quinta-feira, 2 de abril de 2015

O Mundo de Ontem. Recordações de um Europeu, de Stefan Zweig



"O Mundo de Ontem. Recordações de um Europeu" de Stefan Zweig
Assírio & Alvim, 2014
508 Páginas


"O Mundo de Ontem. Recordações de um Europeu" trata-se de uma autobiografia da autoria do austriaco Stefan Zweig, versando sobre a sua vida antes da Primeira Guerra Mundial, durante e após a Primeira Guerra Mundial, antes da Segunda Guerra Mundial e durante a mesma. E, por isso mesmo, altamente recomendável por quem se interesse por conhecer um pouco mais sobre este "grande" período histórico, o das Guerras Mundiais.

Zweig fala da mudança de valores que a sociedade atravessa ao longo deste tempo, do quão odiosa é a guerra e, ao mesmo tempo, da sua experiência pessoal no meio disto tudo. Dos seus estados de espírito, das suas amizades com nomes como Sigmund Freud, das suas viagens e, finalmente, do seu sentimento de não pertença a lugar nenhum com a Segunda Guerra Mundial e a perseguição aos judeus (ele era judeu). Um sentimento que o levaria, mais tarde, a cometer suicidio já no Brasil, terra que o acolheu de braços abertos e que ele muito estimava (afinal, escreveu mesmo um livro sobre o Brasil, "Brasil, país de futuro"). 

A obra termina com as seguintes palavras que, na minha perspectiva, sintetizam na perfeição o seu conteúdo e a vida de Zweig: 
"Mas, em última análise, cada sombra é também filha da luz, e só quem tenha vivido a claridade e a escuridão, a guerra e a paz, a ascensão e a queda, só esse terá verdadeiramente vivido". 

https://www.goodreads.com/review/show/1236636954

sábado, 24 de janeiro de 2015

Não se encontra o que se procura, de Miguel Sousa Tavares

"Não se encontra o que se procura" de Miguel Sousa Tavares
Clube do Autor, 2014
266 Páginas

"Não se encontra o que se procura" é um livro de histórias, memórias/diário e viagens. É um livro de experiências, de gostos, de saudades e de observação/vivência de outras vidas.

São crónicas, pois são, mas por isso mesmo, é dificil não gostar, é dificil parar de as ler. Especialmente porque a seguir, a uma que se gosta muito, vem outra ainda melhor e se, por acaso, surge uma crónica que não se gosta tanto (o que é raro), vem imediatamente a seguir uma outra que compensa... E vale muito a pena. 

Quanto ao estilo da escrita, a escrita de Miguel Sousa Tavares oscila entre o mordaz e o irónico, e o sincero e intimista. E é, com frequência, muito natural... Muito dado ao viajar-olhar, às paisagens mediterrânicas (o sol e o mar são constantes) e a um tão amado Brasil (onde a língua parece quase cantada), ao Algarve (às grutas de Lagos) e ao Alentejo. E nostálgico, pois são várias as referências à sua mãe, Sophia. Referências ternas (pelos olhos de um filho que sente a sua falta e a recorda com todo o carinho e saudade) e curiosas para quem como eu admira Sophia de Mello Breyner Andresen como pessoa e como escritora! 

Gostei muito.


*
"A cada Verão que começa, lembro-me sempre do que dizia Rilke: "Só o Verão merece ser vivido". Eu sempre pensei o mesmo, mas o Verão, para mim, é o do Sul, do calor sem tréguas, das sombras das árvores ou das esquinas das casas caiadas, do azul translúcido do mar, do grito das cigarras durante o dia ou das rãs durante a noite, das sombras que o luar deixa nos jardins, quando é lua cheia e toda a vida parece uma promessa de felicidade. "

https://www.goodreads.com/review/show/1173875350

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Sou um Clandestino, de Susanna Tamaro

"Sou um Clandestino" de Susanna Tamaro
Editorial Presença, 2014
127 Páginas


"Sou um Clandestino" é uma viagem ao passado da personagem principal que, com vinte e cinco anos, decide regressar à sua terra natal, Illmitz, na Áustria. No essencial, a obra consiste numa viagem ao interior de si mesmo e, por isso mesmo, um enfrentar dos seus fantasmas. 


Susanna Tamaro revela naquele que foi o seu primeiro romance uma escrita profunda e intensa, mas no meu entender a obra termina antes da reflexão da personagem principal terminar... Confesso que gostava de ler mais algumas páginas sobre o pensamento e os sentimentos desta. E, nesta perspectiva, senti que a obra termina como se estivessemos numa casa apenas iluminada por luz artificial, onde de repente a luz falta sem se perceber a razão. No geral, contudo, gostei do que li.


https://www.goodreads.com/review/show/1169555345

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O Problema de Espinosa, de Irvin D. Yalom


"O Problema de Espinosa" de Irvin D. Yalom
Saída de Emergência, 2013
387 Páginas


Em "O Problema de Espinosa" Irvin D. Yalom prova uma vez mais a sua capacidade para misturar na perfeição psicanálise com filosofia. E ainda para, de igual modo, se debruçar sobre a questão dos judeus, elemento condutor da obra, em dois momentos da História distintos: um com Bento Espinosa e outro com Alfred Rosenberg. 


