Vencedor do International Booker Prize 2024, "Kairos" foca-se essencialmente na relação entre Hans e Katharina, uma relação poder e submissão entre um homem mais velho, casado, e uma jovem cheia de ilusões.
"Kairos" é uma leitura algo pesada, por vezes indigesta, sobretudo quando nos focamos na relação entre os dois e, na forma, com que, no decorrer da narrativa, Katharina se começa a desvalorizar e a esvaziar da sua identidade.
Porém, a meu ver, Jenny Erpenbeck usa esta relação entre Hans e Katharina para nos expôr a dança de opostos e contradições da Alemanha pós Guerra. E, portanto, seguindo esta lógica de ideias, Hans representa a Alemanha "velha" saída do Nacional-Socialismo para a ocupação soviética, focada no poder e no controlo, enquanto que Katharina representa a Alemanha enclausurada no muro e prestes a conhecer a Liberdade, o outro lado, o do Ocidente, que é um mundo... a colocar em causa... o que se tem "em casa", mas ao mesmo tempo submissa e perdida de si própria.
Katharina é a Alemanha mais recente, a Alemanha à procura de uma identidade, a Alemanha que saída da Guerra, ocupada e dividida, e depois reunificada "não sabe bem" onde se encontra no mundo... que lugar ocupar.
Daí Erpenbeck apresentar a relação de Hans e Katharina sempre sem qualquer crítica. Porque, na verdade, a genialidade de "Kairos" está nesta visão, nesta perspectiva, das duas Alemanhas em confronto, representadas por Hans e Katharina, neste "momento oportuno". E isto está particularmente bem conseguido na minha visão!
https://www.goodreads.com/review/show/7752673858
Sem comentários:
Enviar um comentário