terça-feira, 22 de março de 2016

Diário. O Diário de uma Jovem Judia em Paris sob a Ocupação Nazi, de Hélène Berr


"Diário. O Diário de uma Jovem Judia em Paris sob a Ocupação Nazi" de Hélène Berr
Publicações Dom Quixote, 2008
244 Páginas


Escrito por uma jovem francesa judia de vinte e poucos anos, esta obra encontra-se dividida em três anos: 1942, 1943 e 1944. Pelo meio, podemos encontrar várias fotografias de Hélène Berr, a autora deste diário que ambicionava vir a ser professora na Sorbonne onde havia estudado Literatura Inglesa (o que se acaba por reflectir na própria forma - por vezes, um tanto ao quanto, requintada - como o texto está escrito), bem como algumas notas de Mariette Job (responsável pela publicação), alguns dados sobre a família abastada de Hélène (talvez por isso mesmo apenas seria presa em 1944) e uma lista das leituras que fez e mencionou ao longo das várias entradas deste seu diário. 

"Diário. O Diário de uma Jovem Judia em Paris sob a Ocupação Nazi" sugere no primeiro ano, o de 1942, uma leitura algo irregular. A dada altura as entradas são telegráficas, denunciando, muito provavelmente, o dificil e complexo estado de alma que vive na altura. A leitura torna-se mais interessante e, no meu entender, mais complexa quando chegamos aos anos de 1943 e 1944. No ano de 1944, e cada vez mais próxima da prisão que suspeitava vir a acontecer, Hélène demonstra uma força incrivel através das suas palavras. Vivendo em Aubergenville, no Norte de França e não muito longe de Paris, quer Hélène quer a sua familia tiveram a possibilidade de fugir, mas não quiseram fazê-lo e ousaram permanecer corajosamente (com todas as implicações que isso poderia ter) no seu país até ao fim...

Comparativamente aos outros diários que tenho lido sobre o tema do Holocausto, este distingue-se por ter sido escrito por uma jovem adulta, com formação superior, e de nacionalidade francesa, possibilitando uma maior compreensão do modo como a França viveu a ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial e, sobretudo, como lidou com a questão dos judeus, enviando-os primeiramente e com o apoio das próprias autoridades francesas para um campo de internamento localizado em Drancy (próximo de Paris) e, posteriormente, para Auschwitz. Recomendo, pois trata-se de uma visão diferente. Não é a mesma coisa ler o Holocausto e a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial pelos olhos de uma criança e pelos olhos de uma adulta! Por outro lado, afigura-se igualmente importante compreender os aspectos convergentes e divergentes consoante a nacionalidade (polaca, checa, francesa, ...) de quem os escreveu, de forma a conseguir ter uma visão tão ampla e profunda quanto possível do que se passou neste complexo período da História.


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"«O que quer, minha senhora? Cumpro o meu dever!»
Que se tenha chegado a conceber o dever como uma coisa independente da consciência, independente da justiça, da bondade, da caridade, eis a prova da inanidade da nossa pretensa civilização. 
Os alemães, esses, há uma geração que se trabalha no seu reembrutecimento (é um retorno periódico). Neles toda a inteligência está morta. Mas podia esperar-se que, entre nós, isso fosse diferente. (...)" [Berr, 2008, p.176]

https://www.goodreads.com/review/show?id=1580185589

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