"A Peregrinação do Rapaz Sem Cor" de Haruki Murakami
Casa das Letras, 2014
362 Páginas
"A Peregrinação do Rapaz Sem Cor" relata a viagem que Tsukuru Tazaki, com 36 anos, faz de regresso às suas amizades de adolescência e, sobretudo, ao modo como estas terminaram. Algo que sempre o perturbou e que em certo sentido lhe aprisionou a existência.
Introvertido e solitário, Tsukuru conseguiu fazer da paixão que tinha, por se sentar nas estações de comboios e ficar a vê-los passar, a sua profissão, tendo-se tornado num engenheiro especialista na projecção e remodelação de estações.
A história que Murakami nos traz desta vez é, em boa medida, kafkiana. Sentem-se ecos de Kafka volta e meia, sem que se note um esforço excessivo da parte do autor nesse sentido. É algo natural e é-o de tal forma que o leitor se conhecer "A Metamorfose" de Kafka experimentará uma sensação interessante de familiaridade, mas com contornos diferentes. Aqui temos mais cor, mais cores, e mais vida. E assistimos a uma metamorfose da personagem de Tsukuru, cujo objectivo será levá-lo a libertar-se de um passado que deixou de compreender e com reflexos no presente e a entender melhor o mundo que o rodeia.
Recomendo a obra não só aos fãs de Kafka e aos de Murakami, como também a todos aqueles que não são fãs de Kafka, ou ainda àqueles que nunca leram nem Kafka nem o próprio Murakami. É uma leitura que vale a pena!
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"As pessoas aproximavam-se dele, mas depois, no fim, acabavam sempre por partir. Vinham ter com ele à procura de alguma coisa e, ou porque se mostravam incapazes de encontrar o que pretendiam, ou por ficarem desencantadas com o que encontravam, davam-se por vencidas e desapareciam. Um dia, subitamente, volatilizavam-se. Sem uma palavra de despedida, sem grandes explicações. Como se um machado afiado cortasse de um só golpe os vínculos que os uniam, pelos quais ainda continuava a correr o sangue quente que fazia palpitar as veias. " [Murakami, 2014, p. 125]
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