A obra bem que podia ser uma lição sobre o judaismo, sobretudo sobre o que afastou Espinosa deste e o que aproximou Rosenberg de Espinosa, seguindo a linha de Goethe. Isto para não falar na versatilidade de Yalom que, a dada altura, faz mesmo uma referência à Geografia Política e à Geopolítica. O que à primeira vista poderia parecer improvável...! 

Mais um grande livro, seguindo aquilo que já ofereceu aos seus leitores em "Quando Nietzsche Chorou" (um dos melhores livros que já li até hoje).

https://www.goodreads.com/review/show/1149456596

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O Vento dos Outros, de Raquel Ochoa

Adicionar legenda
"O Vento dos Outros" de Raquel Ochoa
Marcador, 2012
195 Páginas


Este é um livro que cobre as viagens que a autora realizou durante seis meses por alguns países da América do Sul. Costa Rica, Peru, Chile e Pantagónia Argentina são os locais por onde passa e em todos eles há algo comum... O vento e as montanhas altas. Os encontros e desencontros. Portugueses do outro lado do Atlântico em viagem ou ali estabelecidos. Paixões de ocasião. Amores de momentos. As misturas de povos. Europeus misturados indígenas só para dar um exemplo. E muita história, muito passado por contar das místicas civilizações que por ali passaram.


Embora tenha gostado do livro, acredito que a obra teria ficado a ganhar se a autora tivesse dado um pouco mais de si e do modo como estava a sentir toda a experiência. Porque descreve as paisagens, as pessoas e conta-nos as tradições daqueles povos... Mas centra-se, talvez, essencialmente e sobretudo nos outros. E, por vezes, esquece-se de falar de si (ou talvez o faça de forma intencional). Fá-lo em alguns momentos, é certo. No entanto, penso que poderia tê-lo feito mais, enriquecendo a obra e, consequentemente, deixando os seus leitores a ganhar.

À parte disso, é uma escritora cuja escrita promete. Note-se que este foi apenas o seu primeiro livro...!

https://www.goodreads.com/review/show/1124211852?book_show_action=false

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Kafka à Beira-Mar, de Haruki Murakami




"Kafka à Beira-Mar" de Haruki Murakami
Casa das Letras, 2014
589 Páginas


Imprevisivel. Misterioso. Troca-nos as voltas. Profundo.

Esta é a primeira vez que leio um livro de Haruki Murakami e devo dizer que o recomendo e muito. São 589 páginas que não têm o peso de 589 páginas. O livro lê-se com uma leveza e ao mesmo tempo profundidade curiosas.

Assim, e constituido por três histórias diferentes, o livro "Kafka à Beira-Mar" tem duas (destas três) histórias que se cruzarão a dada altura na história e que se encaixarão de uma forma perfeitamente lógica. E quase mágica. Também mágica é a forma como Haruki Murakami aborda a Liberdade e o Destino, a Vida e a Morte, fazendo-o de uma forma que nos leva a "mergulhar" suavemente nestes temas (nem sempre simples e consensuais) e sem medos...

Finalmente, de sublinhar também é a forma natural com que este autor japonês recorre a muitos elementos culturais (literários e musicais) da cultura dita de ocidental. Simplesmente fantástico! O que torna este livro ainda mais rico!

*
"Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestadepersegue-te, seguindo o teu encalço. Isto acontece uma vez e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo que está "dentro" de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar natempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra".


https://www.goodreads.com/review/show/1071591868?book_show_action=false

terça-feira, 26 de agosto de 2014

O Último Ano em Luanda, de Tiago Rebelo


"O Último Ano em Luanda", de Tiago Rebelo
Editorial Presença, 2008
480 Páginas


"O Último Ano em Luanda" conta, apoiado em bibliografia de referência, uma história que poderia ser a história de qualquer um dos portugueses que, na sequência do 25 de Abril de 1974 e declarada a independência de Angola a 11 de Novembro de 1975, tiveram de abandonar tudo em Angola e regressar sem nada (ou quase nada) para Portugal. 


A escrita de Tiago Rebelo, cuja qualidade desconhecia, embora já tivesse ouvido falar muito bem, surpreende positivamente o leitor. Tiago Rebelo capta com técnica e mestria a atenção do leitor que, em vários momentos, se vê no dilema de parar a leitura e ir fazer o que tem de fazer e/ou continuar a leitura e deixar tudo para fazer depois. E isto acontece tanto pela história como pela própria escrita do texto. 

Recomendável... Muito!

*
https://www.goodreads.com/review/show/1036217059?book_show_action=false