muitas reparações para pagar, uma certa loucura, caracteristica de um período de transformação da sociedade e dos seus valores. Quer-se experimentar tudo ao máximo, até ao limite e, nesse sentido, estamos diante de uma certa alienação, de um certo descontrolo. 


É nesta atmosfera que surge Franz Biberkopf, que, após ter saído da prisão, se sente como que desprotegido e cheio de medos ao confrontar-se com a pobreza, o crime e os primeiros passos do Nacional-Socialismo. Quer levar uma vida honesta, resistente ao ambiente que o rodeia e não consegue... Até certo ponto. 


Apesar da obra estar dividida em nove livros (que podemos entender como sendo capítulos) e do livro ter cerca de quatro páginas de sumário do que se passa em linha gerais em cada um dos livros, destinados a guiar o leitor, são vários os momentos em que, à semelhança de Berlim e de Biberkopf, nos sentemos perdidos. De um momento para o outro Döblin apresenta-nos um diálogo entre uma ou duas personagens que aparecem sem mais nem menos, numa tasca ou num café, e Biberkopf quase que fica invisivel. Depois, surgem as reflexões de Biberkopf e Döblin passa novamente de repente para o que acontece na cidade e com a Alemanha. Döblin traz novamente à cena Biberkopf com mulheres (quem são as prostitutas, quem são as namoradas) e depois com judeus e depois com bândidos e o leitor vê-se novamente confuso, como que angustiado, tentando procurar o norte da história...


Ainda assim, considero-o um livro interessante, sobretudo pelo esforço do autor tentar demonstrar como se encontrava a Alemanha saída da Primeira Guerra Mundial e nas vésperas da chegada do Nacional-Socialismo ao poder e, consequentemente, procurar articular isso com a vida de Biberkopf e tentar demonstrar em que medida o homem e a sua obra é influenciado pelo meio e deste pode facilmente tornar-se um produto... Se se deixar levar pela apatia e pelo medo!


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P.S: Há igualmente um filme do livro, de 1931, que poderá ser visto aqui:https://www.youtube.com/watch?v=m26zs... (Falado em alemão e sem legendas).

https://www.goodreads.com/review/show/1598001700?book_show_action=false

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