"Die Entdeckung der Currywurst" de Uwe Timm
DTV, 2018
187 Páginas
Não se deixem enganar pelo título porque, na verdade, esta novela tem pouco de "Die Entdeckung der Currywurst" [A Descoberta do Currywurst]. Se isso é mau? Não, mas Uwe Timm troca-nos as voltas apresentando-nos uma história essencialmente focada na cidade de Hamburgo durante a Segunda Guerra Mundial e na vida de Lena Brücker, a mulher a quem atribui a descoberta deste "prato", durante esse mesmo período.
A história é interessante porque permite visitar e (re)visitar o horror do bombardeamento a esta cidade - sobre o qual li recentemente em "História Natural da Destruição" de W.G.Sebald -, e o modo silencioso e recalcado como os alemães reagiram ao mesmo, bem como aborda a fragilidade das relações humanas em tempo de Guerra. E no que respeita à fragilidade das relações humanas refiro-me à questão da traição cometida por alguém que fiel aos seus ideais nacional-socialistas denuncia os vizinhos e os "amigos" quando sente, de algum modo, que estes se encontram a "pisar o risco". Refiro-me, de igual modo, àqueles que ao serviço (caso de um militar) desses mesmos ideais decidem abandonar o barco e partir em retirada, fugindo e escondendo-se até que a poeira assente. Refiro-me ainda àquelas situações em que as mulheres comprometidas se acabavam por envolver com outros homens na ausência daquele que amavam e perante a incerteza do seu regresso com vida a casa. Até que ponto cada uma destas situações é na prática uma traição? Até que ponto em que a lealdade a si próprios e aos outros é colocada em causa? Uwe Timm leva-nos a pensar nisto e no modo como a Guerra consegue volver e revolver tudo.
O livro não é de leitura fácil, sobretudo porque surgem palavras abreviadas próprias do alemão falado e nem sempre conhecidas por aqueles que não são nativos nesta mesma língua. Este foi o grande desafio com que me deparei ao longo das suas páginas, mas a experiência acabou por ser positiva; consegui aprender outras coisas e isso vale sempre a pena.
Relativamente ao Currywurst, não fiquei a saber muito, muito mais daquilo que já sabia. Não há consenso quanto à identidade de quem o terá produzido pela primeira vez. Da minha parte, tenho a certeza de que a primeira vez que provei este prato de "fast-food" alemão foi em Berlim, há uns 9 anos atrás. Primeiro olhei com desconfiança, e estranheza, mas depois de provar prometi a mim mesma que voltaria outra vez à cidade e que quando o fizesse voltaria a comer aquilo. E eu não sou propriamente fã daqueles molhos... que não como habitualmente, mas comer Currywurst significa saborear um pouco da cultura alemã e "experimentar" Berlim.