terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Deutschland. Ein Wintermärchen, de Heinrich Heine

"Deutschland. Ein Wintermärchen" de Heinrich Heine
Insel Verlag, 2015
130 Páginas



Se tivesse de encontrar uma palavra apenas para "Deutschland. Ein Wintermärchen" de Heinrich Heine, escolheria satírico...!

Sob a forma de poema, Heine conta a sua viagem de regresso a Hamburg, em 1843, para ir visitar a mãe depois de 13 anos passados a viver em Paris. Pelo caminho, vai falando numa futura unidade da Alemanha, começada com a Zollverein sob direcção do Estado da Prússia, bem como em alguns dos simbolos que estarão na base daquilo que significará "ser alemão". Uma parte, para mim, particularmente engraçada é quando o autor salienta o facto dos franceses andarem a estudar os autores alemães como Kant, Fichte e Hegel, tendo deixado de lado Voltaire.

Gostei. 

https://www.goodreads.com/review/show/2629675410

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Olga, de Bernhard Schlink


"Olga" de Bernhard Schlink
Diogenes Verlag, 2018
331 Páginas


A história de Olga é a história de muitas mulheres alemãs cuja vida atravessou a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais. É a história de uma vida interrompida pelo desaparecimento e pela perda de alguém que se ama. É a história de uma vida em que a ausência está sempre presente... até ao fim dos dias. 

"Olga" acompanha a história da Alemanha desde pouco antes da corrida pela posse de colónias em África até ao pós Segunda Guerra Mundial. É a história da ambição desmedida do país, disposto a querer sempre mais para ser maior, independentemente das perdas e dos custos virem a ser muito superiores do que os potenciais ganhos...

Schlink retrata igualmente a evolução da mulher na sociedade alemã, sobretudo quando esta vem de origens mais humildes e pretende estudar, o mais possível, num tempo em que isso não era comum. Sem querer entrar em mais detalhes, diria que "Olga" consegue cativar o leitor desde as primeiras páginas, não sendo possível largá-lo antes do fim. 

A escrita é simples, clara e fluida. Há momentos em que também é intensa e emotiva. E o livro está dividido em três partes que dão dinâmica à narrativa: uma primeira em que o narrador conta a história de Olga e Herbert, uma segunda em que Ferdinand fala de si e de como conheceu Olga, e uma terceira constituida pelas cartas de Olga para Herbert. 

Apesar deste romance ainda não estar traduzido para muitos idiomas, penso que seria uma boa aposta investir na sua tradução e divulgação, mesmo como forma de compreensão do que foi e do que é a Alemanha. Além do que o livro é muito bonito. Muito bonito mesmo. E quando se chega ao fim... ficamos... pensativos e sem grandes palavras durante um bom bocado...! Grande livro, Herr Schlink. Mais um grande livro!


https://www.goodreads.com/review/show/2616144732

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Adeus a Berlim, de Christopher Isherwood


"Adeus a Berlim" de Christopher Isherwood
Quetzal, 2011
262 Páginas


Custa-me sempre dizer que não gosto de um livro... Temo sempre ser injusta com o livro, com a história ou histórias, com o autor (ainda que eu não conheça pessoalmente este última e, na maioria das vezes, nem venha a conhecer). 

A verdade é que eu não consegui gostar de "Adeus a Berlim". A dada altura com este livro só consegui sentir uma irritação imensa, capaz de me provocar a vontade de o atirar contra uma parede ou contra algo que pudesse quebrar-se em mil pedacinhos. E o pior disso tudo foi a sensação de culpa que se instalou em mim por não conseguir "aderir" ao estilo de escrita e à história em si mesma. 

Pensei estar diante de um livro uno e não de um conjunto de histórias que o autor vai contando acerca da sua passagem por Berlim entre meados dos anos 20-30, nas quais não encontrei um fio condutor que me conseguisse cativar a atenção. Ler sobre a Alemanha neste período, nos seguintes e nos anteriores, não é propriamente uma estreia para mim porque tenho trabalhado nisso com dedicação há vários anos  (é um dos meus temas de eleição desde criança) e talvez também por isso não me senti convencida. Lamento. Não gostei de todo. 

https://www.goodreads.com/review/show/2612109343

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Já então a raposa era o caçador, de Herta Müller


"Já então a raposa era o caçador" de Herta Müller
Publicações Dom Quixote, 2012
239 Páginas



Herta Müller escreve num estilo muito próprio... Joga com as palavras numa espécie de prosa poética enigmática que chega a deixar-nos em suspenso, meio surpreendidos com o modo como arquitecta o texto e apresenta a história e critica a polícia secreta romena nos últimos dias do regime de Ceausescu. 

Porém, e ao mesmo tempo, as suas páginas deixam-nos, muitas vezes, um travo amargo na boca, que prende a língua e quase nos sufoca... E magoa. Nos dias menos soalheiros, a sua escrita pode deixar-nos ainda mais cinzentos e melancólicos, mais metidos coma tristeza e menos crentes na esperança e no sonho.

Se me perguntarem se gosto de Müller, direi que gosto da sua forma original de escrever (vi um documentário em que ela explicava que cortava palavras de revistas e jornais e depois sentava-se a compor frases e daí uma história enquanto colava essas mesmas palavras em folhas brancas), mas deve ser lida com moderação... Porque deixa sempre uma sensação de dor e perplexidade que estão longe de ser agradáveis, talvez culpa do contexto e da realidade a partir de onde ela escreve e que certamente lhe terão moldado a forma de ver e sentir o mundo e as pessoas.

https://www.goodreads.com/review/show/2598372507

domingo, 18 de novembro de 2018

Narciso e Goldmund, de Hermann Hesse

"Narciso e Goldmund" de Hermann Hesse
Publicações Dom Quixote, 2016
356 Páginas


Este livro foi construido em torno de uma temática que muito me fascina e que se relaciona com a oposição passível de existir entre o pensamento e a acção, a teoria e a prática, as ideias e as emoções. Narciso é o pensamento, a teoria e as ideias, sendo que Goldmund [à letra, a boca de ouro] é a acção, a prática, as emoções. Sem querer revelar grandes detalhes acerca da história, Goldmund é desafiado por Narciso a partir em busca da concretização dessa sua natureza especial... Dessa sua natureza que é muito mais vida do que aquela que se mantém fechado e enclausurado num mundo à parte!

"Narciso e Goldmund" é filosófico que baste, sem ser maçudo. E a dada altura é uma viagem de descoberta de Goldmund que, deixando para trás o mundo da abstracção, decide abraçar a montanha russa que pode ser o mundo das emoções... e a própria arte, vivida depois de experimentada a realidade sentida. 

Confusos? Pois... É que a verdade é que a realidade, sendo nós seres pensantes e seres com emoções em simultâneo, nunca pode ser algo puramente objectivo. Ainda que, de certa forma, Hesse tente separar, em certa medida, o mundo das ideias do mundo das emoções. Quem me dera a mim que fosse "tão simples", tão preto no branco separar uma coisa da outra... Porque vivo com frequência num conflito entre os dois mundos no meu próprio mundo e certamente não serei a única...!

Mas... Adorei o livro não só quanto à escrita, bastante agradável e com passagens muito bonitas, como também quanto à própria temática. Continuo fã da obra de Hesse! Está definitivamente entre os meus autores alemães preferidos!

https://www.goodreads.com/review/show/2578339084

sábado, 27 de outubro de 2018

Pátria, de Fernando Aramburu


"Pátria" de Fernando Aramburu
 Publicações Dom Quixote, 2018
719 Páginas

Duas familias que se afastam porque uma é a da vítima e a outra a do terrorista da ETA. Uma familia que não aceita a perda e não quer desculpar. A outra que lida no seu interior de forma diferente e não consensual com o facto de ter um terrorista/defensor da independência do País Basco. 

O autor acompanha a evolução de cada um dos membros destas familias durante um período de tempo considerável o bastante para tirarmos as nossas próprias conclusões acerca do poder transformador (às vezes até destruidor) que a violência ("contra o poder instalado") tem na vida diária do comum dos mortais... Ao mesmo tempo, leva-nos a reflectir acerca da vulnerabilidade que a rotina pode acarretar para o ser humano, sobretudo quando se vive num ambiente facilmente "inflamável" de fervoroso nacionalismo. 

No meu entender, o facto do autor viver há vários anos fora de Espanha e do País Basco pode conferir-lhe maior liberdade na forma como aborda a questão independentista basca e a actuação da própria ETA. Por outro lado, isso não impede a eventual existência de uma posição que ele tenha sobre este mesmo problema e que aqui se encontre, de algum modo, reflectida; diria que isso acaba por ser inevitável, mas não entendo que tal domine a obra; antes pelo contrário... Até porque aqui encontramos os dois lados: o da vítima e o do "agressor".

Gostaria também de destacar que esta obra, tão amplamente publicitada no inicio do ano em Portugal, constitui um interessante e excelente retrato de uma realidade muito próxima de nós e, diria que, em alguns casos muito familiar..! Não será certamente à toa que a obra foi premiada com o Prémio Nacional de Narrativa, o Prémio Nacional da Crítica e o Prémio Euskadi de Literatura.

https://www.goodreads.com/review/show/2447685529

domingo, 30 de setembro de 2018

Ausgerechnet Deutschland. Geschichten unserer neuen Nachbarn, de Wladimir Kaminer

"Ausgerechnet Deutschland. Geschichten unserer neuen Nachbarn" de Wladimir Kaminer
Goldmann, 2018
236 Páginas


"Ausgerechnet Deutschland. Geschichten unserer neuen Nachbarn" pode traduzir-se como "A Alemanha tal como é: histórias dos nossos novos vizinhos" e trata-se de um livro de crónicas da autoria de Wladimir Kaminer, um escritor russo vindo de Moscovo a viver na Alemanha desde os anos noventa. 

O livro aborda sobretudo o modo como os alemães têm recebido os sírios (que perguntam, assim que chegam a terra, qual a melhor parte da Europa porque é para aí que querem ir) e como tem sido a adaptação de uns aos outros, dadas as diferenças culturais - substanciais - existentes entre estes. Desenganem-se, contudo, se pensam que este livro se limita apenas a sírios e a alemães porque, sendo russo, o autor acaba por falar igualmente da relação entre russos e alemães e entre russos e sírios. 

Destaco, por exemplo, uma crónica na qual Kaminer conta que se sentiu mais alemão quando, a caminho da Alemanha, comprou uma cerveja e estava com ela na mão, bebericando-a tal e qual como um alemão... Num sinal de (desejo de) integração. Ou outra crónica em que ele discute com um cabeleireiro sírio o porquê dele ter barba; o sírio responde-lhe que a barba é o seu passado, experiência e sentido de orientação (ao mesmo tempo que critica os ocidentais por tirarem a barba e, deste modo, viverem num mundo "desarranjado"), pelo que não a pode tirar, mantendo-a desde criança.

Gostei do livro, escrito com um certo humor, mas foi sobretudo a temática que mais me fascinou!

https://www.goodreads.com/review/show/2456899423